Assim como a crise aérea, a crise da UFSC (que é a crise da universidade pública brasileira) tem origem antiga. Ao longo dos anos, vários avisos foram dados, aos governos e aos governantes, sobre do rumo que as coisas estavam tomando.
Esperavam, os militantes de tantas greves a.L. (antes de Lula), que o PT no poder atenderia às principais reclamações e colocaria o trem de volta nos trilhos onde, a bem da verdade, nunca esteve. Mas o Lula presidente demonstrou que o PT não estava no poder. Quer dizer, parte dele estava, mas lá ficou, enquanto pode, apenas pelo gosto de estar no poder. Sem levar adiante as tais “propostas de luta”. E as universidades, tachadas de “elitistas”, ficaram a ver navios.
Na UFSC, como, acredito, na maioria das universidades públicas que tenham padrão de qualidade semelhante, a “privatização”, tão temida, sustentou e sustenta alguns dos cursos de maior sucesso. No Centro Tecnológico, a integração com empresas, a transferência de tecnologia e a utilização da universidade quase como setor de pesquisa e desenvolvimento de indústrias, deu o suporte necessário para que se criasse e se mantivesse aquele centro de excelência.
Os cursos que ficaram esperando e dependendo das verbas estatais para equipamento, pessoal, para tocar projetos e mesmo para realizar eventos, deslizaram ladeira abaixo, deixados à míngua. E os projetos foram sendo desestimulados e desmontados.
FALTA DO QUE FAZER
Diante desse quadro amplo, complexo e arquitetado por iniciativa ou omissão federal, o que adianta depredar a Reitoria? Que tipo de resultado um grupo isolado e minoritário poderá tirar de uma ocupação permitida e, dizem alguns, facilitada?
Qual será o próximo passo? Seqüestrar o Reitor? Ou o cônsul da Colômbia, à falta de um embaixador norte-americano nas proximidades?
Não seria mais importante, em vez dessa aventura juvenil estéril, que a rapaziada começasse a fazer, de fato, política estudantil? Que combatesse o peleguismo da UNE e tratasse de se organizar para ter, afinal e ao final, algum tipo de representatividade? E, pelo caminho trabalhoso da boa e velha militância política, criar um movimento que seja ouvido e que tenha o que dizer?
Ou, no maravilhoso mundo novo bolivariano as coisas só se resolvem na porrada e à base de factóides?
O GOVERNO INVIÁVEL
Naquele almoço no Palácio residencial do Governador (que eu relatei ontem), também estava presente, bem humorado e afável, o Secretário da Comunicação, Derly Anunciação.
Derly tem uma tese, que gosta de debater, sobre “o Estado possível e o Estado ideal”. Que, no final das contas, resume o impasse em que as unidades da federação brasileira foram colocadas: praticamente o total da arrecadação tem sua destinação amarrada a alguma rubrica. Tantos por cento para educação, tantos para saúde, tantos para isto e para aquilo. E, pairando como uma espada sobre a cabeça dos administradores, a Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabelece limites para as despesas com o pessoal.
Resultado: não sobra nada para investimentos ou para fazer aquilo que quem está no poder gosta de fazer, para deixar marcada sua passagem por ali.
Claro, todas essas amarras foram sendo colocadas na ilusão (ou esperança) que um dia algum político tivesse coragem de reduzir o tamanho do Estado. Mas eles são políticos justamente porque não são tolos. E nesse vespeiro ninguém mexe.
DEMITIR? NEM PENSAR!
A solução é, teoricamente, simples: se a despesa com a “máquina” (salários, gratificações, custeio, etc) consome um percentual absurdo da arrecadação, reduz-se a máquina e seus custos. Na casa da gente, se o dinheiro anda curto e não pode ter faxineira todo dia, a gente reduz para duas vezes por semana ou até dispensa a moça e assume as tarefas dela.
Mas no governo não se pode falar nisso. A cada dia se fala em abrir novos concursos (para aumentar o número de servidores estáveis). E, como disse, nenhum administrador público é burro (ou estadista) o suficiente para sequer tocar no assunto de enxugamento, de racionalização, de melhor aproveitamento do volume de servidores existentes. O corporativismo é fortíssimo. Grupos organizados de servidores elegem deputados, vereadores, governadores, justamente para não permitir que alguém mate a galinha dos ovos de ouro. Ou que coloque uma tranca no cofre da viúva.
O contribuinte, que sustenta tudo isso, espera, com toda razão, ver seu rico dinheirinho transformado em melhorias a que ele tenha acesso. Fica indignado com episódios, que surgem vez por outra, de mau uso do dinheiro público. Mas talvez não se dê conta do que, exatamente, está engessando o governo. Todos os governos.
O CHEQUE SEM FUNDOS
A acusação apresentada pelo Ministério Público Estadual contra o então vice-prefeito de Joinville, Marco Tebaldi, está minuciosamente dissecada no site “A Política Como Ela É (aqui em Santa Catarina)”. Este site antes era o “Blog do Vieirão”. Não sei o motivo da mudança de nome, mas, de qualquer forma, continua sendo um espaço de oposição, defendendo basicamente as propostas do PP. E o endereço continua o mesmo (vieirao.com.br).
Sob o título de “A incrível história do alcaide Marco Antônio Tebaldi”, lá estão todos os detalhes da acusação, num caso que, aparentemente, é mais um daqueles onde a frágil e delicada membrana que marca a fronteira entre o privado e o público foi arrombada. Ou, pelo menos, distendida anormalmente.
E revela um detalhe interessante: estão anexados ao processo (nº 038.07.005499-9, que tramita em segredo de justiça na 2ª Vara Criminal de Joinville) os resultados de interceptação telefônica. As populares “escutas”, que fazem a delícia de leitores, telespectadores e radioouvintes.
Resta saber quem terá sido “apanhado” nas escutas. E até que ponto essa pedra no sapato de Tebaldi poderá se transformar num transtorno para o prefeito de então, governador de agora.
CLUBE DE REPÓRTERES
Ainda a propósito do almoço com o governador, o jornalista Carlos Damião escreveu-me um bilhete, com uma boa lembrança:
“Meu caro Cesar, estes almoços de sua Excelência são realmente desnecessários. Não acrescentam nada. Saudade do Clube de Repórteres Políticos (lembras-te?), com Bento Silvério, Sérgio Lopes, Moacir Pereira, entre outros, promovendo almoços mensais com as autoridades catarinenses e colocando-as para falar sobre o que interessa. Convescotes chapa branca, sinceramente, são eventos dispensáveis.”É verdade, quando é uma entidade assim que promove o encontro, fica mais fácil manter o foco da conversa e, quando é o caso, pode-se encostar o entrevistado na parede com maior facilidade.
Até achei que a Casa do Jornalista (que agora atende pelo nome de Associação Catarinense de Imprensa), com o Moacir à frente, iria por esse caminho. Mas aquelas “coletivas” do governador na Casa foram um balde de água fria.
O Paulo Alceu é outro que, de vez em quando, fala que a gente tem que se (re)organizar. Quem sabe... Ressuscitar o Clube dos Repórteres Políticos... que tal, hem? hem?
2 comentários:
Olá Cesar,
Falei sobre este assunto do Clube ontem com o Paulo Alceu. Acho que é só recomeçar. O livro ata da última tentativa de reedição do clube deve estar com o Môa.
Lembro que no Clube, a gente convidava o político e pagava a conta dele. Não tinha repórter de TV, nem de Rádio, não podia usar gravador, e as vezes nem papel e caneta.
Eram conversas informais (tudo off) que ajudavam a gente entender o pensamento político catarinense.
Não sei se hoje isto pega, pois ninguém mais fala em off, ou sem interesse de publicação, mas... também sinto falta daqueles tempos, que na verdade, peguei já no final, a partir de 84, quando me formei. Além do Boni, do Sérgio Lopes, do Bento Silvério, da Elaine Borges, Aldo Grangeiro, Ivar Feijó, L.H. Tancredo, o Damião, etc... participavam também alguns novos, como a Aline Bértoli, Silvia Fantinatti, Hellô Reinert, Urbano Salles, Celso Martins, entre outros tantos.
Era muito bom e ajudou na minha formação de repórter político, principalmente a convivência com esta turma aí de cima.
Abç,
Paulo Arenhart
Caro Cesar,
Você sabe aonde anda o Carnê da Feliz? Nunca mais ouvi falar ..
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