quinta-feira, 19 de julho de 2007

Quinta

O prefeito de Florianópolis renovou por 20 anos o contrato com a Casan. A “capitulação” foi comemorada como se o Dário já estivesse no PMDB.
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MAIS UM REMENDO
Vejam só como são as coisas. Lembram que o presidente da Santur, às vésperas da cassação de seu mandato de vereador (que ocorreu dia 3 de julho), viajou para os Estados Unidos? Disse que foi a serviço, num compromisso inadiável (embora não previsto). E voltou reclamando que não teve como se defender porque tocaram-lhe o pé na bunda sem que ele estivesse presente. O juiz a quem o Marcilinho pediu arrego, levantou a suspeita que a viagem pudesse ter sido arranjada às pressas, só para criar um pretexto para pedir a anulação da cassação.

Pois bem, adivinha o que está no Diário Oficial do Estado que começou a circular anteontem (vergonhosamente com a data de 5 de julho)?

Um estranhíssimo e peculiar ato do Poder Executivo, assinado pelo governador interino Leonel Pavan, com uma autorização retroativa para que o Marcilinho se afaste do País!

COMO É QUE É?

Todo servidor público precisa, para sair do país a serviço, de uma autorização superior. No caso do servidor estadual, do governador. Conforme reza a lógica, autorização é dada antes do fato ocorrer. Se o cara sai do país antes de ser autorizado, está ilegal.

Pois o ex-presidente Marcilinho, que viajou às pressas dia 30 de junho, só foi “autorizado” a sair no ato (nº 1.424) assinado dia 5 de julho. Editado, portanto, dois dias depois da sessão que cassou-lhe o mandato e cinco dias depois dele ter deitado o cabelo rumo aos isteites.

Nem vou entrar (agora) na discussão do Diário Oficial ter circulado com 12 dias de atraso.

Mas não posso deixar de me espantar e admirar com os termos do tal ato. Nele, o governador Pavan não autoriza, como deveria e poderia, o afastamento do servidor. Ele apenas “considera autorizado”, o afastamento. E revela, ao usar o verbo no passado (“que participou de eventos nos Estados Unidos”), que é, de fato, posterior aos tais “eventos”.

CARA DE PAU
Tudo indica que se trata de uma peça de ficção administrativa, engendrada para dar aparência legal a uma fuga desesperada ou então, como suspeitou o juiz, muito bem premeditada. Só que, assim como o ex-diretor da Codesc foi ao Uruguai sem pedir ordem a ninguém (e depois teve que arrumar uma licença fajuta, alterando uma ata), o ex-presidente da Santur foi aos Estados Unidos sem ter recebido a necessária permissão (e seus amigos tiveram que inventar esta autorização retroativa).

E, para efeitos legais, o fato dele eventualmente ter trocado telefonemas com LHS e ter sido verbalmente autorizado (com um “vai, meu filho, te arranca que a gente segura as pontas por aqui”, ou qualquer outra frase de efeito semelhante), não conta. Vale o que está escrito, assinado, datado e publicado.

E por falar em assinar, a sorte do Pavan é que está todo mundo de olho no desastre de Congonhas, porque senão algum engraçadinho poderia inventar de incomodar sua Vice-Excelência. Afinal, ainda que o Marcilinho seja protegido do LHS, por coincidência (será?) era o Pavan que estava de plantão na hora de fazer a tal emenda, que acabou saindo pior que o soneto.

NAU SEM RUMO


(Os leitores do blog já conhecem o texto abaixo, publicado ontem aqui. Ele volta porque hoje eu o publiquei no jornal, com mínimas alterações. Se quiserem pular, em seguida tem coisa nova.)

Como esta semana estou editando o jornal, tenho fechado a coluna bem mais cedo que o habitual. Por isso não falei no desastre do avião da TAM, em Congonhas, que ocorreu no início da noite, na coluna de ontem.

Mesmo um dia depois, não posso deixar de, pelo menos, registrar o fato. E lamentar que faltem, em postos de responsabilidade “dessepaís”, homens e mulheres dignos de respeito. Temos vários, dignos de pena. Do presidente da Anac ao presidente da República, do presidente da Infraero ao presidente do Senado, passando por todos os subordinados, indicados por suas filiações partidárias, por suas filiações empresariais, pelo conhecimento que eventualmente tenham de segredos constrangedores dos que estão acima, ninguém demonstrou, desde o acidente com o avião da Gol, disposição séria e empenho conseqüente para evitar outros acidentes.

Neste, agora, colocarão a culpa no piloto que, falecido, não poderá se defender. Dirão que a pista estava perfeita e que ele arremeteu o avião por qualquer motivo que não as condições do aeroporto. Que foi uma fatalidade. Um acidente.

E quem não morreu, mas estava em Congonhas na hora, sofreu com a inabilidade da TAM para lidar com a crise, com o caos crônico da aviação, com a falta de respeito pelos cidadãos brasileiros. A polícia recomendava, à noite, que ninguém saísse do aeroporto, porque a falta de luz deixou a área mais perigosa que o habitual: assaltantes estariam se aproveitando da confusão para agir. E a TAM não conseguia remarcar passagens para quem ficou em terra, a não ser para depois de sexta-feira.

Poderá alguém dizer que isso não é nada perto da morte e do sofrimento das famílias e dos amigos das vítimas do acidente. Mas esse conjunto de fatos demonstra, exceto para os cegos que nos “governam”, que a nau está sem rumo. Estamos perdendo altitude rapidamente. E, ao que parece, estão tentando evitar o pior fazendo discursos e distribuindo culpas retóricas. No leme, nos remos, nos cabos das velas, sobre o mapa e o gps para tentar encontrar o rumo, ninguém. Ou, pelo menos, ninguém que saiba o que está fazendo.

Em breve, este novo “maior acidente da história da aviação” será apenas uma lembrança distante. Talvez seja usado na campanha eleitoral do ano que vem. Mas, além dos familiares, poucos cuidarão de ver se alguma coisa mudou, se alguma lição foi aprendida. Logo logo a imprensa muda de assunto, um novo foco de corrupção será revelado, e tudo volta ao “normal”. Para desespero daqueles que conseguem ver para onde estamos indo.

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“O que explodiu em Congonhas não foi não apenas o Airbus da TAM e suas quase 200 vítimas, mas a própria credibilidade do sistema aéreo brasileiro. Recompô-la exige, como premissa inadiável e inapelável, o afastamento imediato de todos aqueles que estão envolvidos na má gestão do espaço aéreo brasileiro. (...).

Não há outra palavra para designar a tragédia de Congonhas: vergonha!”
Cezar Britto, presidente da OAB

“Maior do que a tristeza, só a raiva de saber que assistimos, impotentes, a um assassinato premeditado. As vítimas foram, por acaso, os passageiros do vôo 3054; mas desde o acidente da Gol, ficou óbvio para todo mundo – menos, aparentemente, para as autoridades responsáveis – que novas tragédias estavam por acontecer. Um governo que dá prioridade às lojas e aos mármores dos aeroportos em detrimento da segurança, que permite a liberação de pistas inacabadas, que não consegue disciplinar controladores de vôo, que distribui cargos técnicos especializados a correligionários despreparados, não é apenas incompetente; é criminoso, mesmo.

Mas a culpa, vocês vão ver, vai ser do piloto.”
Cora Rónai, jornalista, O Globo, no blog InternETC

“A maior causa de mortalidade no setor aéreo brasileiro é um mal implacável chamado incompetência. A julgar pelo desnorteio do governo, trata-se de moléstia endêmica e incurável.(...) A menos que um milagre conduza à vacina, ninguém pode assegurar que o monturo de corpos não aumente.”
Josias de Souza, jornalista, Folha de S. Paulo, no seu blog

““Acidente”, segundo o dicionário Houaiss, possui a seguinte acepção: “acontecimento casual, fortuito, inesperado”. A tragédia ocorrida ontem à noite, portanto, não pode ser chamada de “acidente”. Não faltaram indícios prévios de que alguma nova desgraça envolvendo aviões poderia acontecer a qualquer momento.

Tarefa mais árdua do que o reconhecimento dos corpos será identificar, no jogo de empurra-empurra entre governo, Infraero, Aeronáutica, Anac e empresas aéreas, os irresponsáveis pela chacina de 17 de julho de 2007.”
Alexandre Inagaki, blog Pensar Enlouquece

“E agora, dona Marta Suplicy?
QUAL É O SEU CONSELHO?”
Ilton C. Dellandréa, blog Jus Sperniandi

3 comentários:

Anônimo disse...

Estimado Cesar e demais leitores...
o que mais me espanta e ver pessoas ligadas (direta ou indiretamente) ao PT e toda base aliada, estarem afirmando que a mídia está fazendo sensacionalismo em cima do fato do vôo da TAM (pode?). Quase duzentas pessoas morreram e "eles" acreditam em uma teoria conspiratória para desestabilizar o governo.
Definitivamente... é de causar náuseas tanta burrice (ou esperteza??).
Geff.

Anônimo disse...

César, sobre o ato publicado pelo governo da penca para beneficiar o Marcílio Ávila, não me admira. Partido que já teve coragem de falsificar ordem de serviço pra lançar no mercado as famigeradas letras, publicar uma autorização cafajeste como essa é o de menos. E que ninguém alegue que foi o Pavan, ou será que alguém acha que ele faria isso sem consultar o Rei Luiz XV?
Marcelo Santos

Anônimo disse...

César, veja o que o governo do Estado acaba de divulgar via secretaria de comunicação:

Fundação Catarinense de Cultura promove Mostra de Cinema Pânico

Florianópolis, 19/07/2007 15:05:42

Oito filmes independentes integram a programação da “Mostra Cinema Pânico”,
que começa neste sábado no Museu da Imagem e do Som (MIS), no Centro
Integrado da Cultura (CIC), em Florianópolis. O evento, promovido em
parceria pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC) e pelo Plasticine
Clube, deverá passar a ser apresentado mensalmente no MIS, abordando
sempre uma temática variada – já foram explorados o cinema português,
argentino, japonês e catarinense.



Tema desta edição, o Pânico foi um grupo fundado em Paris nos anos 1960
por Fernando Arrabal, Alejandro Jodorowsky e Roland Topor. Utilizava o
“humor negro” em criações teatrais, performaces e filmes, inspirados pelo
deus grego PAN e influenciados pelo cinema de Luiz Buñuel e pelo Teatro da
Crueldade de Antonin Artaud. Este movimento do caos foi descrito por seus
fundadores como um ato individual de revolução contra o surrealismo bem
comportado, e como uma crítica ao mundo moderno.


Na mostra, estão praticamente todos os filmes produzidos pelo grupo.
Segundo Renata Rogowski, uma das integrantes do Plasticine, algumas cópias
foram lançadas em DVD, e outras foram baixadas da internet. “A qualidade
das imagens é boa, e os filmes que não tinham legenda em português foram
legendados”, conta. O Plasticine é um cineclube de Florianópolis, que tem
como objetivos promover o pluralismo, a abertura e o diálogo com o cinema
em geral. Passeia por vários espaços da cidade, como bares, teatros e
universidades, propondo-se a exibir diversas formas cinematográficas,
priorizando filmes independentes, que estão fora do circuito comercial das
salas de cinema, o que estimulou a parceria com o MIS.


PERGUNTO EU:
1) Filmes lançados em DVD não são para consumo privado? Quem tiver a paciência de ler as letras miudinhas que antecedem o filme - naquela hora em que estamos terminando de preparar a pipoca e o refrigerante - verá que a exibição pública é vedada.

2) Filmes baixados da internet são, no meu modo de ver, piratas. Quer dizer que o Governo do Estado está promovendo uma mostra de cinema com cópias piratas? Bonito, não?

O governo está descentralizando os direitos autorais. Esta proposta consta do Plano 15?

Marcelo Santos