O ASFALTO E OS DONOS DA PRAIA
“O governador Luiz Henrique e o prefeito de Governador Celso Ramos, Anísio Anatólio Soares, celebraram convênio, quinta-feira (15), para o asfaltamento de 10 Km da SC-401 em dois trechos: da BR-101 a Armação (6,5 Km, pela orla marítima) e entre as praias de Ganchos de Fora e Palmas (3,5 Km). O Governo do Estado vai participar com R$ 4 milhões, cabendo ao município uma contrapartida de R$ 400 mil.”
ISSO É BOM OU RUIM?
É bom e é ruim. Bom porque facilita o acesso a uma das regiões mais bonitas do litoral catarinense. Ruim porque pode ser que o município não dê conta de controlar os poderosos interesses imobiliários e de outro tipo que esse asfalto vai desencadear. Vou aproveitar que é sábado e falar um pouco mais sobre essa preocupação.
O FOGUETEIRO
Na Praia Grande, em Armação da Piedade, tem um loteamento onde um sujeito que se acha muito poderoso tem casa. Ele e seus parentes compraram a maioria dos terrenos e deixaram lá, esperando, talvez, o asfaltamento da estrada (será que ficaram sabendo antes?).
Ele age como se fosse o dono do lugar. A vizinhança só dorme quando ele quer. Porque, como gosta muito de soltar foguetes, diverte-se gastando milhares de reais em bombas, morteiros, traques e todo tipo de coisa que faça barulho.
No início de 2005, por exemplo, além de ter infernizado a vizinhança desde o Natal e na mudança de ano, ainda manteve todos acordados na noite do dia 1º para o dia 2: fez uma festa de arromba para comemorar a diplomação de sua mulher como vereadora, pelo PFL, lá em São José, onde estão os negócios da família. Ou seja, parece mesmo ser gente que só se lembra de Governador Celso Ramos pra fazer barulho e especulação imobiliária.
O dinheiro, todos sabem, faz dessas coisas: elege políticos e dá às pessoas essa idéia de que são “donos” das praias. Mas é claro que nosso amigo fogueteiro, embora seja rico e tenha algum poder, não é o rei da cocada preta por aqueles lado. Tem gente mais graúda.
OS MEGA-INVESTIDORES
Ter um belo litoral marítimo é uma bênção e uma desgraça para qualquer município. Uma mansão com vista para o mar tem valor internacional. Atrai dinheiro de todo tipo. É só dar uma circulada pela região da estrada a ser asfaltada e ir perguntando quem são os donos das principais áreas. Tem nomes e sobrenomes de arregalar o olho.
Resta saber se o prefeito Anísio e seus secretários terão peito, força política e visão de futuro para colocar um freio nos abusados e direcionar o esforço dos bem intencionados para uma ocupação racional. O lucro a qualquer preço, o desprezo pelas normas de convivência, a desobediência às leis ambientais é um tiro no pé do turismo, que acaba desqualificado. E um pé no saco pra quem se preocupa com o bem comum.
MAIS UMA DO VDM
Eu falei que ia dar merda. Fazer a abertura oficial de dois grandes eventos populares lá naquela lonjura do Santinho, com o show de um grupo desconhecido não podia dar certo.
Gostaria de saber quem teria sido o(a) irresponsável que expôs o governador a pelo menos duas situações constrangedoras: discursar para cerca de 30 pessoas (fora seus assessores e secretários) num ambiente onde caberiam algumas centenas, talvez mil pessoas. E fazê-lo ouvir um conjunto de jazz argentino cujo baterista (o famoso “quem?”), neto do Astor Piaz-zola era a maior “atração”.
Mas não se deixem levar por esse pessoal da cultura estadual, que não quer que a gente vá aos espetáculos e insistam: consultem a programação (www.sol.sc.gov. br), achem coisas legais e vão lá. É de graça e tem muita gente boa.
MESSIÊ DARIÔ
O prefeito Dário tá na França. Pegou a doença do LHS, do Moreira e do Lula. Ia pro sul da Ilha, viu um avião no aeroporto, não resistiu e embarcou. Hoje ele (e comitiva, é claro) participa da feira Internacional Industrial de Saint Etienne. É bom lembrar que 2005 é o ano do Brasil na França e que por isso tem tanta gente indo e vindo de lá.
O assessor de imprensa do prefeito já entrou no clima e chamou de “desjejum” o café da manhã que o prefeito local oferece hoje para Messiê Dariô. Afrancesou-se rápido, o Ariel.
Por falar em prefeitura e assessoria de comunicação, serão abertos na segunda-feira à tarde, segundo li no Gonzalo Pereira, os envelopes com as propostas técnicas das agências de propaganda que concorrem para servir à prefeitura por um ano e gastar cerca de R$ 3,5 milhões. Algum palpite?
CENTRO CÍVICO
Lembram que eu falei aqui que estavam querendo uma área do aterro, no centro da capital, para construir uma espécie de centro cívico federal? Pois não é que Messiê Dariô gostou da idéia, uniu-se ao grupo e quer incluir, no Centro Cívico, um prédio para instalar a Prefeitura?
Messiê Dariô acredita que um conjunto de prédios públicos no centro da cidade, ocupando espaços mais ou menos vazios (estacionamentos, direto do campo e camelódromo), pode ajudar a revitalizar o centro histórico.
Teremos então o Centro Administrativo estadual no Saco Grande e os Centros Municipal e Federal no aterro. Além da Prefeitura, o Centro abrigaria o Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Advocacia-Geral da União, Procuradoria-Geral Federal e a Procuradoria da Fazenda Nacional.
O DIREITO À INFORMAÇÃO
Uma das grandes diferenças que existe entre administrar uma empresa privada e ser um agente político (numa prefeitura, num governo estadual ou federal) é a amplitude da obrigação de prestar contas, de ser transparente.
Qualquer cidadão brasileiro pode pedir qualquer informação que ache relevante, para si ou para sua comunidade, sobre qualquer serviço público e tem o direito de receber essa informação num prazo razoável. Sem que a “autoridade” (o sujeito cujo salário nós pagamos para que cuide daquele setor em nosso nome e em defesa do nosso bem comum) possa dizer o que deve e o que não deve ser dito.
AQUÁRIO PÚBLICO
As normas legais definem o que é reservado, o que deve ser revelado apenas em certas circunstâncias, mas fora isso, os servidores públicos têm que se sentir em um aquário, com todos os contribuintes de rosto colado no vidro, acompanhando seu dia-a-dia.
Não é à toa que o termo transparência é tão usado e tão apropriado. Porque é disso que se trata: ver nítida e facilmente o que está acontecendo.
Não se pode aceitar, portanto, que qualquer agente político ou qualquer servidor público ignore que vive e trabalha em um aquário de vidro transparente e fique assustado com a “intromissão” do público ou seus representantes.
SAUDADES DAS TREVAS
Se um servidor público coloca a bunda na janela, o problema não é do jornalista que diz que o fulano está com suas “partes” expostas: é do idiota que acha que ninguém vai ver e se vir não vai comentar.
E mais imbecil ainda é quem atribui, a jornais e jornalistas, intenções maléficas e maldosas conspirações, só porque mostram o que todos podem ver: tem gente com a bunda na janela.
Secretamente, têm saudade das trevas, quando tudo se fazia sem que nenhum enxerido pudesse meter o bedelho. Nada saía no jornal. E quando saía, era fácil fazer calar ou colocar na cadeia.
Ora, a melhor forma de fazer com que a gente pare de “falar mal” é fazer com que esses distraídos, incompetentes ou prepotentes sentem-se normalmente às suas mesas e trabalhem.
O PODER EMBRIAGA
Tal e qual o álcool, o poder deixa a vista turva e amortece os sentidos. Dá uma falsa sensação de segurança. Amplia a idéia de que se está acima da lei. É preciso que os jornais e os cidadãos de bem dêem uma sacudida nessa gente de vez em quando.
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