sexta-feira, 6 de julho de 2007

Sexta

ALGUMAS FACES DA MOEDA VERDE QUE AINDA ESTAVAM OCULTAS
“Pegaram uma mão cheia,
levaram uma jamanta!”

Tudo o que está em itálico neste post faz parte do Inquérito Policial nº 2006.72.00.008647-0/SC e foi retirado do Auto Circunstanciado Complementar nº I elaborado pela Delegada de Polícia Federal Júlia Vergara da Silva. Selecionei, das mais de 40 páginas do Auto, alguns trechos que parecem mostrar o envolvimento do prefeito Dário Berger na já conhecida história de ajudar os amigos e prejudicar os inimigos em que se transformou a administração municipal de Florianópolis.

Da leitura dessas conversas sempre fica um gosto ruim na boca. Dá náusea. Tem-se a impressão que as guerras de gangues que vemos nos filmes e nos subúrbios violentos inspiraram essa gente. Tem uma turma que ajuda e achaca estes aqui e outra, que ajuda e achaca aqueles lá. Mas às vezes, como nas campanhas eleitorais, pode ocorrer que alguém se atravesse e gere um mal-estar. No fim, não se iludam, todos eles se acertam e acabam amigos, ou, pelo menos, cúmplices.

O ASSESSOR
Em 12-09-2006, Juarez Silveira mantém contato telefônico com Renato Joceli de Sousa, seu cunhado e Secretário Municipal de Urbanismo e Serviços Públicos, que passa o telefone a seu subordinado, Rubens Bazzo. O propósito de Juarez é saber a que título foi aprovado o projeto da Campo de Golf do Costão do Santinho. Bazzo diz que foi aprovado como Condomínio. Juarez Silveira diz que a Portobello está querendo montar um condomínio estilo de Alphaville em Celso Ramos, condomínio fechado. Juarez demonstra estar interessado em assessorar a Portobello, assim como atuou no caso do loteamento Jardim Rio Vermelho. Bazzo diz que conhece e que vai necessitar de projeto de lei especial. Juarez responde que fazem, sem problema, e pergunta a Bazzo se ele não quer lhe dar “uma mão nisso”. Bazzo diz que “não tem problema”, e Juarez sugere sentarem ele, Juarez e Lauro Santiago.

A VISITA

Em 19-09-2006, às 17:33:04; Juarez Silveira mantém contato com o empresário Fernando Marcondes de Mattos. (...) Marcondes pergunta “aonde é que tu estás?’” Juarez: “Eu tô com o prefeito e o Marcílio, vindo da Lagoa”. Acrescenta: “’Tamo aqui na beiramar”. Fernando Marcondes indaga a Juarez aonde que ele vai agora. Juarez, demonstrando clara subserviência responde: “Agora eu vou... onde que tu queres”. Marcondes sugere: “Ah, eu tô aqui no meu apartamento. Na cidade.” Em seguida, Juarez pergunta se quer que ele passe lá. Marcondes: “então passa aqui, aí fica perfeito.” Juarez responde: “tá bom. Tamo indo aí falar contigo.”

As 17:42:33 do mesmo dia, Juarez Silveira fala com Dona Iolanda, esposa de Fernando Marcondes, informando-a: “Eu estou aqui na sua casa!” Iolanda disse que Marcondes lhe teria relatado que iria para casa tentar falar com Juarez”. Juarez responde: “Tô aqui com a Excel... com o... chefe da... da cidade.” Iolanda responde: “Bom, esse então eu não conheço”. Ao que ele revela: “Nosso prefeito”. Ela pergunta, então; se Dário está lá. Juarez responde: “É, é. Tamo aqui.” Ela responde agradecendo bênção divina: “Ô, Graças a Deus.” Ao final, Juarez pergunta: “Tá bom?” Iolanda responde que “Está ótimo!”

DATA: 20-09-2006 HORA: 18:37:26
JUAREZ: O Rodolfo está fazendo o Marcondes de gato e sapato, naquele negócio lá de coisa! Puta que pariu.
RENATO (Joceli): Não, ele falou pra mim. Puta, nem falei... O Rodolfo... O Rodolfo! O Marcondes me ligou de manhã e disse que ligaria à tarde pra me dar o número do processo. (...)
JUAREZ: Eu liguei. Eu liguei. Eu liguei de manhã, Eu liguei pro Rodolfo de manhã com o Marcondes, porque nós passamos a tarde com ele, eu e o Dário.
RENATO: Ele falou, ele falou!
JUAREZ: Quem que falou?
RENATO: O Marcondes. O Marcondes falou!
JUAREZ: Ahnm!
RENATO: Que vocês estiveram lá!
JUAREZ: Na casa dele, entendesse?
RENATO: Ele falou!
JUAREZ: Então, precisava resolver essa pendência, porra. Entendesse? Então amanhã tu pega...
RENATO: Eu vou até ligar pro Rodolfo agora, o Rodolfo tá já ainda!
JUAREZ: E, manda ver isso ai, porque, porra
RENATO: Ele sabia, ele falou que tava em área de preservação ou alguma coisa assim!
JUAREZ: Não, não tava. Tá , tchau!
A TURMA DO “TÁ BOM”
DATA: 27-09-2006 HORA: 14:06:37
JUAREZ: Doutor Marcondes, Juarez, tudo bom?
MARCONDES: Tudo.
JUAREZ: Tudo bom!
MARCONDES: Umas duas horas eu te dou uma posição clara!
JUAREZ: Tá! Ele vai, ele disse, ele mandou eu dizer uma coisa pra ti tá? Que ele vai te ajudar em tudo que for... Mas eu quero que tu faça, que tu venha comigo e entrega na mão dele, tá?
MARCONDES: Tá bom!
JUAREZ: Tá bom?
MARCONDES: Tá bom!
JUAREZ: E ele vai resolver tudo pra ti!
MARCONDES: Esse, esse... essa última ai tá dentro... esses cem está dentro daqueles cento e cinqüenta, né?
JUAREZ: É
MARCONDES: Tá bom!
JUAREZ: Tá bom!
MARCONDES: Tá bom.
JUAREZ: Aí depois eu pego os outros contigo, tá?
MARCONDES: Tã bom!
JUAREZ: Tá bom. Tá, tchau!

Foto de um trecho do documento, onde se podem ver
os destaques feitos pela delegada


LEVARAM TUDO!
Às 13:48:11, Juarez Silveira liga para José Nilton Alexandre, o Juquinha, secretário da extrema confiança do prefeito Dário Berger, apregoando que “fui lá no norte da ilha, naquele nosso amigo grande lá” e que Adir e Dilmo, respectivamente, Diretor de Finanças da campanha eleitoral de Djalma Berger, irmão de Dário, e Dilmo Berger, também um dos irmãos Berger, teriam passado lá e “pegaram uma mão cheia”, “levaram uma Ferrari”, “levaram uma jamanta”. Na mesma ligação, Juquinha pergunta se saiu o habite-se do Shopping Florianópolis, Juarez diz que sim, pois “eles ajudaram o Djalma, né?” Juarez se indigna e diz que vai se afastar disso, pois “não sou garoto de ir num lugar e...e.. os outros vem na frente. Eu tô fora.” Juarez argumenta, demonstrando seu comprometimento na solicitação feita que resultou no apanhado da tal “mão cheia” que menciona:
“Ah.. a gente combina uma coisa a gente fala. Aí vêm os caras aqui de manhã cedo.” Juarez repete: “levaram uma Mercedes completa”, “uma ML e mais uma C, uma C200.” Finaliza pedindo a Juquinha: “Não, só tenta saber se o... se o nosso amigo sabe, tá?” Juquinha responde que vai ver com ele depois e termina a ligação.

Em 31-10-2006, às 16:12:28, Juarez Silveira fala com Aurélio Remor:
JUAREZ: Não, eu só fiquei magoado, ô Aurélio Remor, por que o seguinte: porra, eu botei o Dário, eu boto o Dário com o Luiz Henrique, porra, boto o Dário lá em cima, defendo o governo o tempo inteiro. E ele pega o Marcílio, o Marcílio porque queria o habite-se e estava devendo o tratamento de esgoto do Amastha, que vão inaugurar dia 9. Então ele fica agradando, e agradando o Dário, e contando estória não real. E o Dário tem que passar a mão no telefone e falar: Doutor Jaime, verifica com o Augusto. Verifica, o fulano, verifica. Entendeu? Não. Daí ele resolve ficar de mal! De mal! Ah, pára, porra, montei aquele comitê, dei um Ômega ora ele fazer campanha. Arrumei, aquele nosso amigo lá, ô. Aquele nosso amigo lá do sul da ilha, do norte da ilha, aquele que fomos só eu e tu uma vez, o cara deu meio, meio... milhão pra... porra, tudo, tudo. Ainda me ligou pra saber. Olha, eu vou dar, mas tu é responsável, hein!? Entendeu, então assim, ó. Foi ele e foi aquele outro que fez aquela besteira toda. O irmão e o outro buscar. Entendeu? Tudo eu faço pra eles. Agora, pelo menos, passa a mão no telefone e pergunta.” (...)

Ressalte-se que, em consulta ao site do Tribunal Regional Eleitoral de Santa Catarina, pode-se apurar que não há registro de doação de empresa da qual Fernando Marcondes de Mattos seja sócio para o candidato Djalma Vando Berger. Consta apenas uma doação, feita para Luiz Henrique da Silveira.

Percebe-se que Juarez Silveira é intimamente ligado a Marcondes de Mattos e percorre os meandros da Administração defendendo direitos seus, seja cercando o fisco para minorar a cobrança de impostos, propondo leis direcionadas para favorecê-lo, ou utilizando-se de seu cargo para negociar terrenos e promover desaprop,.iações de terras que beneficiem aquele que chama de “seu chefe”. Pode-se depreender dos diálogos que Juarez Silveira solicitou, em troca de seus préstimos ao empresário, vantagem financeira para ajudar a campanha do irmão do prefeito a Deputado Federal. No diálogo, Juarez trata a percepção de R$ 100.000 reais, mas no dia 29-09-2006, após a efetivação da negociata, retifica a cotação do valor propalando a terceiros, por duas vezes, dizendo, primeiro; que o valor corresponde a uma Mercedes ML e uma C200, e depois que tal valor seria de “meio milhão”.
O ROMPIMENTO
Em 05-11-2006, Juarez Silveira fala novamente com Marcílio Ávila e os dois discutem sobre os nomes cotados para a composição da base do governo de Luiz Henrique. Juarez acrescenta seu ponto de vista dizendo que o cara que mais vai ter acesso a isso é o Fernando Marcondes de Mattos. Marcílio diz que gostaria de almoçar com Fernando esta semana. Juarez diz para deixar primeiro ele participar do comitê para a reforma do secretariado. Juarez diz que falou com Içuriti e Marcondes para participarem da coalizão, pois “Eu não sou bobo, né”, é melhor colocar pessoas que gostem deles, afinal. Marcílio concorda: “É claro, gosta da gente, é parceiro! Porra, nós temos que ajudar ele, né, Juarez!”

Em seguida repete: “Marcílio, o Fernando Marcondes de Mattos ele não gosta de Deputado Estadual, nem de Federal. Pra ele nada interessa. O negócio pra ele é Vereador dinâmico e honesto, com ele.” Marcílio concorda dizendo que é lógico, pois ele é inteligente, não é burro. Juarez .conta a Marcílio que a raiva do Dário Berger se dá pelo fato de que Marcondes “tinha tomado uns vinhos” e disse na cara do Dário que estava “sacaneando com ele” – pois há um ano de governo e não lhe atende –, que a sorte dele (Marcondes) é que ele tinha Juarez e Marcílio e que não precisava mais do Prefeito.
Pra encerrar: o pior é que esta é apenas uma gota d’água num oceano de corrupção.

Nota do editor: amanhã tem mais.

5 comentários:

Carlos Damião disse...

Cesar, estou pasmo. Abraço, Damião

Anônimo disse...

Cadeia para todos... Juarez, Marcondes, Içuriti, Dário e LHS.
Isto é uma quadrilha só.
Mas a RBS não põe isto no ar... a imprensa está comprada.

Parabéns pela ousadia.

Anônimo disse...

Evidente que a RBS está comprada. Mira em cima dos dois vereadores apenas p/ não se chegar no chefão. Apenas uma dúvida: No começo fala em Celso ramos. Como dois Vereadores de Floripa podem alterar Leis em Celso ramos?

Cesar Valente disse...

Ô pessoal, não batam muito na RBS: o que aconteceu, no caso deste dossiê, é que eu coloquei as mãos nele antes deles. Imagino que quando eles tiverem acesso, publicarão alguma coisa, como fizeram nos vazamentos anteriores (que pegaram primeiro). Neste aqui, fui primeirão! Egô! Tio Cesar não é fraco! hehehe

Anônimo disse...

Se fosse um país sério ele nem teria assumido. Depois de ter saido ileso do caso do palanque da PM ele achou que nada mais colava nele.
P.S. Anônimo por medo do que eles são capazes