quinta-feira, 12 de julho de 2007

Quinta

TAINHA ASSADA DE GRAÇA
Entretido com as questões políticas e com os enroscos capitalinos, quase que ia deixando a semana acabar sem comentar um fato da maior importância e que está parcialmente na foto acima.

No sábado passado teve festa da tainha em Itajaí e eu fui lá ver. E, naturalmente, almoçar de graça. Quando ouvi falar que seriam servidas tainhas assadas e fritas completamente de graça para a população, imaginei que iria dar um rolo, que seria difícil comer, com muita fila e tumulto.

Mas qual não foi minha surpresa quando cheguei lá e vi que a festa estava animada, organizada e, acima e além de tudo, com tainhas deliciosas (hum, grelhadas, temperadinhas no ponto certo, espetáculo!) e cerveja bem gelada.

Claro, “de graça” é força de expressão: a prefeitura doou as tainhas para as barraquinhas prepararem e naturalmente deve ter pago alguma coisa, tanto pelo peixe quanto pela montagem e preparação da festa. Mas achei que, neste caso, o meu dinheiro (sim, já paguei algumas parcelas de IPTU em Itajaí) foi bem empregado. A cerveja não era de graça, mas também não se pode querer tudo, né?

O AZAR DO JOGO
O leitor Rafael Dagostin da Silva escreveu-me sobre a questão do jogo, apoiando a legalização e também a defesa que o governador faz. E aí dei-me conta que talvez não tenha ficado clara a minha posição a respeito do assunto. Porque eu vivo cobrando do Içuriti (presidente da Codesc) explicações sobre a posição do governo e posso ter passado a idéia que estou questionando a legalização do jogo.

O problema, neste caso específico, antecede à discussão sobre a legalização. Achei esquisito o governo ter usado recursos públicos para tentar reverter decisões federais e tentar legalizar, um tanto quanto na marra, o jogo.

Uma coisa é o governador defender, publicamente, que o jogo deve ser legalizado. Vários políticos catarinenses são a favor. Há inúmeros argumentos favoráveis e é uma discussão legítima que pode, ou não, resultar na liberação, com sua devida regulamentação.

Outra coisa é, antes da legalização e até contra as normas vigentes, tentar fazer a coisa funcionar, encontrando brechas e editando normas que fatalmente serão derrubadas mais adiante, movidos sabe-se lá por que interesses. E é sobre isto que tenho questionado o governo estadual.

O PIOR MOMENTO
E, a propósito de jogatina, aproveito para republicar um comentário que fiz na quinta-feira da semana passada:
O Brasil é, com certeza, um país que poderia se beneficiar desse tipo de atividade, que costuma atrair muitos turistas. O grande problema, portanto, não é legalizar ou não os cassinos: é o tipo de legalização que será feita num país cuja história recente tem mostrado um apetite monstruoso pela corrupção.

Há corruptores e corruptos em todas as áreas, não temos nenhuma perspectiva de reduzir a impunidade e o País está perplexo e paralisado. É a pior de todas as horas para defender a legalização da jogatina.
GUERRA INTERNA
Com esse título, o colunista Paulo Alceu informava, ontem, que há um certo desentendimento entre os procuradores da República e os procuradores estaduais no que diz respeito às investigações da operação Moeda Verde. Ele conta, no seu blog (www.pauloalceu.com.br), que os procuradores federais pediram ao juiz que não desse acesso ilimitado à documentação aos procuradores estaduais. Temem que os investigados acabem se beneficiando do fato de que sopa em que muitos mexem, acaba salgada demais.

A CORRUPÇÃO CRESCE

O portal de notícias do grupo Globo, o G1, informou ontem que um relatório do Banco Mundial (Bird) diz que o Brasil teve em 2006 o pior índice de controle de corrupção dos últimos dez anos. O índice é usado para medir o desempenho governamental de 212 países.

(para ler a notícia no G1, clique aqui)

O índice de corrupção “mede a extensão em que o poder público é usado para ganhos privados, incluindo pequenas e grandes formas de corrupção, assim como o ‘seqüestro’ do estado pelas elites e pelos interesses privados”.

Segundo o relatório, um bom governo é fundamental para outros resultados positivos, como um maior índice de desenvolvimento humano e a redução da mortalidade infantil, do analfabetismo e da desigualdade social.

“A carga de corrupção recai desproporcionalmente sobre milhões de pessoas que vivem na extrema pobreza”, declarou Daniel Kaufmann, co-autor do relatório e diretor dos Programas Mundiais do Instituto do Bird.

A EFICIÊNCIA CAI
Além de cair do índice 59,7% em 2000, para 47,1 em 2006 no controle da corrupção, o Bird descobriu que o Brasil também piorou nos índices que avaliam “a eficiência do governo, a qualidade dos marcos regulatórios e a força da lei”. Esta última, segundo o G1, “avalia o grau de confiabilidade da polícia e dos tribunais, assim como a probabilidade de cometerem delitos e atos de violência”. Neste caso, o indicador brasileiro caiu de 50, em 1996, para 41,4, em 2006: “o pior índice da história”.

O indicador que avalia a eficiência do governo – a qualidade dos serviços públicos, a independência do governo e a implementação de políticas – mostra que o Brasil vem caindo desde 2003. O índice passou de 60,7, naquele ano, para 52,1, em 2006.

Entre os países que melhoraram, estão alguns africanos, Chile, Uruguai e Costa Rica. Junto com o Brasil, descendo a ladeira, estão Venezuela e o Zimbábue.

Atualização: só depois de ter enviado a coluna para o jornal vi que a Controladoria Geral da União rebateu o relatório, chamando-o de “ridículo”.

Para ler a íntegra da nota da CGU, clique aqui.

OS CENSORES DA TI – “TI” é a tecnologia da informação e os censores a que me refiro são os técnicos encarregados de gerenciar as redes de dados das grandes organizações. Às vezes por iniciativa própria ou mesmo por “sugestão” de superiores com poucas luzes, resolvem “por ordem” na casa e restringem o acesso dos usuários corporativos a determinados sites. Começam bloqueando os sites de sexo. Depois vão ampliando. Bloqueiam sites que eles (com que critério?) julgam “fúteis”. Até chegar, inevitavelmente, aos blogues (geralmente hospedados em servidores como blogspot ou wordpress). O exemplo acima é de um bloqueio da Univali, mas poderia ser do governo do estado ou de várias empresas privadas. “Esquecem-se”, esses zelosos censores, que boa parte do que há de mais interessante e útil na internet está, justamente, nos blogs.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá Cesar, tudo bem?

Sou seu leitor assíduo e considero você um grande jornalista político de Santa Catarina. Muitos assuntos pouco divulgados em outros espaços jornalísticos têm em seu blog espaço para discussão. Parabéns.

Tomo a liberdade de tratar sobre o assunto “Os censores da TI" porque sou Analista de Informática e já vivenciei problemas como este.

Meu objetivo é mostrar que creio que os Administradores de Rede da Univali não tiveram a intenção de bloquear conteúdo "legítimo".

Os Administradores de Rede sofrem basicamente com três problemas:

O primeiro é que o acesso a sites pelos usuários da instituição é um dos maiores consumidores do link de Internet. Serviços que não podem parar são colocados em risco pelo excesso de acesso a sites indevidos. Isto praticamente obriga a Administração da Rede a utilizar um software de controle de conteúdo.

O segundo problema é que as empresas não costumam ter uma norma que defina especificamente qual o tipo de conteúdo pode ser acessado. Isto faz com que, mesmo que não queiram, os Administradores de Rede tenha que tomar a posição de tomadores de decisão sobre o que pode e o que não pode.

O terceiro, que eu acho o mais complicado, é que os softwares disponíveis no mercado para este tipo de controle devem passar por uma fase de amadurecimento dentro da instituição. O chamado “falso positivo”, que é o bloqueio de um site “legítimo”, isto é, com conteúdo adequado, ocorre com freqüência no início do uso do software de controle. Isto porque os softwares já vêm com um banco de dados de sites catalogados por categorias (Pornografia, Esportes, Entretenimento, etc.). No que o Administrador da Rede configura o software para bloquear “Sites Pornográficos” e na lista estiver um site legítimo que foi erroneamente catalogado, o mesmo estará bloqueado. Aos poucos os usuários vão reportando os erros e a lista vai sendo corrigida.

Por fim, um processo de conscientização dos usuários é o passo mais importante para evitar constrangimentos e deixar o processo mais tranqüilo.

Quanto aos blogs, tenho certeza de que a correção será feita rapidamente. Concordo com você que muito do que é interessante está neste formato, inclusive esta coluna.

Espero ter contribuído para esclarecimentos sobre este assunto. Agradeço profundamente o espaço concedido.

Grande abraço.

Sílvio Massaro Neto

Unknown disse...

Aproveitando o comentário do Silvio Massaro... também sou analista de TI e venho, há anos, brigando por uma liberação completa do acesso à internet na empresa em que trabalho. Não concordo com o termo "sites indevidos"... indevidos pra quem? Quem julga o que é ou não "devido"?

As pessoas passam a maior parte do seu dia na empresa e é - para dizer o mínimo - ingenuidade achar que todo esse tempo estão de cabeça baixa e trabalhando. Há os momentos de descanso e, porque não, de busca de informação e cultura na internet.

Outra "desculpa" famosa e que me deixa profundamente decepcionado é que se a internet for liberada, o funcionário não trabalha mais. Ora, façam-me o favor... se o cidadão não trabalha, seu superior é que deve ser responsabilizado e não a internet. Cobrem resultados e produtividade e não as antigas "horas-bunda", onde o que importava era o tempo em que o funcionário estava sentado em sua cadeira, mesmo que não estivesse fazendo absolutamente nada. E punam quem não produzir. Essa atitude de bloquear acesso à rede pune indiscriminadamente quem produz e quem nada faz. É burrice ou usando um eufemismo e parafraseando o César, idéia de cabeças com "poucas luzes".

A tecnologia nos oferece inúmeros benefícios. Bloquear o acesso a ela em virtude de falhas comportamentais é, repito, burrice.

Um abraço.

Anônimo disse...

Fala Cesar! Como manezinho que és, indico a leitura de reportagem da revista Exame desta quinzena sobre a nossa ilha (mais tua do que minha, já que sou do interior de SC). Veja em http://portalexame.abril.com.br/revista/exame/edicoes/0897/economia/m0133378.html.

O bloqueio aqui é capitalista mesmo - tem que ter o código para acessar toda matéria. Qquer coisa manda e-mail que te passo o código da edição.

Abraço!