quarta-feira, 19 de outubro de 2005

QUARTA


GREVISTAS FAZEM REFÉNS NA UFSC

A coisa está ficando cada vez melhor. Ontem um bando de estudantes “grevistas” prendeu o Conselho Universitário no auditório da UFSC por quase seis horas. O Reitor Lúcio Botelho, que está com a mão na testa, na foto acima, deve estar pensando por que não foi pra China.

Os, vá lá, “manifestantes” aproveitaram para dar as costumeiras demonstrações de boa educação, usando os bens públicos como se fossem de seu uso particular. Vejam, na foto menor, como o estudante reforça seus argumentos em defesa dos R$ 30,00 apoiando o pé delicadamente sobre a mesa.

A Polícia Federal teve que parar o que estava fazendo e ir ao campus, pra colocar ordem na casa. Às cinco da tarde, os reféns foram liberados.

Por mais que a gente queira um uma universidade pública de qualidade, não tem como concordar com ações com esse nível de violência. Deixar pessoas em cárcere privado, mantendo-as como reféns até que suas exigências sejam atendidas não é prática que possa ser tolerada. Em nenhuma circunstância.

O Reitor afirma que não haverá retaliação, mas eu acho que deixar passar em branco ações violentas não é prática saudável para a construção de uma convivência civilizada e de mútuo respeito.

Mas, ao que parece, a lei só existe pra gente, que vive aqui fora, no mundo real. Lá no campus vale tudo. E nada acontece.

Tudo em nome da “democracia” e das “liberdades públicas”. Que estão entre aspas porque já está mais que demonstrado que para os grupos hegemônicos da universidade, a tolerância e a convivência de várias correntes de opinião (características básicas da liberdade) são coisas sem importância, dispensáveis ou mesmo prejudiciais.

Claro, o discurso é um e a prática é outra. Nos discursos se abomina a violência, na prática fazem reféns. No discurso pedem diálogo, na prática tiram a liberdade. E o medo, instrumento acessório do terror, faz calar as vozes discordantes e afasta o bom senso.

PRIMAVERA DA “AUTO-ESTIMA”
O secretário do Continente acha que os florianopolitanos que não moram na Ilha estão com o moral meio baixo. Aí, está agitando uma porção de festas e atividades para “resgatar a auto-estima” dos tripeiros, seja lá o que isso represente.

O festerê começa assim que o prefeito nº 1 chegar, dia 22, vai até o dia 30 e terá uma programação variada, para todos os gostos. Dei uma olhada na programação (que está em www.pmf.sc.gov.br) e não consegui ver onde é que entra a melhoria da auto-estima.

No dia do show de bandas de garagem se recomenda ao pessoal do Continente que venha para a Ilha, pelo menos até que eles aprendam a tocar ou baixem o som.

TEM QUE SER TODO DIA

Fora de brincadeira, não me parece que o tal festival seja nada além do que a Prefeitura deveria fazer o tempo todo: providenciar lazer, animação cultural e uso recreativo dos espaços públicos. Assim como foi anunciado, dá impressão que é uma coisa que vai acontecer agora e depois só no ano que vem. Se é pra melhorar a auto-estima de quem paga impostos, tem que tratar bem o ano todo.

E embora os políticos não acreditem, o melhor caminho para o coração do eleitor é trabalhar direito, sem se preocupar em transformar tudo em jogada de marketing.

ESTRANHO NO NINHO
A Assembléia Legislativa fez Sessão Solene, na noite da segunda-feira, para homenagear os professores. Foi entregue a Medalha de Mérito Castorina Lobo de São Thiago a 40 personalidades, entre as quais o Reitor da UFSC (que ontem seria submetido a cárcere privado e maus tratos: o local onde deixaram o povo preso não tinha banheiro, o que, em si, já configura tortura, condenada pela Convenção de Genebra).

Uma bela solenidade, tudo muito justo e merecido. O Presidente da Assembléia em exercício, Herneus de Nadal, esperto como o quê, não foi a Brasília, não levou bolo do Ministro e presidiu a Sessão todo sorrisos.

Também estava lá o ex-governador Paulo Afonso, com esse jeitão aí da foto. Não devia estar muito confortável, porque a presença majoritária era de professores estaduais, que certamente ainda não esqueceram os três angustiosos meses que ficaram sem receber salário, no final do governo dele.

NÓS E OS NOSSOS MONUMENTOS
A Prefeitura está querendo substituir os parelelepípedos da centenária ladeira do Hospital de Caridade por asfalto. A “melhoria” faz parte da instalação de uma rótula nova, na Avenida Mauro Ramos, acesso ao Hospital.

Assim como fizemos com o centro antigo (e histórico) da cidade, vamos destruir, pouco a pouco, os demais monumentos. Alguém deveria ter se dado conta (há algumas décadas), que tal como em tantos lugares do mundo, é preciso fazer uma cidade nova, em outro lugar, para poder preservar os tesouros arquitetônicos.

DEMOLIÇÃO CULTURAL
Mas agora não tem mais jeito. A imprevidência pública fez com que a cidade fosse crescendo à medida em que as coisas antigas eram derrubadas ou irremediavelmente alteradas.

O Hospital de Caridade, há muito, deveria ter sido transformado em museu, em sala de concerto, em qualquer outra coisa. Um hospital novo e maior deveria ter sido construído para substituí-lo. Mas não, fizeram tantos puxadinhos no velho prédio histórico, que discutir hoje se mantém ou não os paralelepípedos parece até uma coisa irrelevante.

Cidade do já teve, Florianópolis não consegue dar valor ao que realmente é valioso.


O prefeito de Florianópolis (em exercício), entregou ontem na Polícia Federal uma intimação dando 48 horas para que a carceragem (onde está o Fernandinho Beira Mar) seja desativada. Alega que o Plano Diretor não permite o funcionamento de cadeias naquela área, reservada a prédios públicos. Argumento complicado, se levarmos em conta que a menos de um quilômetro dali funcionam a Penitenciária do Estado e o presídio da cidade. E a Prefeitura, que aprovou o projeto e a construção do prédio da Polícia Federal, sabia perfeitamente o que ele continha.

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