sábado, 25 de fevereiro de 2006

DE SÁBADO A QUARTA

[Aviso aos navegantes: devido ao Carnaval e seus eflúvios, tanto o Diarinho quanto esta coluna só voltam ao ar no dia 2 de março, quinta-feira
(afinal, ninguém é de ferro). Evoé Momo! Skindô, skindô!
Bom descanso ou boa folia pra vocês também.]


A SECRETARIA DE
R$ 41 MIL POR MÊS

O deputado Afrânio Boppré (PSOL) recebeu esta semana as explicações do governo estadual sobre o aluguel da nova sede da Secretaria de Estado da Cultura, Turismo e Esporte, do Gilmar Knaesel (PSDB). Eles saíram de um imóvel alugado, no centro (no Ceisa Center), e foram para outro imóvel alugado, na SC 401, perto do Centro Administrativo. Exatamente no shopping Village Decor.

Nós, os contribuintes, pagávamos antes R$ 20 mil por mês, agora estamos pagando R$ 41 mil, dentro do estranho programa de contenção de gastos do governo LHS. Mas, é claro, a área dobrou e agora os servidores graduados têm garagem para seus automóveis e os bagrinhos têm estacionamento mais fácil (o ônibus complicou, mas isso é outra história).

Ainda não sei o resultado do exame que a assessoria do Boppré fará na papelada, mas eu, aqui do alto da minha ignorância, quando vejo justificativas de dispensa de licitação, fico sempre intrigado com algumas coisas.

Por exemplo: é preciso definir se o aluguel está no valor de mercado. No dossiê todo não há um único laudo que diga se o valor que o pessoal do shopping está pedindo é razoável.

Os próprios consultores jurídicos da SOL (a inacreditável sigla da secretaria do Knaesel) dizem que o valor de mercado está estabelecido pelos três orçamentos recebidos e pelo fato do metro quadrado no Ceisa custar R$ 15,70 e,na proposta “vencedora”, R$ 14,44.

Quem nos garante, a nós que estamos pagando esse conforto todo, que não houve acerto de preço? Tipo assim: “olha faz um pouquinho mais barato que o do Ceisa, afinal, a gente vai ocupar 2,8 mil metros quadrados”.

Os otimistas dirão que, se houver qualquer problema, o Boppré ou o Tribunal de Contas pegarão e os responsáveis serão punidos. Então tá. Afinal, é Carnaval e tudo é só alegria.

A FARRA DO CATARINA
Começa agora depois do Carnaval a Farra do Catarina, aquela época em que ONGs de todo tipo se acham no direito de nos ofender a todos, tratando todos os catarinenses como bandidos. A pretexto de defender os animais, fazem uma campanha violenta e equivocada contra todo o estado. Como se todos nós farreássemos com o boi. Como se, mesmo entre os farristas, todo mundo maltratasse o animal.

Antidemocráticas e prepotentes, essas vozes que todos os anos malham o pau nos catarinenses não aceitam contestação, não admitem dialogar e massacram, tal e qual as piores polícias e gangues, quem ousa discordar.

Na Internet, blogs catarinenses que ingenuamente pretenderam discutir o assunto e encontrar uma forma de resolver o problema sem ter que matar (como é a proposta de muita gente) todos os farristas, foram invadidos por uma avalanche de ofensas e ameaças, como se essas ONGs que defendem os animais tivessem ódio de seres humanos e de sermos humanos.

Tenho a impressão que também sou meio contra a farra do boi (ou pelo menos contra o jeito como alguns malucos brincam), mas não posso dizer isso em público, porque não quero que me confundam com esse esquadrão de linchamento dos catarinenses que aparece toda quaresma.

Acho que em todo lugar onde tem exagero, onde tem violência, a gente deve meter o bedelho e tentar encontrar uma forma mais civilizada de fazer as coisas. Não pode é entrar batendo às cegas e em todo mundo, distribuindo ódio a granel e depois dizer que quer o bem das comunidades e que faz isso por amor. Hipócritas.

E já que estamos quase na quaresma: sepulcros caiados, por fora enfeitados, coloridos e com nomes estrangeiros e por dentro podridão, fedor e morte.

UFSC MANTÉM LAGE
Depois da atitude do Diário Catarinense (RBS), que demitiu o funcionário que foi acusado de embriaguez pela PM-SC, havia grande expectativa sobre a atitude da UFSC, que também teve um funcionário acusado de embriaguez pela PM-SC.

Mas o Reitor Lúcio Botelho não decepcionou e agiu à altura das suas responsabilidades: não só se solidarizou com Lage, colocando-se, e à Universidade, à disposição para ajudá-lo no que for necessário, como encaminhou ofício ao Secretário da (in)Segurança pedindo providências e dizendo-se indignado com as marcas que o professor apresenta no corpo. (Para entender a história é só rolar a tela e ver os posts dos dias anteriores)

RESPEITO É BOM
Uma coisa me incomoda quando vejo tanta gente saindo em defesa de uma ou outra vítima de violência e maus tratos: todos os dias gente anônima sofre as mesmas coisas e não tem quem levante a voz para dizer que houve exagero. Neste mesmo DIARINHO, de vez em quando, aparecem casos de pessoas injustamente acusadas ou presas, que informam que apanharam da polícia, mostram marcas, queixam-se do tratamento. Bater primeiro e perguntar depois é, parece, uma rotina. Que enquanto não for alterada nos mantém no século XIX, na vanguarda do atraso.

TERCEIRIZADAS NA FOLIA
O colunista Luís Nassif levantou, dia desses, uma questão fundamental para entender muita coisa no Brasil de hoje. Lembram que antigamente as vilãs das acusações de corrupção eram as empreiteiras? Pois depois da Lei Camata (que pretendia criar limites nos gastos com pessoal), começaram a florescer as empresas de terceirização de mão de obra.

Segundo ele, em cada administração existem terceirizadas que dominam as licitações. Em Brasília tem a Confederal, do ex-ministro da Comunicações e deputado federal Eunício de Oliveira. Em São Paulo a Tejofran (14 mil terceirizados) e a Gocil (8 mil).

“Mesmo sendo um setor altamente rentável, não aparecem concorrentes para disputar espaço e derrubar preços”, diz Nassif, que chegou ao assunto depois do depoimento do Dimas Toledo, aquele de Furnas, cuja tericeirizada, a Bauruense (2 mil funcionários) faturou R$ 800 milhões em três anos.

PAU PRA TODA OBRA
Aqui em Santa Catarina, como nos demais estados, cada governo que entra faz as contratações que precisa por intermédio das terceirizadas. Utilizam-se das vagas das empresas que prestam serviço como se fossem do próprio governo. A “seleção” do pessoal (ou pelo menos de boa parte) é feita nos gabinetes dos secretários ou dos assessores políticos.

Em alguns órgãos públicos até o atendimento ao público e muitas atividades próprias de servidores acabam sendo feitos por empregados de empresas terceirizadas.

Há uma clara troca de favores que deturpa o sentido da Lei Camata e a torna inócua. E tal como as empreiteiras no passado, acabam tendo tantos pontos obscuros de contato e negociação com os governos (municipal, estadual e federal), que é compreensível que estejam sempre sob suspeita.

O AVAÍ DEVE DESCULPAS AO MEDAGLIA!
Conforme prometi, encherei o saco do Avaí toda semana, porque a diretoria, numa demonstração de ignorância, prepotência e imbecilidade, proibiu um dos mais antigos jornalistas esportivos em atuação em Santa Catarina, o Mário Medaglia, de entrar na Ressacada. Alegam que ele precisa justificar, com 48 horas de antecedência, por escrito, o que vai fazer lá no campo.

O que um jornalista esportivo que tem programa na TV vai fazer no campo? Brincar? Jogar beijinho pra torcida? Ora, ora, façam-me o favor!

Agora só falta o Avaí chamar a PM para ver se o Medaglia bebeu.

[Nota do Editor: escrevi "cartão vermelho" num cartão que aqui aparece evidente e claramente vermelho, porque no jornal a coluna é impressa em preto e branco e eu não queria que restasse a menor dúvida sobre o tipo de cartão que o Avaí está levando enquanto não se desculpar com o Medaglia.]

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

SEXTA

“INEXPLICÁVEL
E BÁRBARA
VIOLÊNCIA”

Na foto ao lado, as marcas das algemas e da violência num dos braços do professor Lage. E abaixo a íntegra da nota distribuída ontem:
“As entidades e instituições abaixo relacionadas denunciam com veemência a inexplicável e bárbara violência cometida contra o professor universitário, jornalista e escritor Nilson Lage, preso e espancado por policiais militares no último final de semana, em Florianópolis, Santa Catarina.

O professor Nilson Lage sentiu-se mal no último sábado, quando dirigia no bairro onde vive, em Florianópolis, conseguiu parar o carro, mas ficou desacordado. Em vez de receber a ajuda que necessitava naquele momento, foi hostilizado pela Polícia Militar ao ser encontrado dormindo dentro do veículo. Foi algemado, jogado em um camburão e levado a uma delegacia. As marcas em seu corpo – principalmente nos punhos e nos ombros – comprovam a inexplicável violência contra um senhor que neste 2006 completa 70 anos de idade.

Nilson Lage conta com uma trajetória de amplos serviços prestados ao longo dos últimos 50 anos como jornalista, professor e pesquisador do jornalismo. Trabalhou, como profissional jornalista, nas principais redações do Rio de Janeiro, entre as quais as do Diário Carioca, Jornal do Brasil, Última Hora, O Globo, Bloch Editores e TVE. Paralelamente, fez uma brilhante carreira acadêmica como professor da Universidade Federal Fluminense, Universidade Federal do Rio de Janeiro e outras instituições de ensino. Desde 1992, trabalha como professor Titular do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. É autor utilizado como referência em todos os cursos de graduação e citado em dissertações e teses sobre jornalismo, com obras vendidas aos milhares.

Reiterando nosso protesto pela violência do comportamento policial, solicitamos às autoridades competentes a apuração do caso, a punição dos responsáveis, o reparo dos danos morais e a tomada de providências quanto ao preparo das nossas polícias, para que lamentáveis fatos como estes não voltem a ocorrer em Santa Catarina ou em qualquer lugar do país.

São injustificáveis e inaceitáveis espancamentos por quem deve garantir a paz, e o abuso da força por quem, ao tê-la, deve impedir o seu uso. Lembramos que justamente aqueles que detêm o poder devem assegurar tratamento humano e digno a todos os cidadãos.”
Assinam o manifesto a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o Fórum Nacional dos Professores de Jornalismo, a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, o Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, a Associação dos Professores da Universidade Federal de Santa Catarina, o Centro Acadêmico Adelmo Genro Filho, do Curso de Jornalismo da UFSC e o Departamento de Jornalismo da UFSC.

A VERSÃO DA POLÍCIA
(Não confundir com “aversão à polícia”)

Tanto no caso do fotógrafo Cláudio Silva quanto no caso do professor Nilson Lage, a história que os policiais contaram a seus superiores difere do que afirmam as vítimas.

De Lage dizem que ele estava dirigindo embriagado e simplesmente o retiraram o carro e como ele os desacatou, conduziram-no à delegacia. Do Sarará dizem que ele estava embriagado como ele os desacatou, conduziram-no à delegacia.

O que Lage conta pode ser lido na nota oficial que reproduzi acima. Mas a partir do momento em que a polícia chegou, o que se viu foi um festival de despreparo dos agentes da lei para lidar com situações como essa, que exigem competência, informação, formação e sensibilidade.

QUE PM É ESSA?

Os mais jovens ou os que chegaram a Florianópolis há pouco tempo podem não acreditar, mas nós já tivemos uma das polícias militares melhor preparadas para lidar com a população. Mesmo na época da ditadura, era comum a gente encontrar oficiais esclarecidos, bem formados, que viam a função policial de uma maneira profissional. Em algum momento da história, porém, isso começou a mudar.

Talvez seja o aumento de ocorrências mais graves, o estresse causado pela constante ameaça de gangues armadas, a bandidagem organizada, ou alguma redução nas verbas para treinamento. Houve uma deterioração daquele nível de profissionalismo e voltamos quase à idade da pedra.

AÇÃO DOENTIA
Aquela cena, gravada ano passado, na avenida Beira-Mar, numa manifestação contra o transporte coletivo, é muito importante pra gente perceber os sintomas de uma enfermidade.

No primeiro momento o policial se aproxima de um galalau mais alto que ele que estava onde não devia estar. Como a ordem era desobstruir a via pública, o policial fez o que tinha que fazer: agarrou o garoto, tirou seu pé de apoio, derrubou-o e o imobilizou. Pronto. Até aí é uma ação policial violenta, mas compreensível e dentro dos padrões aceitos internacionalmente.

Uma força policial bem treinada, profissional, pararia aí. Mas ele não parou: com o cidadão no chão, imobilizado, o PM, aparentemente fora de si, passou a esmurrá-lo até deixá-lo desacordado. Ação completamente desnecessária, que daria nota zero a esse policial nas academias militares de muitos países e cadeia e expulsão nos tribunais também de muitos países.

FORÇA E AUTORIDADE
Em todo lugar, toda organização, todo grupo, tem sempre alguns “maus elementos”. Gente que não se prepara, não entende sua função, não estuda e ainda leva para o trabalho recalques e problemas pessoais.

A impressão que a gente começa a ter, ao ver episódios envolvendo a PM, é que o oficialato não está conseguindo enquadrar os “maus elementos” e promover os melhor preparados. O resultado é uma sensação desagradável, de medo da polícia e de desconfiança de seus atos. Este é o pior cenário, para quem ainda acredita nas instituições.

Update do sábado: trago pra cá uma observação interessante feita ali nos comentários, porque nem todo mundo tem saco de abrir os comentários pra ler.
ok, césar!
mas “oficialato não está conseguindo enquadrar os 'maus elementos'” me pareceu equivocado. os pms agem assim pq sao submetidos ao mesmo tipo de agressão e humilhação por parte do "oficialato". Há inúmeros casos de abuso de poder de oficiais. Nesse carnaval, um major deu um carteiraço pra tirar o filho bêbado de uma blitz. só consultar a denúncia na corregedoria. Os PMs também estão submetidos à um código disciplinar do século retrasado.


CANTINHO DOS LEITORES

FOTO DRAMÁTICA – A foto acima foi mandada por um leitor. Não consegui saber quem foi o autor ou autora (talvez seja a Leninha), mas não pude deixar de utilizar. Acho que ela representa bem o clima que paira sobre a capital, com essas desinteligências todas.

ÁGUA MARROM – O César Curtarelli escreve pra reclamar da Casan, que segundo ele entrega água “suja, torpe e com cor de urina (mas sem o cheiro)” nas torneiras de Balneário Piçarras e coloca na propaganda que tem “a água mais pura”. Ô xará, isso não dá um processinho de propaganda enganosa no Procon, não?

PROCESSO ARQUIVADO
– O Sérgio Rubim (o Canga) manda e-mail, felicíssimo com o arquivamento, pela Justiça, do processo onde o governador LHS tentava enquadrá-lo na Lei de Imprensa por crime de calúnia e difamação. Segundo ele, “o LHS gosta de perseguir jornalistas”.

INDIGNAÇÃO
– O Chico Veríssimo, de Itajaí, escreve para dizer que lê e recomenda a coluna e para solidarizar-se com o Nilson Lage. Ele acha que LHS e Benedet tinham que, no mínimo, vir a público pedir desculpas ao professor. É, eu também acho. Mas, cá entre nós, acho que isso só vai acontecer no dia de São Nunca.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

QUINTA

PM COVARDE ESPANCA O PROFESSOR
NILSON LAGE

Este senhor da ilustração ao lado é o nacionalmente renomado e internacionalmente respeitado Professor Doutor Nilson Lage. Podia estar lecionando em qualquer lugar do mundo, mas escolheu Florianópolis para morar e a UFSC para trabalhar. Pois no final de semana ele, tal e qual o Sarará, também foi espancado pela outrora briosa Polícia Militar de Santa Catarina.

O Nilson não estava se sentindo bem e parou o carro para descansar, porque, cuidadoso, não queria continuar dirigindo. Alguém ficou com medo daquele carro parado e chamou a polícia. Que já chegou supondo que o senhor aquele fosse um perigoso meliante.

E, como a polícia não sabe mais conviver com seres humanos normais, que conhecem seus direitos e querem saber o por que das coisas, preferiu encher o pobre do Nilson Lage de porrada em vez de conversar. E o levaram preso, todo machucado. Decerto o acusaram de “desacato”. Só saiu sob fiança.

Ele foi professor da Fátima Bernardes (a do Jornal Nacional), que sempre se refere a ele com enorme carinho e de um monte de gente bem situada nas redações do Brasil todo. É bom o LHS e o Benedet se prepararem, porque isso não vai ficar assim. Pode uma coisa dessas? Bater no Nilson Lage?

MEIO EXPEDIENTE
Pelo menos umas dez varas, em todo o estado, estão dedicando as manhãs pra treinar seu pessoal a mexer no computador e em alguns novos programas que visam acelerar o serviço. Por causa disso, só têm expediente externo à tarde. Não abrirão das 8 às 12h em períodos mais ou menos variáveis, mas quase todos só voltam ao normal depois de 20 de março.

SESSÃO DA TARDE

Uma das coisas que tenho que fazer por obrigação, mas que me diverte muito, é assistir às sessões da Assembléia Legislativa. Graças à tecnologia, posso ouvir os discursos dos deputados enquanto trabalho no computador e às vezes me pego rindo sozinho com o que ouço. Claro que tem muita coisa interessante, mas também tem cada abobrinha...

B-A-BÁ (OU SERIA BEABÁ?)
Um negócio que não entendo é como tem deputado que não sabe ler. Eles têm uma profissão que se baseia, principalmente, na oratória (não se chamam “parlamentares” à toa) e mesmo assim são poucos os que sabem se expressar corretamente e vários se atrapalham seriamente quando pegam um jornal, um discurso escrito, um papel qualquer para ler na tribuna.

Acho que é uma falta de consideração para com os eleitores, que o parlamentar não se preocupe em aprender a ler direito, não continue estudando, não procure corrigir suas deficiências.

A CHINA DO GODINHO
Tem uns “novos comunistas” que às vezes se atrapalham ao analisar a conjuntura internacional. O deputado Godinho disse a sério, ontem, que a China progrediu por causa do seu “socialismo com liberdade, com democracia”! Os prisioneiros políticos chineses devem ter se revirado nas solitárias.

BLASI RODA A BAIANA
O líder do governo, deputado João Henrique Blasi (PMDB), que é advogado, tribuno experiente, normalmente faz seus discursos sem grandes emoções. Mas ontem ele subiu nas tamancas e como se estivesse num palanque, em praça pública, fez um discurso de levantar a arquibancada. Mostrou que por baixo daquele terno sóbrio de candidato a desembargador, também bate um coração de polemista da melhor qualidade: ácido, irônico e entusiasmado.

Claro que ele respondia a mais algumas provocações do adversário principal, o deputado Joares Ponticelli (PP), que também é, em algumas ocasiões, um orador que vale a pena ouvir.

O debate parlamentar, quando conduzido por quem sabe o que diz e como dizer, é como um bom jogo de futebol: é bom de assistir mesmo que a gente não torça para nenhum dos times.

A PEDRA NO CAMINHO
O deputado Nilson Gonçalves (PSDB) fez ontem um estranho desabafo. Ele lamentava que sempre que tenta apresentar um projeto, “fazer um bem para o povo”, acaba tropeçando “na tal da inconstitucionalidade”. E foi, discurso adentro, reclamando dessa pedra que colocam no caminho dos legisladores bem intencionados: “a tal da inconstitucionalidade”.

Não chegou a pedir a revogação da Constituição, para que seus projetos não tenham mais esse obstáculo, mas chegou perto.

MÁFIA DOS GUINCHOS
E em seguida o mesmo deputado falou sobre uma coisa muito importante: a máfia dos guinchos das estradas federais e estaduais. Alguns deles, verdadeiros bandidos, jogam óleo na estrada para que ocorram acidentes. De fato, é preciso encontrar uma forma de combater essa canalhada.

JÁ É CARNAVAL NA CAPITAL
O governador LHS tá com seu bloco na rua há muito tempo
e concorre nos quesitos descentralização e quilômetro rodado

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2006

QUARTA

DIÁRIO DE CAMPANHA
OU, A FOTO POR TRÁS DO FATO

A assessoria de imprensa de político tem suas desvantagens, mas também tem suas vantagens. Quando, por exemplo, o assessorado resolve, de repente, visitar uma draga no meio de um rio, cujas margens estão que é pura lama, o assessor vive momentos de grande alegria. Como fazer com que os repórteres, tanto da casa quanto de outros veículos tenham condições razoáveis de trabalho em ambiente tão inóspito? E não saiam falando mal do político, da draga, da lama, do rio e do assessor?

O José Augusto Gayoso, assessor do governador LHS, é conhecido pelo esforço que faz para facilitar a vida dos colegas e das colegas. Na foto menor (e), ele segura os sapatos enlameados que uma fotógrafa quase perdeu nas barrancas do rio Itajaí-Mirim. E enquanto o pessoal passeava de barco (na foto maior à direita), ele ficava na lama (lá em cima, dentro do círculo branco – se clicar na foto dá pra ver melhor), com os sapatinhos na mão, exposto a todo tipo de interpretação maldosa de quem achava que ele, de fato, estava andando de salto alto na lama.

Puxei esse assunto dos sapatinhos perdidos só pra ter um pretexto pra falar no Gayoso, que nesse episódio da prisão do Sarará e do Pomar, teve um papel importante na liberação mais cedo dos dois.

Eu sei que tem uma fofoca rolando que diz o contrário. Só que eu conheço o Gayoso há mais de 20 anos e acho que ele é um profissional decente e correto, que sempre fez o possível para ajudar os colegas. Jogar lama no Gayoso, neste caso, só serve para desviar a atenção de quem de fato foi arbitrário, violento e injusto.

IDELI JOGA A TOALHA
Será mesmo? Em todo caso amanhã a senadora dá uma entrevista para explicar por que desistiu de se inscrever nas prévias e dizer quais os seus planos. Nesse primeiro round, pelo jeito, o PT da Ideli foi derrotado pelo PT do Fritsch. Mas como a política é uma nuvem, amanhã pode ser outro dia.

MOSQUITO A TODA
Amilton Alexandre, o Mosquito, mandou e-mail para o comandante da Polícia Militar sobre o confronto do dia 16 e distribuiu cópias pra todo mundo. As últimas duas linhas resumem o assunto e dão uma idéia do tom da mensagem: “Puna os oficiais que afrontam o regimento da PM. Ou demita-se!

GRIPE NA COPA
A descoberta de 103 aves mortas no nordeste da Alemanha, infestadas justamente pelo vírus do tipo H5N1, que é o mais perigoso para os seres humanos, pode ter uma conseqüência trágica para o futebol.

Caso se configure uma pandemia, com o alastramento da doença pela Europa, é possível que as autoridades alemãs suspendam a Copa do Mundo, para evitar a ida de milhares de torcedores de vários países pra lá. Eles não querem facilitar a vida do vírus, dando-lhe passagem aérea para chegar a praticamente todo o planeta, levado por quem foi à Copa. Por enquanto é só uma hipótese, mas dá o que pensar.

A FARRA DA GASOLINA
Não tem jeito. Vão tirar o álcool da gasolina porque estava escasso e o preço estava subindo demais. O resultado é que a gasolina vai ficar mais cara por causa disso. Desistam de entender: se adicionar mais álcool à gasolina, a gasolina também sobe.

Sobe se tirar, sobe se botar. Parece coisa do Macaco Simão, aqui do lado. É mole? É mole mas sobe.

BLOCO DA CAIXA PRETA
O Sindicato dos Trabalhadores da UFSC vai botar o bloco na rua amanhã à tarde. A boa notícia é que vão tratar com bom humor o problema do transporte coletivo na capital, ironizando a promessa, ainda não cumprida pelo prefeito Dário de abrir a tal “caixa preta”.

A má notícia (pelo menos pra quem depende de ônibus) é que eles pretendem chegar ao Terminal do Centro às 17h, “para uma manifestação, junto com outros movimentos sociais”.

MÃOZINHA DA PM

Esses movimentos, que são todos a favor da tarifa única, estão reclamando da forma como a prefeitura a implantou. Provavelmente nem teriam fôlego para outra manifestação, se alguns despreparados, na semana passada, não tivessem criado confusão onde não precisava. A frouxa reação da polícia à gangue de seguranças particulares e a espetaculosa prisão do Sarará e do Pomar deram novo gás à turma.

VEREADORES EM APUROS
O Tribunal de Contas esteve em Agrolândia e constatou irregularidades primárias na prestação de contas de quatro vereadores e um funcionário da Câmara, aqueles flagrados pela TV dando um rolê com carro oficial e tudo.

Agora eles terão 30 dias pra se explicar, apresentar documentos e mostrar que o passeio não era passeio.

SANTA CATARINA DE FORA
O Ministério da Saúde vai criar uma rede nacional de bancos de sangue de cordão umbilical (a Brasilcord). Quer coletar 4 mil cordões umbilicais por ano, que irão beneficiar quem aguarda transplante de medula óssea e outros tipos de tratamentos. Os receptores farão parte de uma lista única, dentro do Sistema Nacional de Transplantes.

Parece uma coisa boa, né? Pois Santa Catarina está fora. O Rio Grande do Sul e o Paraná terão unidades da rede, mas Santa Catarina, para o Ministério da Saúde, é apenas aquele pequeno nada entre os dois estados do Sul e não precisa dessas coisas.

ESCOLA DE SAMBA
Uma escola estadual da Grande Florianópolis deu, como trabalho de casa, a tarefa de fazer uma fantasia de carnaval para desfilar na sala. Os pais ficaram muito irritados com a falta de seriedade da professora. E os evangélicos sentiram-se ofendidos com a falta de respeito com a crença alheia.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

TERÇA

QUEM TEM MEDO DA VERDADE?
Ontem recebi, por e-mail, algumas fotos que mostram como a polícia se esforçou para sujeitar, desarmar e algemar o perigoso meliante Sarará. Ele é aquele sujeito que, até onde se sabe, cometeu o crime de estar fotografando no lugar errado, na hora errada.

Cheguei a pensar que o Sarará podia ter fotografado alguma coisa proibida, alguma ação que alguém gostaria de ocultar. Mas como outros fotógrafos estavam por lá e trabalharam aparentemente sem constrangimentos (inclusive o pessoal do Passe Livre), a dúvida continua.

E ganha força uma teoria conspiratória que no final de semana corria em mesas de bar: trata-se de uma retaliação contra o DC, que teria publicado matérias que desagradaram a polícia. A provocação pra cima do Sarará, o “acidente” com o flash do outro fotógrafo, teriam como objetivo não a pessoa de nenhum dos dois, mas a empresa cujo nome e logotipo estavam nos crachás que eles portavam.

Ontem o Coronel Mário Cesar de Oliveira, do Centro de Comunicação Social da PM me disse que no âmbito da corporação não há qualquer procedimento de investigação ou sindicância referente ao caso do Claudinho. Só se ele entrar com um processo ou se a polícia civil levar adiante o caso é que a PM ouvirá o Sargento Gonçalves sobre o que aconteceu naquela tarde.

Até lá, só o que temos é o depoimento do Cláudio e de seus hematomas, que acusam os militares de terem-no espancado sem motivo aparente.

CAMAROTE COM ÁGIO
Amigo que é chegado a um carnaval na avenida e que pretende festejar com amigos num camarote me contou que aquele pessoalzinho que ficou vários dias na fila estava oferecendo o lugar por R$ 400,00. É uma tentação, porque naturalmente quem chega primeiro escolhe melhor.

INCOMUNICÁVEIS
Durante o dia todo (pelo menos das 8h até às 18h) o Centro Administrativo do Governo ficou sem telefones. Nem recebia nem fazia ligações. Aqui e ali alguém dizia que o problema era da Brasiltelecom. Outros diziam que foi só o LHS falar que ia renunciar que já começaram a desligar os aparelhos...

TAPETE ELEITORAL
Teve gente que se espantou com o tom de campanha eleitoral que rolou na “inauguração” do asfaltamento de algumas ruas no Estreito. Esses espantados devem ter acabado de chegar de Marte. Porque, por aqui, desde o ano passado que a maioria das solenidades municipais, estaduais e federais é franca e abertamente eleitoreira.

À MARGEM DA LEI

Parece que a Prefeitura Municipal de Florianópolis está se especializando em desafiar limites. Numa frente, é a campanha das novas tarifas de ônibus (a “tarifa única” que tem vários preços), que está sendo considerada “propaganda enganosa”. Em outra é a desobediência, pela Comcap, da proibição de fazer capina química (aquela que usa veneno pra matar as ervas daninhas do meio-fio e das calçadas).

Não sei qual das duas hipóteses é pior: saber que isso faz parte de um plano para administrar à margem da Lei ou que tudo não passa de falta de competência e controle.

ESCOLAS EM REFORMA
O anúncio, ontem, que os alunos da escola Adolpho Konder, de Blumenau, só terão aulas a partir de março porque “a reforma atrasou”, lembrou uma coisa que me ocorreu quando falei, aqui, das escolas de Itajaí que estão caindo aos pedaços: a impressão que se tem é que as reformas foram sendo iniciadas sem critério. Primeiro construíram alguns ginásios de esporte, depois reformaram algumas escolas, sem determinar uma prioridade que levasse em conta a importância da escola na comunidade, número de alunos, gravidade da situação e tempo para a obra.

Aí, mesmo tendo investido milhões, ficam sem ter como explicar por que escolas grandes, importantes ou com problemas graves ficaram por último.

NO OBSERVATÓRIO
O texto da minha coluna de ontem será reproduzido pelo Observatório da Imprensa, provavelmente na edição que entra no ar hoje à tarde.

Update de terça à tarde: para ir direto à página do Observatório em que está o meu artigo é só clicar nesta linha.

O endereço é www.observatoriodaimprensa.com.br.

Pra quem ainda não o conhece, visitar esse site é sempre um bom programa para entender melhor como são feitos os jornais e as revistas. O lema deles é “Você nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito”.

Conhecer algumas das fofocas internas é saudável. Mesmo que sempre tenhamos sido aconselhados a nunca querer saber como são feitas as lingüiças, os jornais e as leis. Às vezes também incluem, nessa relação de coisas que nascem de parto obscuro, as guerras. Mas estas acho que, a esta altura, todo mundo já sabe do que são feitas.

FORA DE FOCO
E por falar em fotógrafos, estou há vários dias para fazer uma retificação aqui. Os seis leitores assíduos devem lembrar que eu reclamei de fotos fora de foco do governador que a Secretaria de Comunicação estava divulgando.

Ficava mais ou menos subentendido que o defeito seria do fotógrafo, embora eu não tivesse afirmado. Pois o Diretor de Imprensa da SECOM me informou que o pessoal lá da fotografia, também preocupado, mandou a câmera pra assistência técnica e descobriu que ela tinha um defeito no chip que controla o foco. O fotógrafo que usava a câmera podia tentar de tudo, que sempre dava uma distorção. Agora o problema tá resolvido e a careca do LHS está mais nítida que nunca.

ESSES VALENTE...
Leio no site de notícias do Vitor Vieira (www.videversus.com.br) que “Telefonemas de Valente são muito suspeitos”. Claro que fui ler, assustado. Mas não tinha nada a ver comigo. Tratava-se de um tal de Carlos Eduardo Valente, lobista que andou ligando para o Ademirson, assessor do Palocci.

Em outro lugar tinha “Valente tira Marta Suplicy do horário gratuito”. Dessa vez se referia ao corregedor eleitoral de São Paulo, Marco César Valente, que vetou a ex-prefeita nos programas eleitorais do PT.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

SEGUNDA

[“Ninguém deveria poder impedir que um jornalista se expresse”: cartaz da campanha dos Repórteres Sem Fronteiras pela liberdade de imprensa.]

Peço licença aos leitores para ocupar este espaço
com algumas reflexões que talvez interessem mais aos jornalistas do que ao público em geral, mas que são importantes para que a gente tente compreender melhor um episódio que ocorreu semana passada e que envolve o direito à informação, a liberdade de imprensa e os direitos humanos.

COMO TUDO COMEÇOU
Na quinta-feira, o Cláudio Silva, do DC, estava no centro, fotografando a manifestação do pessoal do passe-livre e seus desdobramentos, como o confronto com a polícia. Quando prenderam um dos líderes da manifestação, um sargento disse que o Claudinho não podia fotografar.

Ora, nenhum fotógrafo profissional que se preze e que honre as calças que veste, vai aceitar que alguém lhe diga o que pode e o que não pode fotografar em um lugar público.

Decerto o sargento achou que o fotógrafo trabalhava no DIARINHO, porque o chamou de “negro viado”, numa evidente provocação. E em seguida deu voz de prisão e botou o Sarará num camburão. A viadagem aqui da casa ficou de cabelo em pé com a expressão preconceituosa do policial.

É preciso, agora, indagar do governador LHS e do secretário Benedet, qual dos dois deu a ordem para impedir que a ação policial fosse fotografada. Porque se o sargento agiu por sua livre e espontânea vontade, precisa ser imediatamente punido.

Num Estado de Direito não pode o policial (e sequer o oficial ou mesmo os agentes políticos) regulamentar a seu gosto a Constituição.

Os policiais usaram a força para impedir o Sarará de trabalhar e, como complemento da ação ilegal, espancaram o rapaz com uma crueldade que parece habitual. Durante todo o trajeto até a Central de Polícia o “corajoso” sargento que o impediu de fotografar aproveitou que o Sarará estava algemado e esmurrou seu rosto, deixando marcas visíveis.

FATOS IGNORADOS
Só depois que foram cometidas várias arbitrariedades (a começar pela censura policial ao registro de um evento de interesse público) e que o fotógrafo tinha sido espancado, é que se começou a pensar numa forma de transformar a vítima em réu.

Sarará conta que foi obrigado, na marra, a soprar no bafômetro. Mais uma violência descabida. Mas o jornal Diário Catarinense, ao redigir a notícia, fez uma estranha seleção dos fatos que deveria e que não deveria levar ao conhecimento de seus leitores. E escolheu publicar, certamente após acaloradas discussões internas, apenas que seu empregado, segundo a polícia, estava bêbado.

Não fala sobre o espancamento, não diz nada sobre a proibição de fotografar, não se refere ao outro fotógrafo da casa que teve equipamento danificado pela polícia. A omissão desses fatos dá ao “teste” a que o Sarará foi submetido em condições desumanas e humilhantes, uma dimensão falsa.

O resultado do bafômetro, por falar nisso, não foi mostrado na hora ao Cláudio. Ele sequer sabe qual o teor que acusou. Não deve ser muito alto, porque ele tomou uma cerveja no começo da tarde, no Mercado. Mas esse “teste” está sendo mais valorizado que as fotos que mostram seu rosto machucado.

E a notícia, do jeito que foi publicada no jornal, deixa mal o Nelson Sirotsky (diretor-presidente da RBS), que, como presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), tem se posicionado contra ações arbitrárias que visam impedir ou dificultar o trabalho da imprensa. E foi isso que a polícia fez: impediu, com violência, o DC de cumprir sua missão, ao deter e espancar um de seus funcionários.

ESPANCAMENTO COVARDE
O Cláudio não foi preso porque estava bêbado. Foi preso porque ousou fotografar a ação da polícia.

E mesmo que fosse crime – e não é – fotografar policiais, a pena para isso não seria o espancamento. E o Sarará foi covardemente espancado.

Depois a polícia começou a afirmar que ele tinha tomado umas cervejas. Mesmo que fosse crime – e não é – tomar umas cervejas, a pena para isso não seria o espancamento. E o Sarará foi covardemente espancado.

DECISÃO PRECIPITADA
Por mais que a gente tente compreender a posição da RBS e da direção do Diário Catarinense no caso do seu fotógrafo Cláudio Silva (demitido menos de 24 horas depois do incidente em que foi impedido de trabalhar, preso e torturado), sempre esbarra em algum aspecto difícil de aceitar.

Aparentemente a empresa, ou algum de seus dirigentes, ficou tão assustada com o resultado do teste do bafômetro, que não pensou em mais nada que não fosse livrar-se do “mau elemento”. Sequer pensou que a ação policial visava, em primeiro lugar, o próprio jornal.

A gestão do pessoal e das crises que envolvem empregados são disciplinas básicas na administração de qualquer empresa. Na maioria das grandes empresas existem profissionais que se prepararam para lidar com essas situações de forma a não ampliar os problemas nem prolongar desnecessariamente as crises.

Não duvido que a própria RBS tenha, em seus quadros, gente com essa formação. Só que, neste caso específico, a parte visível da ação da empresa demonstra que alguns de seus gestores foram movidos por um ansioso amadorismo que os levou a cometer erro em cima de erro. Provavelmente alguém não preparado avaliou mal a gravidade da crise e achou que poderia lidar sozinho, sem pedir ajuda ou se aconselhar. E agora a empresa se encontra no meio de uma crise mais grave que a inicial.

TRASTE DESCARTÁVEL
O que o Diário Catarinense fez não foi demitir um mau profissional que exagerou na bebida e deu vexame ou descumpriu suas obrigações profissionais. Eles demitiram um profissional que foi espancado pela polícia justamente porque tentava cumprir o seu dever. E o jornal aceitou, aparentemente sem qualquer tipo de questionamento, a primeira explicação da polícia. Ao que tudo indica não levou em conta as circunstâncias e nem considerou que, mesmo que ele tivesse um pouco (ou muito) álcool no sangue, a ação policial foi ilegal e não podia ser ignorada.

E aí, no meio de um episódio obscuro de violência policial, de onde o Sarará emerge com sinais claros de espancamento, a empresa abandona seu empregado e os princípios que diz defender e agarra-se ao “diagnóstico” apresentado pelos autores da violência.

Além de não deixarem o Sarará fotografar, além de o terem torturado, os policiais ainda conseguiram demití-lo com enorme facilidade. A polícia atuou com grande desenvoltura e o jornal apequenou-se diante do arbítrio.

“VOU ALI NA KOMBI”

Em todas as redações onde trabalhei, em Porto Alegre, São Paulo, Brasília e aqui, sempre tinha um boteco, uma birosca, um botequim por perto, onde o pessoal se “abastecia”. Os diretores, é claro, freqüentam restaurantes mais chiques, bares refinados ou têm seu uisquezinho no armário da sala.

Na Gazeta Mercantil, no final do século passado e início deste, na sede de Santo Amaro, em São Paulo, tinha uma kombi que estacionava diante do jornal, do outro lado da rua, onde o pessoal mais aflito ia calibrar o fígado.

Lá de cima (o jornal ocupava um prédio de dez andares e a redação do jornal era no terceiro), editores e diretores viam o movimento e sabiam quem eram os freqüentadores.

Ou seja: nenhum chefe de redação pode se surpreender com o fato de jornalistas sob sua responsabilidade tomarem, vez por outra, uma cerveja ou alguma coisa mais forte. No jornalismo, como tantas outras profissões com grande carga de estresse, o álcool é um problema mais ou menos generalizado.

Faz parte da função dos chefes, nas redações (como nas demais organizações) lidar com este e com outros problemas sem hipocrisia. E sem fingir que foi supreendido com a informação: “o quê? funcionário meu com álcool no sangue? que absurdo!”

E AGORA?
O problema de decisões precipitadas (e portanto pouco refletidas) como a demissão do Sarará é a mensagem de estímulo que ela passa para os maus policiais: “fica frio, sempre que um jornalista te incomodar, dá voz de prisão, enche ele de porrada, quebra o equipamento e depois é só dizer que ele te agrediu que o cara acaba no olho da rua e sem ter quem o defenda”.

O papel dos oficiais envolvidos no episódio e mesmo de outros agentes do governo precisa ser esclarecido não para que o Sarará recupere seu emprego, mas para que nós todos não fiquemos, cada vez mais, à mercê de gente truculenta que nada no mar azul da impunidade.

Esse sargento racista, que em vez de manter a ordem criou um tumulto à parte, deve estar se sentindo muito poderoso. E com razão. Fez o que fez e ainda conseguiu apoio e acobertamento. E a vítima virou réu.

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Links relacionados ao tema
(na versão impressa da coluna estes endereços não aparecem por falta de espaço)

Rede em defesa da liberdade de imprensa, criada pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), na gestão Nelson Sirotsky, em parceria com a Unesco.

Relatório anual sobre liberdade de imprensa no Brasil, publicado pela ANJ (em pdf).

Repórteres Sem Fronteiras, ONG que reúne e divulga casos de violência contra jornalistas no mundo.

sábado, 18 de fevereiro de 2006

SÁBADO E DOMINGO

COMEÇOU A FOLIA
O bloco Berbigão do Boca, que saiu ontem, marca o início do Carnaval. Mesmo que aqueles mais cri-cris insistam em trabalhar durante a próxima semana, as coisas só vão andar, acontecer ou deixar de acontecer lá pelo dia 6 de março. Até lá cabe a cada um encontrar a justificativa pra se atirar nas cordas e aproveitar o que ainda resta de nossa principal festa pagã.

Eu começo dizendo que, como tive que prestar atenção no Berbigão, ontem, não tive muito tempo de escrever e aí a solução foi colocar essa bela foto do Rubens Flores bem grande, pra gente poder, entre outras coisas, apreciar o contagiante sorriso da rainha Bianca Elaine da Silva e, atrás dela, a gargalhada inconfundível da lendária Tide, uma espécie de rainha-mãe.

ATRASAR OU ADIANTAR?
Hoje termina o horário de verão. E sempre que ele começa ou acaba a dúvida mais freqüente é se a gente tem que atrasar ou adiantar o relógio.

Hoje à noite ou amanhã de manhã (não, não precisa ficar acordado pra mudar a hora à meia-noite) tem que ATRASAR o relógio.

Quem tem computador desses mais novos, já deve ter levado um susto há alguns dias, porque o relógio mudou a hora automaticamente. É que a máquina é burra, acha que horário de verão começa e termina todo ano na mesma data, como em tantos outros países: só que aqui no Brasil a gente todo ano tem um pretexto pra mudar a data do início e/ou do final. Não tem computador que consiga acompanhar tanta criatividade.

PARENTE COMPETENTE

E os desembargadores que resolveram peitar o Conselho de Justiça e manter a parentada no emprego, hem? Levaram uma traulitada do Supremo Tribunal Federal que devem estar até agora com o ouvido azuniando.

Vamos ver quanto tempo leva pra encontrarem um desvio ou uma portinhola que permita novamente agasalhar os parentes (“mas só os competentes”) nas tetas do dinheiro público.

O AMOR É LINDO...
O prefeito de Florianópolis, Dário Berger (e), abraça carinhosamente o emocionado prefeito de São José, Fernando Elias (d), na solenidade de assinatura da ordem de serviço para a construção do viaduto da Av. Ivo Silveira, quase no limite dos dois municípios.
Jamais saberemos com certeza o significado exato desse gesto dos dois prefeitos porque, em política, às vezes, a mão que afaga é a mesma que apedreja. E vice-versa.

VIOLÊNCIA POLICIAL
A Polícia Militar prendeu, anteontem, no fervo das manifestações do passe livre, o fotógrafo Cláudio Silva. Espancou-o e reteve seu equipamento. E também danificou, a força de cassetete, o equipamento do fotógrafo Glaicon Covre, ambos do DC.

Pra se livrar da ação arbitrária, violenta e injustificada, a Polícia submeteu o Sarará ao bafômetro (como se fosse uma infração de trânsito) e divulgou que ele tinha tomado umas e outras. Como resultado, o DC o demitiu sumariamente, livrando-se do “incômodo”.

Ontem, já desempregado, o fotógrafo ainda tinha, no corpo, as marcas da brutalidade que sofreu no dia anterior. Como se o fato de alguém ter bebido fosse justificativa para enchê-lo de porrada. Ainda mais porque primeiro desceram o cacete e depois foram buscar uma saída e, pra azar do Sarará, encontraram uma forma rasteira que lhe custou o emprego.

Como disse ontem, antes de saber da história do bafômetro: não adianta querer transformar a vítima em réu, atos como os de anteontem mancham a corporação e o governo como um todo.

Espero que os colegas jornalistas não embarquem na história de que um fotógrafo bêbado machucou-se atirando-se contra os cassetetes e os punhos dos policiais. Amanhã pode acontecer com qualquer um de nós.

VIVA O MÁRIO MEDAGLIA, ABAIXO O AVAÍ!
Dia desses o pessoal do Avaí expulsou de campo e proibiu de trabalhar um dos mais antigos e respeitados repórteres e editores de esportes do Sul do País: o grande Mário Medaglia. De nada adiantou ele ter carteira da Associação de Cronistas Esportivos, ter a cara mais conhecida do ramo (participa de um programa na televisão) e estar em atividade em Florianópolis desde a década de 70. Agora, até que peçam desculpas publicamente ao Mário, vou encher o saco do Avaí toda semana.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2006

SEXTA

EXCLUSIVO
AS DESPESAS DOS
DIRIGENTES DA SANTUR

Nos três primeiros meses de 2006 o presidente da Santur, Jorge Nicolau Meira e seu fiel escudeiro, o diretor de Marketing, Valdir Rubens Walendowsky (vistos na foto dentro do mapa) têm viagens ao exterior já realizadas e por fazer cujas diárias, passagens e outras despesas somam cerca de R$ 158.600,00.

* Os valores das despesas resultam da soma das diárias, passagens e um tal de “custo de participação” (que eu imagino que seja a inscrição dos eventos), originalmente cotados em euros:

Período-----------------------Local-------------------------------Custo aproximado
7 a 31 de janeiro-------Utrecht, Lisboa e Madri----€ 36,600
15 a 26 de fevereiro---Milão e Praga----------------€ 12,800
8 a 12 de março-------Berlim-------------------------€ 13,400
Total: € 62,800

Para não complicar as contas, não somei aí uma viagenzinha mixa, que os dois deixaram para o gerente de Marketing, Eduardo Simon, fazer: de 22 a 24 de fevereiro ele vai a Bogotá, na Colômbia, participar da XXV Vitrina Turística Anato. As despesas com passagens, diárias e um “custo cooperado Embratur” somam “só” US$ 3,600 (cerca de R$ 7,7 mil).

Toda regra tem suas exceções. O aperto nos gastos com diárias que o governo LHS tentou implantar, estabelecendo normas rígidas que definiam número máximo de dias de afastamento de servidores e outros parâmetros para moralizar a coisa, parece que têm, no caso da dupla Meira/Walendowsky, uma grande flexibilidade.

Naturalmente, um estado turístico precisa estar presente em todos os eventos internacionais, mesmo que o País tenha um Ministério do Turismo e um Ministério das Relações Exteriores fazendo quase a mesma coisa.

As autorizações do governador para tantas e tão freqüentes ações promocionais no exterior certamente estão apoiadas na esperança que os ganhos com o aumento do fluxo de turistas e de investimentos estrangeiros em turismo tornem essas despesas insignificantes (e lhes dê efetivamente um caráter de investimentos).

DEVER DE CASA
Em todo caso parece que tanto o esforço do Tesouro quanto o sacrifício dos comissionados obrigados a praticamente viver na ponte aérea Brasil-Europa pode ir água abaixo se o Estado não fizer seu dever de casa.

Coisas como, por exemplo, a inacreditável prisão de uma centena de turistas chilenos, a inaceitável falta de saneamento básico, a ocupação desregrada do litoral e a violência urbana crescente não só podem fechar as portas eventualmente abertas, como também fazer com que se espalhe, mundo afora, que a propaganda é enganosa.

O FUTURO DA PONTE
Hoje à noite o governo estadual faz grande festa na cabeceira da ponte Hercílio Luz, para marcar a assinatura da ordem de serviço da restauração. Já eu prefiro esperar um pouco mais antes de festejar. A coisa vai levar tempo e muita água, cocoroca e baiacú vão passar embaixo da ponte antes que a gente possa, finalmente (e se tudo der certo), voltar a utilizá-la.

COMEÇOU!
O choque entre o movimento Passe Livre (aqueles que defendem que o trabalhador de salário mínimo pague passagem, mas o estudante filhinho de papai viaje de graça) e a PM fez ontem sua primeira vítima: o bom senso.

Ao prender o Cláudio Silva, fotógrafo do Diário Catarinense e reter seu equipamento, a Polícia Militar deu, literalmente, um tiro no próprio pé. Demonstra despreparo, falta de treinamento para lidar com movimentos populares e principalmente desconhecimento da Constituição.

Certamente hoje alguém vai tentar justificar como fato isolado, dirá que algum policial exagerou ou mesmo que o Sarará (o fotógrafo) desacatou a autoridade. Tudo em vão: atos como o de ontem mancham a corporação e o governo como um todo.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006

QUINTA

Nada desmoraliza mais um código, uma norma, uma lei, uma convenção, do que a impunidade. E se não é pra cumprir, pra que colocar a placa? Isso aí é do lado do supermercado Angeloni no Santa Mônica. A placa tá lá, mas ninguém respeita.
Dia desses tinha até um carro da polícia parado aí (foi uma parada rápida, só pra fazer uma fezinha no bicho, que funciona acoplado à maioria das lotéricas, mas todo mundo faz de conta que não sabe e não vê).


CAÇA AOS TURISTAS
Enfim alguém tomou alguma providência. Estava mesmo um absurdo: centenas de estrangeiros circulavam impunemente pelas nossas ruas, em ônibus e vans, espionando nossas atrações turísticas e bisbihotando as praias. Isso tinha que dar no que deu: cadeia pra todo mundo.

Onde essa gente pensa que está? Na França? No Canadá? No Japão? Bem fez o patrulheiro que desconfiou do sotaque e mandou para o xilindró esses perigosos turistas chilenos.
Porque se eles se sentissem muito à vontade, logo viriam outros e mais outros, numa invasão cada vez mais difícil de controlar.

DOCUMENTOS!
Quando o secretário Benedet, da Segurança, começou a dizer que os crimes contra turistas estrangeiros eram cometidos por outros turistas estrangeiros, deu a senha para que todo mundo abrisse o olho, já que, segundo o secretário o turista é, em princípio, suspeito.

E é verdade: por que um bando de gente sai de seu País, paga uma grana de passagem e hotel e podendo ir pra qualquer lugar no mundo, vem pra cá? Não faz sentido.

Todos os livros, revistas, sites de Internet e folhetos sobre viagens que existem no mundo recomendam que, em países como o Brasil, o melhor é colocar documentos originais e outros valores no cofre e sair pronto pra ser assaltado. Ora, só gente suspeita vem para um país como o Brasil.

E não é muito suspeito acreditar num aviso que é dado até pelas embaixadas brasileiras no exterior e sair sem documento do hotel? E em grupo? E guiados por uma empresa de turismo? Não dá. Só prendendo e deportando.

MANEZINHOS NO RÁDIO
Acho que já falei nisso meses atrás, mas volto ao assunto porque vale: quando estiveres em Florianópolis ou por perto, às 11h30min dos dias de semana, sintoniza o rádio AM nos 890 khz (Band AM).

Durante meia hora vais ouvir o Miguel Livramento e o Walter Souza numa conversa mole de dar gosto. Os dois são veteranos do rádio e dão um show. Quem não é de Florianópolis talvez perca metade das piadas e brincadeiras, mas pelo menos fica sabendo como é que a gente é. Ou era.

BRIGA DE FOICE
O PT catarinense vai mostrar todas as suas armas (e garras) nessa disputa entre o grupo que apoia a candidatura do Fritsch e o pessoal da Ideli. Não é pouca coisa que está em jogo e nos dois lados tem pesos-pesados dispostos a mostrar quem tem a máquina do partido na mão aqui em Santa Catarina. Não dá pra arriscar palpite.

SOGRA NA RUA
O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo (PCdoB), quando se mudou para a residência oficial, não devolveu o apartamento funcional que usava como deputado. Colocou lá, para morar, sua (dele) sogra. Ontem, pressionado, ele despejou a sogra e devolveu o apartamento. Talvez ela vá morar com ele. Bem feito.

O governador LHS tem esssa mania: no encerramento das solenidades fala pra todo mundo levantar a mão direita e geralmente grita “Viva Santa Catarina” enquanto dá um soco no ar. Às vezes grita outras frases mais longas e todo mundo da mesa tem que pagar o mico, pra não ficar mal visto no partido.
Afinal, vai que o homem se reelege...

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006

QUARTA

As fotinhas acima são só pra calar a boca de quem acha que o Secretário da Segurança trabalha pouco. Ele está indo pessoalmente a cada uma das regionais entregar solenemente em mãos as viaturas que o LHS comprou. Não pode correr o risco de mandar por um portador, porque vai que o sujeito rouba o carro... Ou, o que é mais provável, rouba os votos.

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ESCOLA, A ÚNICA SAÍDA
Já que estamos falando em polícia: violência não se combate só com polícia melhor treinada e equipada. A escola, depois do atendimento às necessidades básicas de sobrevivência, é o principal caminho para a construção de uma sociedade minimamente civilizada.

O Decreto do governo estadual que cria a escola de tempo integral (que até agora funcionava em caráter experimental) é um primeiro passo. Como ainda são poucas unidades (150 este ano), talvez a população não tenha ainda se dado conta da importância desse projeto para a melhoria da qualidade de vida de todos.

Com algum cuidado em oferecer ocupação criativa e interessante para os dois turnos e esforço em fazer crescer o número de escolas de tempo integral, em pouco tempo teremos cidadãos (e cidadãs) melhor preparados. Gente que valorize sua própria trajetória e não seja facilmente recrutada pelo tráfico ou atraída pelo brilho ilusório de uma vida bandida.

ESCOLA EM FRANGALHOS

O mesmo governo que diz que pretende instalar ensino em tempo integral, tem escolas interditadas quase caindo. Perguntei ontem para a Secretaria da Educação por que o LHS, que tanto visita o amigo Morastoni e Itajaí, deixou a Henrique da Silva Fontes chegar onde chegou? E por que deixa o colégio Nereu Ramos (na Fazenda) também ficar nesse estado?

A explicação soou-me um tanto quanto simplória, mas vai ver que é isso mesmo: “Itajaí teve as piores gerências de educação do estado e quando assumimos, em 2003, todas as 46 escolas estavam sucateadas, 100%. Na média, no estado inteiro, encontramos problemas em 40% das escolas. Mas em Itajaí e aqui em Florianópolis, a situação era mais grave”.

SÓ AGORA?
A assessora que me atendeu na Secretaria da Educação conta que até agora foram reformadas ou recuperadas a maioria das escolas: 30. Entre as 16 que continuam no bagaço estão a Henrique Fontes, a Getúlio Vargas e a Nereu Ramos.

Fiquei espantado em saber, dessa fonte tão oficial, que a licitação para a reforma da Henrique Fontes (750 alunos!) e da Getúlio Vargas “foi encaminhada na semana passada”. Ou seja, a coisa ainda vai levar um tempão.

A Nereu Ramos (500 alunos!) vai continuar no prédio velho até que um novo seja construído. Aí o antigo será demolido (se não cair antes). O governo diz que já gastou mais de R$ 20 milhões com essas reformas, “num trabalho histórico de recuperação do patrimônio da rede pública estadual em Itajaí”. Então tá: pelo jeito 2006 vai terminar e Itajaí ainda terá escolas estaduais na fila da reforma.

TOPLESS JÁ!
Li no Cacau Menezes que foi só uma jornalista espanhola tirar o sutiã do biquini na civilizada Jurerê Internacional que apareceram cinco policiais armados, mandando ela cobrir as vergonhas e a ameaçando de prisão.

Ora, pois na mesma Jurerê Internacional, uns dias antes, uma família de turistas argentinos estava fazendo um churrasquinho no quintal da casa quando entraram dois malandros armados e fizeram a limpa. Claro que, nessa ocasião, não apareceram os cinco policiais dando voz de prisão. E se os peitinhos da colega foram imediatamente presos, o mesmo não aconteceu com os bandidos.

Tá certo que eu sou de outro tempo, mas prefiro mil vezes que a polícia se concentre na bandidagem e não perca tempo tentando cobrir o sol com a peneira. Principalmente porque quem tem uma televisão aberta com o nível de sexualidade explícita, gratuita e precoce que nós temos, não tem moral (nem razão) pra ficar regulando mixaria.

O RIO DE JANEIRO É AQUI
No noticiário do Rio de Janeiro é bem comum, mas a gente chega lá: ontem à tarde um caminhão de frete levava uma mudança de uma família expulsa por traficantes do morro da Costeira e, numa das sinaleiras da via expressa sul (na altura do Saco dos Limões), encostou uma moto com dois sujeitos, que fizeram vários disparos. Mataram o motorista e feriram duas pessoas. E, é claro, sairam como se nada tivesse acontecido, de volta para seus domínios.

Peito de fora não pode, mas fuzilamento à luz do dia e no meio do trânsito, parece, não tem muito problema.

CORRUPÇÃO EM DEBATE
No final de março o Tribunal de Contas e o Instituto Ruy Barbosa vão realizar em Florianópolis o “Seminário Internacional: Corrupção e Sociedade”. Virão palestrantes de peso e pelo jeito será um evento de repercussão nacional, tratando dos vários aspectos dessa praga internacional.

Resta saber se a senadora Ideli também recusará o convite para participar ou se sentirá pessoalmente ofendida, como aconteceu no festival de música de carnaval, ao ver que a primeira colocada falava em mensalão.
Quando encontrar com a senadora quero ter coragem pra dizer pra ela aquela velha frase: “quem não deve não teme, companheira”.

Como o PT decidiu que a crise passou e decretou que mensalão foi invenção da imprensa pequeno-burguesa aliada à direita furiosa e que a ética do PT está praticamente intacta, seria bom que a senadora parasse de dar bandeira e deixasse de vestir a carapuça com tanta facilidade.

PALAVRÃO PRA ENCERRAR
Estava eu calmamente batucando estas maltraçadas, ontem, exatamente às 17h10min, ao som inspirador da última sessão extraordinária da Assembléia Legislativa (o deputado Lício Mauro da Silveira fazia a chamada nominal de uma das votações) quando, no intervalo, entre um nome e outro ouviu-se, claramente, um sonoro “p** que os pariu!” pronunciado perto de alugum dos microfones.

Claro que a câmera da TVAL não mostrou quem cometeu o deslize nem por que teria soltado tão eloqüente exclamação. Acho que, de todos os deputados presentes, só dá pra livrar a cara das duas deputadas. A voz era masculina. Em todo caso, pode ser que o deputado boca-suja estivesse apenas comemorando o fim da convocação extraordinária. Afinal, foram votados e aprovados 44 projetos, a maioria concedendo benefícios a servidores.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

Novidade no pedaço

Normalmente eu transcrevia aqui a coluna do DIARINHO num único “post”, com todas as notas como se fossem uma coisa só. Colocava o dia da semana como título e deixava aquela “tripa” inteira.

Alguns leitores, mais habituados aos blogues, reclamaram dizendo que seria melhor que cada uma das notas fosse “postada” separadamente. Isso permitiria, por exemplo, comentar cada um dos assuntos.

Como acordei mais cedo, resolvi fazer o teste. Cada uma das notas da coluna de hoje (terça, 14 de fevereiro de 2006) está aí embaixo, embaladinha uma a uma (os mais velhos certamente lembram do drops Dulcora). Vamos ver se fica melhor assim. Boa leitura.

PMDB EM CAMPANHA

Comentei isso aqui no final de semana, mas agora, graças ao Allan Pyetro, leitor do DIARINHO em Palhoça, posso mostrar a coisa preto no branco (se clicar na imagem abre-se uma ampliação).

O UNIFORME VEM AÍ

Algumas mães e pais mais afobados compraram roupa e material para os filhos que estão na rede estadual de ensino, certamente duvidando da promessa do governo, já que as aulas, na Grande Florianópolis, começaram hoje e nem sinal do uniforme e do material.

A Secretaria da Educação, porém, garante que a partir do dia 20 o “kit” dos estudantes começa a ser entregue em 18 regionais, entre as quais Florianópolis. Na verdade, o processo todo é complicado, porque envolve muitos fornecedores e um número grande de itens. Nem tudo está chegando ao mesmo tempo e a Secretaria está esperando completar os “kits” para iniciar a entrega.

Mesmo com o atraso e com a desinformação de algumas escolas, a medida vai ajudar bastante o pessoal que já anda argolado com o custo de vida: pelo menos reduz algumas das despesas que azedam o começo do ano.

BLITZ NO ESCURO

Na sexta à noite passei pela Lagoa da Conceição e logo na chegada, depois da entrada pro LIC, tinha uma blitz policial, coisa que está virando rotina nos finais de semana da região.

O que achei mais interessante foi que os coitados dos guardinhas tinham que fazer uma força danada pra enxergar os documentos, porque bem ali onde acontecia a blitz estava uma escuridão danada.

Não sei se eram lâmpadas queimadas ou se não tem poste mesmo. Mas os coitados, pelo jeito sofrem toda semana com o mesmo problema e ninguém toma providência. Talvez a Segurança, a Prefeitura e a Celesc até já estejam naquele tradicional jogo de ofício pra lá e pra cá.

A menos, é claro, que a escuridão faça parte do esquema do “eu faço que não te vi e tu fazes de conta que não passastes por aqui”.

COMO PROTESTAR?

Falei aqui que o pessoal dos movimentos contra o aumento dos ônibus devia achar um jeito de protestar sem perturbar o restante da população. E o Mosquito, lendário agitador, me pergunta se tenho alguma sugestão de protesto que não incomode ninguém.

Claro que ele tá tirando sarro da minha cara: imagina se eu vou ensinar o Pai Nosso ao Vigário. Sei o que me incomoda e o que incomoda ao pessoal que me rodeia. Agora, descobrir como conciliar a necessidade de fazer alguma coisa com o direito dos demais, é coisa pra profissional.

PARENTE COMPETENTE

Essa história de nepotismo nos Tribunais de Justiça (e a defesa desesperada que os desembargadores fazem das suas famílias) é um dos capítulos mais saborosos (e dolorosos) da história brasileira contemporânea.

O LHS DE CAMPANHA

Lembram daquele apagão que teve em Florianópolis em 2003, quando a Ilha ficou umas 70 horas sem luz? Pois uma das coisas que lembro bem daquela época é que o governador LHS dizia que não ia subir em poste nem colocar o capacete dos engenheiros da Celesc pra inspecionar a construção da linha alternativa. Diziam, ele e assessores, que essas coisas faziam parte do arsenal de recursos populistas de seu antecessor (Amin) e que ele não faria isso só pra sair na foto.

Agora, volta e meia a gente vê o LHS com um modelito diferente. O último é o saco de colher maçãs. Como se fosse um operário da fruticultura. Imagino que hoje o LHS não teria mais problema em colocar o capacete, subir no poste e apertar o parafuso de alguns isoladores.

IRANIANO CANADENSE

Quem anda circulando no estado, fazendo palestras em cada uma das regionais, convidando empresários para participar de missões comerciais ao Irã e ao Canadá (!!!) é o assessor internacional da Secretaria de Articulação Nacional de Santa Catarina, Shahram Korramshar (ou seria Sharam Khorramshi? ou então Shaharam Khorramshai?).

De origem iraniana, o Sharam, que é simpático, poliglota e bem falante, mora em Toronto, no Canadá e trabalha em Brasília. É a gente que paga o salário dele. Mas isso não significa que se consiga saber, com facilidade, o que ele faz e por que Santa Catarina tem que ter um servidor com as qualificações dele na folha de pagamento.

Uma vez eu tentei descobrir o que exatamente ele fazia no governo, mas as explicações eram tão complicadas que deixei de lado. Minha principal dúvida era (e continua sendo): por que diabos, tendo uma Secretaria de Articulação Internacional, o governo catarinense mantém um assessor internacional lotado na Secretaria de Articulação Nacional? Parece ser, no mínimo, falta de articulação.

CONCURSO TEMPORÁRIO

A SC Parcerias inventou uma novidade: abriu um concurso meia boca pra preencher com servidores temporários cargos que serão preenchidos daqui a alguns meses por servidores efetivos que serão selecionados por um concurso pra valer. Os temporários passarão por uma “seleção simplificada” sem prova, só na base dos títulos.

ENTREVISTÃO

Na foto, o ex-governador Esperidião Amin aproveita uma folga no torneio de dominó do final de semana em Bombas, pra ver o jornal com o primeiro entrevistão. A iniciativa de abrir um espaço generoso para ouvir lideranças políticas e empresariais num jornal popular e de grande tiragem tem tudo para ser um sucesso de público e de crítica.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

SEGUNDA

O ANEL DA MAÇÃ
O governador LHS, pra reforçar o orçamento (foto acima), esteve ontem em São Joaquim para trabalhar na abertura da colheita da maçã (agora ele já está mais experiente, depois de ter treinado em Fraiburgo, dias atrás).

Ficou tão feliz de terem dado a vaga pra ele, que assinou na hora a autorização pra (finalmente!) asfaltar os primeiros sete quilômetros do tal “anel da maçã”. A rodovia atenderá 280 produtores. As maçãs ficaram contentíssimas, porque daqui a algum tempo não terão mais que viajar sacudindo por estradas de terra esburacadas.

ICMS MENOR PRO VINHO
Ainda animado com a colheita da maçã, LHS atendeu reivindicação dos vinocultores catarinenses e reduziu o ICMS da uva e do vinho de 25% pra 17%. Agora eles vão pagar imposto igual ao de seus concorrentes gaúchos.

A audiência pública realizada em São Joaquim, na sexta, para apresentar e discutir o projeto de asfaltamento da rodovia “Caminhos da Neve” teve sua ata registrada numa, a esta altura, peça de museu. O governo deve estar economizando em computador pra poder pagar os R$ 39 milhões da rodovia.

BLITZ FAZ-DE-CONTA
Na sexta a Prefeitura deu duas batidas no centro da cidade, pra tentar mostrar que não facilita a vida dos camelôs de óculos, cds e dvds pirateados. Só que, apesar da presença da polícia e apreensão de bastante material, ninguém foi preso. Pode?

PRAÇA XV FECHADA

Só pra lembrar que hoje abre a “Casa do Samba”, na antiga Câmara de Vereadores e por causa da festança a Prefeitura fecha aquele lado da Praça XV para os automóveis e ônibus.

Fica fechado até amanhã ao meio dia. Os ônibus darão a volta pela Hercílio Luz, Heitor Blum e Rio Branco.

CARNAVAL DO MENSALÃO

Lula pode achar que o povo já esqueceu do mensalão, mas a marcha que ganhou o primeiro lugar no concurso de músicas de carnaval de Florianópolis mostra que o assunto é bom e ainda vai render bastante: é a “Eu quero um mensalão”, do Zinho.
Eu quero um mensalão
Me dá um mensalão
Meu mensalinho não tá dando conta não
Eu tô devendo e sem grana pra pagar
E tá danado tá ruim de agüentar
Não posso mais chamar a mulher de “bem”
Se não o banco toma, pois dinheiro não tem.

(Bis) Eu posso até encarar uma CPI
Eu não tô nem aí
Eu quero é o faz-me-rir
PALOCCI, O NOVO DIRCEU
Estava nos jornais do final de semana: Antônio Palocci Filho vai sair do Ministério da Fazenda (onde, segundo ele próprio “já dei o que tinha de dar”) e voltar para a política propriamente dita.

Quer exercer, na campanha do Lula e depois, num eventual governo, papel semelhante ao do Zé Dirceu.

As primeiras especulações dão como certa a ida de Palocci para o Ministério das Relações Institucionais, no lugar do Jacques Wagner. E o Murilo Portugal assume a Fazenda. Em junho, Palocci assume a coordenação da campanha de reeleição.

Leva junto um armário, feito em Ribeirão Preto, cheio de histórias mal explicadas e de explicações incompletas.

Ah, tem mais um pequeno detalhe: Palocci se prepara para ser candidato a Presidente da República em 2010.

FEIJOADA DO SEBINHO
O pessoal do Deinfra pede para avisar que já estão à venda as camisetas da 4ª Feijoada do Sebinho, que será realizada no próximo sábado (dia 18), na sede da Associação dos Servidores do Deinfra-Litoral Centro (ASDERLIC), ali na cabeceira da ponte, no Estreito (na rua 14 de Julho).

Quem quiser participar dessa verdadeira operação tapa-buraco do estômago, deve ligar para o (48) 3244-2923 ou 9992-9252.

Pra animar a festa estão escalados o Swing Maneiro, Grupo Artmanha e Lecinho e Banda.

FÃS DO SERRA
Um grupo de intelectuais, professores e profissionais (Luiz Gonzaga Beluzzo e José Márcio Rego à frente), resolveu botar o bloco na rua e criou o site do Movimento Serra Presidente (está em www.joseserrapresidente.com.br). O PSDB e o próprio candidato juram que foram surpreendidos com a iniciativa e que não têm nada a ver com isso.

sábado, 11 de fevereiro de 2006

SÁBADO E DOMINGO

DÁRIO E A CAIXA PRETA
Parece brincadeira, mas foi verdade: o prefeito Dário Berger anunciou os detalhes da nova tarifa única (que começa segunda), ao lado de uma caixa de papelão preta (foto acima). Uma espécie de resposta àqueles que disseram que ele ainda não tinha aberto a “caixa preta do transporte coletivo” conforme prometera em campanha.

Uma coisa que tem sido pouco divulgada sobre o novo sistema, é que é possível andar de ônibus por duas horas pagando apenas uma passagem. Mesmo que troque de ônibus várias vezes. Isso, é claro, se estiver usando o cartão magnético.

Da mesma forma, na tarifa social (dos morros, R$ 1,10), o usuário de cartão, ao pegar um ônibus de outra linha, paga só a diferença (R$ 0,65).

Tudo foi bolado para fazer com que os usuários parem de usar dinheiro e mudem para o cartão. Isso, mais adiante, vai fazer com que os trocadores humanos não sejam mais necessários, mas isso é outra história.

CADASTRO? PRA QUEM?
Na sexta-feira ainda estavam sendo definidos vários detalhes e algumas coisas não foram explicadas adequadamente. Uma delas: para pegar o cartão, o cidadão teria que preencher um cadastro. Que cadastro?

Hoje as informações como nome, endereço, telefone, valem muito dinheiro. Perguntei se esses dados estariam disponíveis para as empresas. Não tiveram, na prefeitura, resposta para isso até a hora em que escrevi esta nota. Pelo jeito teremos que ver na prática, segunda-feira.

Menos mal que não tem valor mínimo de carga para o cartão: o sujeito pode colocar apenas uma tarifa (R$ 1,75) ou mais, conforme o dinheiro que tiver no bolso.

Tomara que a cidade não vire uma babel na segunda-feira: quem não gostou da tarifa única deveria encontrar uma forma de protestar que incomodasse o prefeito e não a população toda.

RONÉRIO SEM LIMITES
Quando a gente fala que Santa Catarina parece uma terra de ninguém, os promotores, juizes e outros esforçados e bem intencionados agentes da Lei se irritam. Mas vejam só se isso não está acima e além de qualquer limite:
“Quem estiver em dia e pagar a parcela em cota única do IPTU até o dia 15 de fevereiro (...) vai concorrer a um carro zero quilômetro e a mais 14 prêmios. Essa é uma estratégia adotada pela Prefeitura de Palhoça (...). Sessenta mil boletos do Imposto Predial e Territorial Urbano (...) começam a ser distribuídos a partir do dia 15 de janeiro em Palhoça”.
Essa “brincadeirinha” é um anúncio a sério, pra valer, da prefeitura da Palhoça (o 15 é o número do PMDB). Não satisfeito, o Ronério ainda colocou seu lindo rostinho nos anúncios de TV do IPTU. De fato, essa é uma terra sem Lei, onde a administração pública está a serviço da campanha eleitoral o tempo todo.

CÉZAR CIM INSISTE
Pois não é que o “sem noção” do Cézar Cim distribuiu ontem, por intermédio da Secretaria de Comunicação, um alentado material convidando para a estréia do ônibus do Ivo Fantasma na segunda-feira, em Blumenau?

E ali ele assume, em letra de forma e para que não fique a menor dúvida, todas as irregularidades (crimes?) que já anunciei aqui: declara, em alto e bom som, que o gerente Ivo Fantasma é mesmo o encarregado do ônibus.

No documento ele também conta aquela história que foi pedir grana do Fundo Social para o Luiz Henrique, pra oferecer cursos em Blumenau, sua base eleitoral.

Um prato cheio para os adversários, uma enorme dor de cabeça para o governo e mais incômodo para os pedetistas, que já estão “por aqui” com o companheiro.

O AMIGO DOS FANTASMAS
Mais uma servidora pública estadual aparece em público para denunciar fantasmas criados pelo incrível Cézar Cim: a Maria de Fátima Souza Bayer, ex-vice-presidente do CONED (Conselho estadual dos Direitos da Pessoa Portadora de Deficiência).

Mesmo correndo o risco, como a Valéria, de sofrer alguma retaliação, a Fafá achou que deveria ser solidária e expor um pouco mais a grande preferência do secretário “Cim, Por Que Não” pelos fantasmas.

Como se toda a estrutura administrativa de Santa Catarina fosse uma espécie de quintal da sua casa de praia, o secretário nomeou para secretário executivo do CONED um conterrâneo (provavelmente um cabo eleitoral) que nunca deu as caras. E agora, dia 10 de janeiro, nomeou outro fantasma, pra a mesma função.

INIMIGO DENTRO DE CASA
Aí, se o pessoal diz que o LHS não gosta daqueles desvalidos, dos pobres, dos portadores de deficiência, deixando ao abandono justamente os que mais precisam de um olhar do Estado, a turma do Centro Administrativo acha que isso é intriga de adversário político.

Que nada, o inimigo está dentro de casa: quando o Cézar Cim nomeia um fantasma para o CONED demonstra, na prática, o desprezo que tem por esse fórum e, por extensão, pelos portadores de deficiência. Quando utiliza-se de cargos comissionados como se fossem empregados de seu gabinete político, demonstra o desprezo que tem pelas tarefas relevantes que a secretaria deveria desempenhar.

A campanha do governador LHS a governador está a toda: agora está até fazendo inauguração de estrada à noite. Por pouco o pessoal não precisou de lanternas pra poder ler a placa. Essa aí foi na região de Rio do Sul (a tal estrada da Madeira). Tem que aproveitar bem o tempo, né?

GRANDES ENTREVISTAS

O DIARINHO estréia hoje uma série de grandes entrevistas de final de semana. Esperidião Amin abre a série, que vai ouvir os principais candidatos e muita gente importante, de todas as áreas. E de todas as correntes políticas. Poucos jornais teriam coragem de fazer isso num ano eleitoral.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2006

SEXTA

EXCLUSIVO
A VERDADEIRA FACE DOS FANTASMAS
Alguns servidores públicos comentaram comigo que eu dei um tratamento muito simpático para o caso do fantasma da secretaria do Cezar Cim.

Chamei o moço de Ivo, o Fantasminha Camarada e coloquei um desenho mimoso, como se os envolvidos não estivessem se utilizando do nosso dinheiro. Como se fosse apenas uma transgressão leve do secretário.

DESOBEDIÊNCIA À LEI
A Lei Complementar 284, que fez a última Reforma Administrativa, estabeleceu a estrutura de cada órgão e definiu sua lotação. Assim, foi criada a Gerência de Proteção Social Básica da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, Trabalho e Renda, definido que tipo de ocupante teria e sua remuneração. E essa função, diz lá, deve ser exercida na sede do órgão.

O secretário, a seu bel prazer e sem oficializar e justificar a alteração (que dependendo do caso precisa de aprovação do Legislativo, porque se trata de Lei Complementar),não pode:

1. dar ao gerente de uma área a responsabilidade por programas de outra gerência (o tal ônibus não pertence à gerência que o Ivo oficialmente ocupa);

2. deslocar o cargo e a estrutura para outro local físico (mudar o local de exercício da função de Florianópolis para Blumenau, por exemplo).

QUEIXAR-SE A QUEM?

Com as explicações dadas pelo secretário Cezar Cim (cuja síntese publiquei ontem aqui), fica claro que o Ivo sumiu porque o secretário mandou. Portanto, não adianta encaminhar qualquer reclamação a ele.

Os interessados em esclarecer esses e outros casos fantasmagóricos, devem ir ao Governador e/ou ao Ministério Público, provocar uma manifestação ou uma providência.

Como já disse e todos sabem, o problema dos fantasmas não se restringe à secretaria do Cezar Cim nem à gestão dele. De vez em quando um agente político acaba mordido pela mosca fedorenta da corrupção, fica momentaneamente cego e acha que ninguém vai notar se ele utilizar uma das vagas de comissão para ajudar a puxar uma brasa para a sua própria sardinha.

“NÃO TEVE DIÁRIA!”
Ontem me ligaram do gabinete do secretário Cezar Cim para pedir que eu fizesse uma retificação: “não é verdade que tenha qualquer diária em nome do Ivo no Diário Oficial”.

Como quem me informou que as diárias existiam não conseguiu, até o momento em que escrevi isto, mostrar o recorte do jornal, registro a correção. Não reduz muito a gravidade do caso, mas é um delito a menos.

CONTROLE DE CAMPANHA
O colunista Paulo Alceu contou que a Associação dos Diários do Interior (ADI) baixou uma norma para “uniformizar” a maneira como os jornais tratarão os pré-candidatos a governador.

A ADI é uma entidade peculiar: funciona como uma espécie de agência, repassando verbas do governo e também como agência de notícias, repassando informação. Eles garantem que a parede que separa os dois departamentos é bem grossa, opaca e resistente.

Já o deputado Joares Ponticelli (PP) enxerga nessa medida o dedo (a mão?) do Secretário de Comunicação, Derly Anunciação (de pé na foto ao lado), responsável pela administração da verba de divulgação do governo e já designado coordenador da campanha de reeleição do governador.

Claro que o secretário nega a interferência, mas em todo caso os jornais que são associados à ADI e aqueles que têm se mantido com a grana do governo já começaram a perceber que em ano de campanha todo cuidado é pouco. Vai que o Derly (ou o João Matos, que também aparece na foto e faz o gênero “bateu levou” da tropa e choque peemedebista) se irrita com alguma notícia e corta a verba?

Ainda bem que o DIARINHO vive a uma distância segura, tanto dos governos quanto da ADI.

CATEDRAL ABRE EM MAIO

A empresa que está fazendo a reforma da Catedral de Florianópolis prevê que em maio termina a primeira etapa e a igreja poderá ser reaberta. Ficam faltando ainda obras que vão consumir R$ 6 milhões, que ninguém ainda sabe de onde virão.

DESCASO INTERNACIONAL

A revista Observatório Social que começou a circular ontem conta uma história escabrosa envolvendo BASF, Faber-Castell e ICI Tintas: elas compram o talco produzido em Ouro Preto por umas empresas mambembes e irregulares, cujos proprietários são estrangeiros que estão clandestinamente no País. E, o pior de tudo, empregam crianças.

Um estudo da Universidade de Ouro Preto mostra que as crianças estão contaminadas por asbesto (amianto), que é um cancerígeno banido de dezenas de países. A reportagem pode ser lida no site do Instituto Observatório Social (www.os.org.br).

Na quarta-feira à noite o governador LHS recebeu o plano estratégico de desenvolvimento que uma equipe de notáveis preparou, em um ano e pouco de trabalho. Na foto, da esquerda para a direita, sorridentes, o ex-ministro Rafael de Almeida Magalhães, o presidente da SC Parcerias, Vinícius Lummertz, o ex-ministro Eliezer Batista, o governador LHS, o Secretário de Estado do Planejamento, Alfredo Felipe da Luz Sobrinho e o ex-secretário Neri dos Santos. Além dos dois que aparecem acima (Magalhães e Batista), o grupo de trabalho também era composto pelos professores Roberto Pavan, Paulo Roberto Lemos e Luiz Martins de Melo.

Não vi ainda o plano (nem sei que tipo de desenvolvimento ele privilegia), mas pelo menos não dá mais pra dizer que não tem ninguém pensando a médio e longo prazo. Resta saber se terá conseqüência prática ou se, depois da campanha eleitoral, será gauardado em alguma gaveta e esquecido.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2006

QUINTA

EXCLUSIVO
A UVA VIU O IVO EM BLUMENAU!

Lembram que ontem falei aqui que a presidente do Conselho Regional de Serviço Social em Santa Catarina, Valéria Carvalho, acusou publicamente o Gerente de Proteção Social Básica da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, Trabalho e Renda, Ivo Hadich, de ser um ilustre fantasma?

Pois ontem fui conversar com o chefe do fantasma, o secretário Cézar Cim (PDT), para perguntar, afinal que história é essa. E ele contou que o Ivo não aparece mesmo, só que é uma espécie de fantasma camarada e trabalhador.

INCLUSÃO DIGITAL MÓVEL
O Secretário admitiu que o Ivo não está onde deveria estar. Na verdade, desde que foi nomeado, o Ivo sumiu porque está cuidando do ônibus da inclusão digital. Antes que alguém mais malicioso fique imaginando coisas: é um ônibus com computadores dentro, usado para dar aulinhas de informática nas bases eleitorais dos secretários.

Foi criado em 2004 pelo Godinho e circulou em Lages e arredores. Quando entrou o Cézar Cim, o ônibus desceu para o Vale e tem circulado em Guabiruba, Indaial, Ilhota e agora está em Blumenau.

E o sumido Ivo é o sujeito que o secretário designou para coordenar essa importante ação de capacitação.

“ELE É MAIS ÚTIL LÁ”
Cézar Cim me explicou o seguinte: “os recursos para capacitação vêm do Governo Federal, são destinados conforme IDH e outros índices e Blumenau acabou ficando de fora”.

Blumenau, vocês sabem, é a base eleitoral do secretário. Então qual foi a saída que ele arranjou? “Falei com o governador, que entendeu a situação e destinou recursos do Fundo Social para que a gente pudesse fazer a capacitação também em Blumenau. Estamos com um programa que atende cerca de 2 mil pessoas e o Ivo é que está coordenando. Aquele é um trabalho muito mais importante e ele está sendo muito mais útil lá”.

Aí eu perguntei: por que não extingüir a gerência, se o que tem pra ser feito aqui é tão sem importância?

“Não, não”, disse o Secretário, “agora no final de fevereiro ele volta, porque começa a ter convênios para assinar. Enquanto não chegarem os convênios, não tem nada para fazer aqui, mas depois ele volta”.

“ATENDIMENTO ÀS BASES”
Segundo o Cézar Cim, “o único problema foi que o Ivo esqueceu de comunicar ao pessoal do setor o que ele estava fazendo”.

Mas não é assim tão simples. Primeiro porque, embora muita gente não reconheça, essa atividade de identificar áreas carentes de ajuda, reforço, treinamento ou apoio, é função técnica, executada com base científica.

Os servidores de carreira da Secretaria, alguns com mestrado e doutorado, que têm essa qualificação técnica, não foram nem comunicados, segundo reconhece o próprio Secretário, quanto mais consultados. Portanto o tal “programa” do ônibus tem todo o jeito de ser apenas o que aparenta: “atendimento às bases” com o dinheiro do contribuinte. E do Fundo Social.

DIÁRIAS FANTASMAS
O Secretário Cézar Cim me disse, até com uma ponta de orgulho na voz, que o desaparecido Ivo “nem está recebendo diárias, porque ele mora em Blumenau, então não tem custo para a Secretaria”. Aí eu, que não entendo muito disso, de morar lá e trabalhar cá, perguntei se então, quando ele vier trabalhar em Florianópolis vai ganhar alguma ajuda para o deslocamento? O Secretário garantiu que não, nesse caso também não ganharia diárias.

Aí eu já não entendi mais nada: se ele não ganha diária lá porque mora lá e não ganha diária aqui, que raios de diárias são aquelas que estão publicadas no Diário Oficial, no nome do Ivo oculto? Vai ver aqueles relatórios de diárias que estão lá também são entes etéreos e sobrenaturais.

TODO MUNDO FAZ...
Não vamos ser injustos com o gentil Secretário (meu xará, tirante o acento e o z, que no telefone me chamou de “Cesinha”): ele não é o primeiro, não é o único e não será o último a utilizar cargos comissionados do órgão que dirige para dar uma forcinha no seu projeto político pessoal.

O antecessor dele, Sérgio Godinho, tem histórias tão ou mais cabeludas, na sua passagem por essa Secretaria.

Só que dói saber que o pessoal efetivo que trabalha lá, muitos dos quais bem qualificados, ganha, se muito, a metade que o Ivo, tem que cumprir horário e remar o dobro, porque as chefias estão em “missões especiais”.

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TELHADOS DE VIDRO
Ontem, na Sessão da Assembléia Legislativa, os petistas, com o deputado Paulo Eccel à frente, levantaram a questão da lista de Furnas (aquela que ninguém sabe, ninguém viu, mas cicula de mão em mão faz tempo), que incrimina montes de pefelistas e tucanos.

Claro que estavam cheios de dedos e de ironia, esperando que algum adversário viesse bater boca. Mudei de canal: essa brincadeira do “teu partido roubou mais que o meu” e do “teu partido roubou primeiro”, já encheu.

VIRA O DISCO, Ô!
Já cansei – e acho que muita gente de bom senso também – dessa história de que a única defesa é o ataque.

O PT parece não acreditar que consiga lavar sua honra mostrando-nos sua face decente e honesta. Precisa, para isso, provar aquilo que a gente já sabe faz tempo: que existia corrupção no Brasil desde o descobrimento. Quer porque quer mostrar que estamos mesmo mergulhados na lama. Ninguém se salva. Nem eles, que foram, por bastante tempo, a minha última esperança de renovação da prática política.

E todos (PT, PSDB, PFL, PMDB e os nanicos) se equivalem quando fazem, nas internas, esse jogo abjeto do “não te investigo se tu não me investiga, não te casso se tu não me cassa” e publicamente defendem, todos, “a mais profunda e completa investigação”.

Saco!

UM BAR NO AR
O pessoal na Internet deitou e rolou em cima da notícia, divulgada ontem pelo Estadão, que na última revisão o AeroLula ganhou um bar na área privativa. Ao custo de apenas R$ 300 mil foi feita a mudança no projeto, para per mitir maior conforto para o Presidente e seus convidados.

À tarde, o ministro do desenvolvimento, Luiz Furlan, direto da Árgélia, tentava apagar o incêndio: “Lula está há 40 dias sem beber álcool, só toma refrigerante e até emagreceu 12 quilos”. Esse Lula gosta de arranjar sarna pra se coçar, não?

SÓ NA HORIZONTAL
Agora só falta promulgar: caiu a verticalização. A Câmara aprovou ontem, em segundo turno, a mudança da regra que obrigava fazer, nos estados, as mesmas coligações feitas na campanha presidencial.

Mas a OAB ameaça ir para o tapetão, porque acredita que não pode valer pra esta eleição uma mudança assim, tão em cima da hora.

Enquanto isso, os conchavos, acertos e alianças continuam em banho maria, mas está cada vez mais difícil manter a coisa em pé.

FESTA NO TRIBUNAL
Os desembargadores do Tribunal de Justiça de Santa Catarina ganharam, ontem, dos deputados, um presentão de ano novo: depois de muita discussão foi aprovada a criação de 58 novos cargos comissionados, com salário médio de R$ 5,2 mil cada um.

Isso significa que suas excelências podem contratar, sem concurso e sem burocracia, 58 novos auxiliares de confiança (40 oficiais de gabinete e 18 secretários jurídicos). Que, por sua vez, também ficarão bem felizes, porque o salário não é de se jogar fora.