quarta-feira, 8 de fevereiro de 2006

QUARTA

CAÇA-FANTASMAS
A presidente do Conselho Regional de Serviço Social em Santa Catarina, Valéria Carvalho, cansada de ver as coisas serem varridas pra debaixo do tapete, resolveu botar a boca no mundo: acusa publicamente o Gerente de Proteção Social Básica da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social, Trabalho e Renda, Ivo Hadich, de ser um ilustre fantasma. E assina embaixo.

Segundo ela, o cidadão só existe no Diário Oficial: tem lá nomeação, férias, diárias, mas no local de trabalho ninguém sabe, ninguém viu. E olha que a tal “Proteção Social Básica” é uma das funções mais relevantes: deveria cuidar dos mais pobres, dos mais desvalidos, que, ao que tudo indica, em Santa Catarina continuam sem pai nem mãe.

TESTEMUNHA OCULAR
A dona Valéria deve saber do que está falando, primeiro porque dirige uma entidade profissional que se ocupa justamente dessa área e segundo porque é funcionária do setor onde o fantasma deveria dar expediente.

E sempre que as chefias somem, sobra pra peãozada, que acaba assumindo as responsabilidades do desaparecido sem o correspondente reconhecimento e remuneração.

Funcionário fantasma não é coisa nova nem rara em algumas repartições públicas, o que falta, pra começar a mudar essa situação, é gente corajosa como a assistente social Valéria.

ABRE O OLHO, CÉZAR CIM!
O secretário a quem o fantasma (ou os fantasmas, porque dizem que tem mais de um) responde é o pedetista Cézar Cim, a quem cabe tomar alguma providência urgente. Tanto se a presidente do Conselho tiver enlouquecido e denunciado um servidor que vai todos os dias ao serviço, quanto se, de fato, o sumido Ivo não for assíduo.

Só pra lembrar, estamos em ano eleitoral, o governador é candidato e ele pode, se achar que a providência tá demorando, tirar o fantasma e colocar alguém de carne e osso no lugar.

COCHILO NO OESTE

Impressionante como tem gente que se atrapalha com o computador. Na Secretaria do Desenvolvimento Regional de São Miguel d’Oeste, alguém usou, para digitar um aviso de abertura de licitação, um arquivo onde estava um texto político, do PMDB. Gravou com outro nome e, no fim, esqueceu de deletar (apagar) a parte que não fazia parte do comunicado oficial.

Pra continuar e completar o desastre, o aviso foi enviado, pelo sistema “on line”, para publicação no Diário Oficial, com o penduricalho junto. Saiu no dia 14 de dezembro, mas só agora o escândalo estourou.

Claro que a oposição está deitando e rolando, dizendo que é um absurdo publicar textos políticos no Diário Oficial, que as SDRs só fazem política, etc e tal. Em todo caso é só ver a tal publicação para notar que o texto abaixo não tem nada a ver com o de cima e está meio sem pé nem cabeça.

A Secretaria de Estado da Administração (que edita o Diário Oficial) já abriu sindicância e até o começo da próxima semana deve ter um resultado. Na melhor das hipóteses, o(a) servidor(a) relapso(a) terá que pagar ao Diário Oficial pela publicação da nota.

O ROUBO NA TRIBUNA
O PSDB e o PT têm batido boca, esta semana, sobre roubo e ladroagem. O ex-presidente FHC abriu os trabalhos com quatro pedras na mão: “a ética do PT é roubar”. Ontem, o líder do PSDB no Senado, Artur Virgílio, continuou no mesmo tom: “nunca se roubou tanto neste País, essa que é a verdade”.

O líder do PT, senador Aloísio Mercadante, disse que a oposição montou contra Lula o mesmo ambiente de ataques que foi armado contra Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jango. E que “o povo sabe disso” e esse é o motivo de Lula continuar crescendo nas pesquisas.

Não notei se o Mercadante disse, em algum momento, que o PT não rouba e não deixa roubar, como dizia o ex-deputado e ex-ministro Zé Dirceu. Mas a lista de Furnas, com nomes de tucanos, circula entre petistas mais afoitos cada vez com maior rapidez e a senadora Ideli admitiu, mais de uma vez, que gostaria muito de por as mãos em provas das roubalheiras do período FHC.

O ROUBO NA HISTÓRIA

Acho que o líder do PSDB exagerou ao dizer que “nunca se roubou tanto”. Porque neste País (e na maioria dos países) sempre se roubou bastante.

O principal lema do funcionalismo público mais sem vergonha é “criar dificuldade para vender facilidade”. Ou vocês nunca chegaram num balcão de repartição e ouviram “não dá”, “falta uma cópia autenticada”, “falta o nada consta”, “só daqui a dois meses”?
E o esperto fica ali, com cara de paisagem, esperando que a gente diga: “mas será que não dá pra quebrar o meu galho só desta vez?” “não tem como dar um jeito?”

O mecanismo é quase sempre esse, com variações. Com um ministro a conversa pode não ser assim, tão escancarada. Com um funcionário graduado e ilustrado também pode ser que a coisa seja mais sutil.

Mas, na história do Brasil, não acredito que tenha tido um único governo, um único período em que espertalhões não tenham violado, abusado e se locupletado com a pobre viúva.

O ROUBO CAMUFLADO
Meter a mão no dinheiro público ou usar cargo público para extorquir dinheiro não é a única forma de ladroagem. Os vereadores e deputados que participam, com diárias e outras despesas pagas, de “eventos” de araque, também estão metendo a mão no nosso bolso. Só que é uma coisa ainda mais disfarçada. Quase camuflada.

O colunista Paulo Schwantz, no site www.politicanuaecrua.com.br, informa que o presidente da Câmara de Vereadores de Chapecó achou-se no direito de vir a Florianópolis, segunda-feira, para se encontrar com o Aldo Rebelo (os dois são do PCdoB), com tudo pago pelo contribuinte. Veio ele, assessor e motorista, em carro da Câmara.

Deve ter pensado, o nobre vereador, “se o presidente da Câmara dos Deputados passeia com tudo pago, por que eu, que sou presidente da Câmara de Vereadores da principal cidade do Oeste, não posso?”

A propósito: o Tribunal de Contas do Estado vai fazer auditorias nas diárias pagas pelas câmaras municipais.

ANTENA DO BARULHO
Olha só que falta de sensibilidade desse veículo de “comunicação”: só agora, por causa de uma decisão judicial, é que a rádio Hulha Negra, de Criciúma, vai mudar a antena, que desde 2002 tem infernizado a vida dos moradores do bairro Ana Maria.
Por causa da potência da antena e dos transmissores, os vizinhos não podiam (e ainda não podem) assistir TV, ouvir rádio ou usar o telefone. O problema é tão grave que o juiz mandou também que a rádio pagasse R$ 1 mil a cada morador das redondezas, a título de “dano moral”.

FALTOU SIMANCOL
Achei pouco, pra tamanha cara de pau: então os donos da rádio não viram, nesses anos todos, que estavam tornando a vida daquele pessoal um inferno? Teve o Ministério Público que acionar a Justiça, para que quase cinco anos depois a rádio fosse obrigada a se mancar? Enorme falta de respeito de um veículo que deveria (porque é uma concessão pública), antes de tudo, prestar serviço à comunidade.

E o pior é que ainda deve ter muita gente, na região, que ouve a tal rádio, sem saber que ela não tá nem aí para a comunidade a que deveria servir.

CADÊ O TURISTA?
Começou a choradeira: no litoral todo, as pousadas, hotéis e restaurantes começam a contabilizar o movimento de verão e tem muita gente dizendo que foi fraco. Ainda mais agora, com as aulas começando.

E tem uns que estão xingando o governo de “incompetente”, porque os turistas não vieram. Como se o pessoal da Santur (que, por falar nisso, gastou uma banana de diárias e passagens) tivesse como controlar o fluxo de turistas. Podem até ter sido incompetentes, mas não dá pra jogar tudo nas costas deles.

TODO MUNDO TEM CULPA
O turismo é um fenômeno complexo: tanto tem responsabilidade o funcionário do hotel que tratou mal o hóspede, quanto o dono do restaurante que vendeu músculo por filé, quanto o prefeito que não arrumou a cidade, o governador que não equipou e treinou a polícia, o presidente da república, que não pavimentou e duplicou as rodovias e não combateu o crime organizado.

E todos juntos são culpados, quando não botam na cadeia quem liga seu esgoto na rede fluvial, quem inferniza a vida dos balneários com o som fora do razoável e quem destrói o litoral com suas mansões e marinas mau gosto.

Eu, por exemplo, não volto mais à cidade do nordeste onde encontrei um resto de barata na comida nem que o governo de lá me dê passagem e estadia de graça. O que mostra que nem sempre uma boa temporada depende só do esforço do governo.

Agora, que os chefes da Santur gastaram diárias demais, lá isso gastaram.

CASAN PRA QUÊ?
No ano passado alguns prefeitos foram à França, numa mordomia paga por uma multinacional de saneamento. Este ano, estão querendo antecipar o rompimento com a Casan, para “municipalizar” o serviço. Não sei vocês, mas eu acho que não é só coincidência. E se alguém vai sair ganhando, não é o povo.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Cesar, que engraçada essa história do turismo. Quando fazem muita propaganda e a cidade fica insuportavelmente entupida de turistas todo mundo reclama dizendo que estão vendendo a ilha toda.

Aí quando o pessoal não trabalha tão bem assim no marketing e não aparecem tantos turistas, reclamam do contrário, que não tem turistas o suficiente.

Esse povo não se decide não?

Particularmente estou achando ótima essa temporada assim, meio vazia. A melhor dos últimos anos!

Ademais, não sei por que o governo e a prefeitura têm que ficar de babá dos empresários de turismo. Eles que se virem. Que tratem de se organizar e bolar suas estratégias sozinhos ora! Eles que paguem as propagandas.

Acho muito errado o governo gastar nosso dinheirinho com ações pra depois uma meia dúzia de empresários ficarem enchendo seus bolsos. Tem que gastar a grana com ações pra população mais pobre. Educação e saúde já!

Se o empresário de turismo quiser moleza, que sente num pudim!