quarta-feira, 18 de julho de 2007

Quarta

Aos leitores: como esta semana estou editando o jornal, tenho feito a coluna bem mais cedo que o habitual. Por isso, na coluna publicada no DIARINHO (e reproduzida abaixo), não falo no acidente de ontem com o avião da TAM, em Congonhas.

Mas aqui há maior flexibilidade e não posso deixar de, pelo menos, registrar o fato. E lamentar que faltem, em postos de responsabilidade “dessepaís”, homens e mulheres dignos de respeito. Temos vários, dignos de pena. Do presidente da Anac ao presidente da República, do presidente da Infraero ao presidente do Senado, passando por todos os subordinados, indicados por suas filiações partidárias, por suas filiações empresariais, pelo conhecimento que eventualmente tenham de segredos constrangedores dos que estão acima, ninguém demonstrou, desde o acidente com o avião da Gol, disposição séria e empenho conseqüente para evitar outros acidentes.

Neste, agora, colocarão a culpa no piloto que, falecido, não poderá se defender. Dirão que a pista estava perfeita e que ele arremeteu o avião por qualquer motivo que não as condições do aeroporto. Quis, na certa, fazer alguma pirueta. Tomara que eu esteja errado e que o choque faça acontecer algum milagre.

E quem não morreu no acidente, mas estava em Congonhas, agora sofre com a inabilidade da TAM para lidar com a crise, com o caos crônico da aviação, com a falta de respeito pelos cidadãos brasileiros. A polícia recomendava, à noite, que ninguém saísse do aeroporto, porque a falta de luz deixou a área mais perigosa que o habitual: assaltantes estariam se aproveitando da confusão para agir. E a TAM não conseguia remarcar passagens para quem ficou em terra, a não ser para depois de sexta-feira.

Poderá alguém dizer que isso não é nada perto da morte e do sofrimento das famílias e dos amigos das vítimas do acidente. Mas esse conjunto de fatos demonstra, exceto para os cegos que nos “governam”, que a nau está sem rumo. Estamos perdendo altura rapidamente. E, ao que parece, estão tentando evitar o pior fazendo discursos e distribuindo culpas retóricas. No leme, nos remos, nos cabos das velas, sobre o mapa e o gps para tentar encontrar o rumo, ninguém. Ou, pelo menos, ninguém que saiba o que está fazendo.

Em breve, este novo “maior acidente da história da aviação” será apenas uma lembrança distante. Talvez seja usado na campanha eleitoral do ano que vem. Mas, além dos familiares, poucos cuidarão de ver se alguma coisa mudou, se alguma lição foi aprendida. Logo logo a imprensa muda de assunto, um novo foco de corrupção será revelado, e tudo volta ao “normal”. Para desespero daqueles que conseguem ver para onde estamos indo.

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CANSAÇO
Ontem tomou posse o senador-suplente do ex-governador e ex-senador Roriz. Chega coberto pelo manto furta-cor da suspeita, encrencado em uns quantos processos. Normal.

O presidente do Senado e tantos de seus pares, pensam que a gente está questionando o fato dele ser infiel no casamento. A gente só gostaria de saber qual o papel das empreiteiras na ilibada vida do senador.

O presidente Lula assumiu as dores da sua ministra e mandou a Peugeot tirar do ar o comercial que recomendava “relaxar e comprar”. O bom humor, ao que tudo indica, não é bem visto no Planalto. Parece aquela história do sujeito que levou uma vaia do patrão, chegou em casa e chutou o cachorro.

Lula, um sindicalista, acostumado a vaiar, revindicar, pressionar e manifestar seu descontentamento de inúmeras maneiras, agora que é presidente fica magoado porque descobriu que tem gente que não gosta dele ou de alguma coisa que ele fez. E o cordão de puxa-sacos, estimulado pelo próprio presidente, fica tentando encontrar justificativas, uma mais estapafúrdia que a outra. Ou estavam todos bêbados, ou foram todos pagos pelo prefeito Cesar Maia, ou obedeceram às ordens de alguma milícia terrorista, especializada em vaias.

ESSE PMDB...

O PMDB nacional é famoso por sua cara de pau. Reivindica cargos em troca de apoio e na hora do vamos ver, nem sempre apóia o governo. E agora o PMDB catarinense resolveu sair do armário e começar a se queixar publicamente que não está recebendo todos os cargos que merece. Visa, é claro, a campanha municipal e não liga se com isso abre um rombo na canoa da penca do LHS. Será que tem colete salva-vidas pra todo mundo?

COM O RABO DE FORA
Se a Receita Federal, o Ministério Público Federal e o Estadual estão mesmo dispostos a incomodar políticos que juram que nunca jamais receberam dinheiro “não contabilizado”, devem estar fazendo a seguinte continha:

A legislação diz que só podem ser doados, para campanha política, no máximo 10% do rendimento do ano anterior. Assim, se alguém tiver feito, oficial e legalmente, uma doação de, por exemplo, R$ 960 mil, precisará comprovar que, no ano anterior, teve uma renda de R$ 9,6 milhões. Vejam bem, não é patrimônio desse valor, é renda. E não é pra qualquer um, ganhar tanto dinheiro num ano.

Mas também pode não dar em nada. Afinal, este é o país da protelações, do emaranhado de recursos sem sentido e, claro, da impunidade.

É FRIA, ANDRINO!
O LHS ofereceu para o ex-prefeito e manezinho Edison Andrino, a presidência da Santur. Atrevo-me aqui a aconselhar que ele recuse com firmeza.

Desde o começo do governo LHS o Andrino tem levado caneladas, encostões, rasteiras e cascudos. Agora, querem que ele tape buraco, guardando lugar para a volta do Marcilinho. Vai por mim e sai dessa, Andrino!


DA SÉRIE: AULINHAS DO TIO CESAR
(OU, MAIS UM TIJOLÃO DE TEXTO QUE NINGUÉM VAI LER)

PALAVRAS QUE CONSOLAM

O genial pernambucano Carlos Estevão, que desenhava na revista O Cruzeiro (e ficou mais famoso quando, após a morte de Péricles, assumiu a tarefa de continuar desenhando O Amigo da Onça), desenvolveu vários personagens e séries. Um deles era o “Dr. Macarra, um figurão”, inesquecível variação sobre o tema do malandro carioca. Outra, a famosa “As Aparências Enganam”, em que a sombra parecia mostrar uma coisa e depois a gente via que não era nada daquilo (escrever sobre humor gráfico é assim mesmo, não tem como substituir a imagem e o leitor que nunca viu terá que imaginar o que a gente não consegue mostrar). E tinha também a série “Palavras que Consolam”. Era a minha preferida.

Palavras que consolam: vinha um sujeito atlético, tipo halterofilista, músculos definidos, de braço dado com um broto de fechar o comércio (para ficar na linguagem da época). Na outra calçada a dedicada esposa, ao lado do pobre marido raquítico consola-o: “exercício demais dá doença no coração, esse aí pode ter um infarto a qualquer momento”. Coisas assim.

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Pois lembrei-me da série do Carlos Estevão ao verificar que muito pouco se tem escrito para os coitados dos estudantes de Jornalismo, depois da decisão da juíza que odeia jornalistas, acabando com a regulamentação profissional. E depois das outras idas e vindas legais. Afinal, hoje ninguém pode afirmar com certeza se o jornalismo é uma profissão regulamentada ou não. Neste minuto é, mas daqui a pouco poderá não ser mais.

Imagina só: montoeiras de jovens estão, neste momento, no meio de um curso que prepara (ou deveria preparar) para exercer uma profissão que virou pó e que o vento sul está levando para o alto mar.

Podemos também imaginar, só para ilustrar e dar maior dramaticidade a esta crônica, que eu tivesse sido convidado para paraninfar alguma das milhares de turmas de formandos de Jornalismo em algum dos inúmeros cursos, de todos os tipos, qualidades e tamanhos que abundam no País. O que diria? O que poderia dizer?

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Acho que começaria pedindo desculpas, em meu nome e de tantos companheiros, por sempre ter dado a impressão que esta era uma profissão divertida, fascinante e apaixonante. Se nós todos, que habitamos as redações durante tantos anos, tivessemos tido um comportamento mais contido, talvez os jovens não tivessem sido atraídos para essa arapuca.

Continuaria a fase de penitência comentando como nos arrependemos de ter desafiado alguns poderosos e revelado alguns segredos e com isso feito crescer a lenda de que nesta profissão a gente faz isso todos os dias. E ajudado a construir mentiras que têm sido repetidas à exaustão: somos paladinos da justiça, cavaleiros do bem e da verdade, defensores dos pobres e oprimidos.

Talvez o erro mais grave tenha sido mesmo silenciar sempre que, em público, alguém fazia a clássica confusão entre jornalistas e empresas jornalísticas, falando num ente chamado “imprensa” como se estivesse sendo claro e preciso. Um exemplo: há coisa mais ambígua e cheia de subtextos que expressões como “liberdade de imprensa”?

Daí passaria para algo um pouco menos deprimente, para tentar, ao final de um ou dois parágrafos, arrancar alguns aplausos que acordem os pais, tios e madrinhas que já cochilam no calor da sala cheia.

É preciso dizer que, se os corretores de imóveis sentem necessidade de preparar-se melhor, se já estão falando até em exigir curso superior para permitir que alguém tenha sua autorização do Creci para servir de intermediário em negócios imobiliários, é porque nem tudo está perdido. Pode ser que, depois de compreendida a necessidade do estudo e do treinamento para mais umas dez ou vinte profissões, finalmente alguém volte a entender que o jornalista também deveria saber, pelo menos, escrever dois parágrafos sem cometer vinte ou trinta erros.

E que o jornalista deveria saber captar as informações e relatá-las sem aumentar um ponto, sem distorcer o sentido, sem transformar tudo numa confusa maçaroca de gerúndios, super gerúndios, ajetivos bajulatórios e informações incompletas.

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Tudo é uma questão de tempo. E, no caso dos jornalistas, o tempo está nublado, sujeito a chuvas e trovoadas. Mas, como aprenderam os catarinenses de várias regiões, em várias épocas, por pior que seja a enchente e o desastre, é preciso limpar rapidamente o lodo e a lama porque daqui a pouco o sol volta e a gente não quer que os vizinhos pensem que a gente é relaxado. Não vai ser só porque caiu o céu e o rio subiu 20 metros matando gente e animais, que vamos deixar de ter uma roseira no jardim, uma grama aparadinha e o chão enceradinho e brilhante. Nada como um dia depois do outro.

6 comentários:

Anônimo disse...

Concordo totalmente. Os tolos que gritaram contra a regulamentação, alegando ser um atentado à liberdade de imprensa, nada mais fizeram que servir de lacaios aos donos dos meios de comunicação, que querem poder continuar publicando e mandando publicar "notícias" etc, direcionadas, manipuladas, distorcidas, e tal, de forma a garantir-lhes a continuação das mamatas, do exercício do poder nos bastidores, do enriquecimento desmedido e ilícito via publicidades oficiais obtidas mediante achaque, chantagem , pressão de toda forma. E a ética no jornalismo, coitada, atirada na lata do lixo.

Anônimo disse...

Hoje, em meio à comoção pelo acidente da TAM, tem uma matéria no Diário Catarinense que não pode passar batida.


Hollywood em Santa Catarina
Longa de empresa norte-americana recebe verba pública
ALÍCIA ALÃO

Um homem conquistador é seduzido por uma mulher, que não lhe dá bola. Esta é a sinopse da comédia romântica The Heart Breaker, que será rodada em Santa Catarina no segundo semestre. O governo estadual garantiu esta semana R$ 1,2 milhão para o projeto.

A produção é da empresa Sunshine Entertainment Group LCC, sediada em Nova York.

A origem dos recursos será o Funturismo. O secretário de Estado da Cultura, Turismo e Esporte, Gilmar Knaesel, afirma que estava prevista no orçamento a aplicação de recursos em produção cinematográfica que divulgue o Estado como destino turístico. Como o fundo só pode aplicar valores a empresas catarinenses, será repassado à Roberto Carminati Produções, de Criciúma. A empresa é parceira da Sunshine.

A verba do governo do Estado cobre parte do orçamento, que chega ao total de R$ 4,5 milhões. O restante virá da produtora Sunshine, do investidor nova-iorquino Bruce Lipnick. O empresário viajou ao Brasil pela primeira vez, almoçou com o governador na Capital na segunda-feira e deve assistir hoje à abertura do Festival de Dança de Joinville, a convite de Luiz Henrique da Silveira.

- Os produtores norte-americanos estão procurando outros países para rodar seus filmes, onde os custos são mais baixos que nos Estados Unidos. A vantagem para Santa Catarina será o aproveitamento da mão-de-obra local e a divulgação do Estado no exterior - afirma o governador. LHS cita outros filmes americanos que foram rodados fora dos EUA, como Sete Anos no Tibet, filmado na Argentina e no Chile, entre outras locações.

O cineasta catarinense Roberto Carminati será o diretor geral, mas direção de arte e figurino serão de norte-americanos. A estimativa do cineasta é usar cerca de 80% da mão-de-obra local na produção. O filme está em fase de pré-produção, com seleção de pessoal e procura de locações. A rodagem será feita entre setembro e outubro e o lançamento ocorre até o final do ano, na previsão de Carminati.

- A idéia é fazer esse filme bem feito para atrair outras produtoras para Santa Catarina e investir em estúdios e equipamentos para o cinema. Após a realização do filme, a estrutura será doada para os cineastas daqui ou locadas por valores bem reduzidos ¿ afirma Carminati, que acredita num crescimento exponencial da produção local alavancada pela infra-estrutura americana.

- A Sunshine tem interesse em descobrir talentos daqui ¿ acrescenta.

Roberto é sobrinho do secretário de Estado de Coordenação e Articulação, Ivo Carminati. Tem na bagagem três longas-metragens, entre eles A Fronteira, que teria inspirado Glória Perez a escrever a novela global América, com a história dos imigrantes brasileiros ilegais nos Estados Unidos. Outro longa do diretor, Segurança Nacional, ainda não foi lançado.

Anônimo disse...

Cenário de Nova York por computação gráfica

A história de The Heart Breaker será ambientada em Nova York, mesmo que a maior parte das cenas seja filmada em Santa Catarina. Com a computação gráfica, será "encaixado" o cenário nova-iorquino.

Os atores principais serão americanos ou devem falar inglês fluentemente. Atores e atrizes brasileiros estão sendo sondados, mas o cineasta prefere não adiantar nomes. A produção é voltada para o mercado internacional. A empresa Sunshine tem um orçamento inicial de US$ 5 milhões (R$ 9,35 milhões) para a execução de outros quatro roteiros no Estado.

Knaesel garante que o Estado nunca investiu tanto em cinema. Diz que o próximo edital da Cinemateca prevê R$ 1,6 milhões para a produção local e citou outro projeto de longa, a animação Minhocas, que será feita no Sapiens Park, na Capital.

Bion disse...

Cesar
Realmente é a nau dos insensatos!
Quanto ao post anterior sobre Hollywood em Santa Catarina isso não é nada!
A tal da Bruna Surfistinha, invocando a Lei Rouanet conseguiu verba da união para rodar um filme sobre o livro "O veneno do escorpião" onde conta suas aventuras como "garota de programa". O Rayol do blog http:www.indignatus.blogspot.com chegou a redigir um desagravo para o ministro da cultura...

Anônimo disse...

Ah, então os investidores que estão sendo atraídos pelo LHS precisam receber um adiantamentozinho em dinheiro público? Hum...

Anônimo disse...

Marcello, leia com atenção. A coisa é bem diferente. E com o adendo de laços familiares.