quarta-feira, 14 de setembro de 2005

QUARTA-FEIRA

AS PASSAGENS DE CORTESIA DA DELUBIOTUR

APENAS UMA BURRADA?
Nesse clima de frenesi denuncista em que vive o País, reaparece, com maiores detalhes, a informação que o PT pagou passagens aéreas de parentes do Presidente, do Primeiro-Ministro Palocci e do tesoureiro Delúbio. Alguns fizeram um carnaval em cima disso. Mesmo sabendo que há divergências sobre se é ilegal. Pode ser apenas mais uma burrada, mas parece não ser crime.

MUITO BARULHO POR NADA

O dinheiro do fundo partidário pode ser utilizado pelos partidos para as finalidades que eles acharem mais relevantes para o crescimento, a manutenção e o aperfeiçoamento do partido. Se, em determinado momento (a festa da posse ou outra ocasião especial) o PT achou que devia reunir a família do Presidente, é problema da direção partidária com seus filiados. Nós não temos, a rigor, nada com isso. Da mesma forma, se o partido ficou satisfeito com as explicações do Delúbio sobre o pagamento de algumas passagens para seus próprios parentes, tudo bem. Não é por aí que os inimigos do PT vão encontrar esqueletos no armário. Há coisas muito mais sérias e graves a serem investigadas, mostradas e explicadas. E não só no PT.

O PT SOB FOGO CERRADO
Mais ou menos nessa linha de bater no PT por qualquer coisa, a “denúncia” de que deputados estaduais do PT empregam dirigentes partidários ocupou boa parte da sessão de ontem da Assembléia Legislativa. A defesa dos deputados petistas é que o pessoal realmente trabalha para eles, atende os interesses deles e do partido e que portanto cumprem suas funções. Também acho que seria irregular o sujeito ganhar sem trabalhar. Mas parece não ser o caso. O “crime” é ser dirigente partidário.
Tá bom. Estamos mesmo na temporada de caça ao PT. Vale tudo.

O ESCÂNDALO DO LACRE NA PLACAS
De repente, só porque saiu na Globo, todos arregalaram os olhos e “descobriram” que a lacração das placas dos veículos, em Santa Catarina, está terceirizada para a Associação dos Fabricantes de Placas para Veículos Automotores (AFAPV-SC).

Ora, essa excrescência (amarrar cachorro com lingüiça) já vem de muito tempo. Começou antes do atual governo. E o atual governo a manteve, sem chiar. O grande problema foi que o Detran e o governo LHS não anunciaram, antes da reportagem ir ao ar, que já existem 39 processos administrativos apurando irregularidades constatadas em algumas das empresas que fazem o serviço.

Ou seja, o governo sabia que o modelo tem problemas sérios e estava tomando algumas providências, com essas notificações. Mas foi atropelado pela RBS/Globo. E uma imagem com câmera escondida vale mais do que mil processos.

PIOR A EMENDA...

Ouvi ontem alguém do Detran dizer que o problema poderia ser solucionado se fosse aberto, para os computadores da AFAPV, o bando de dados do Detran. Ou seja, eles acham que se usar mais lingüiça para amarrar o cachorro, ele pode parar de incomodar.
Se eu fosse empresário do ramos de placas ou qualquer outro relacionado a veículos, tudo o que eu iria querer era acesso aos registros do Detran. É o paraíso, com milhares de possibilidades lícitas e ilícitas.

Só que, se não houver fiscalização e rigor, nada muda: qualquer cenzinho ou duzentinho na mão certa faz aparecer lacre, placa, documento, qualquer coisa.

IDELI ROEU A CORDA
Na lista das autoridades que estavam com audiência marcada com o presidente da Petrobras, anteontem, no Rio, constava o nome da senadora Ideli Salvatti. Petista como o prefeito de Itajaí e como a direção da estatal, ela era esperada como reforço importante para os apelos catarinenses.

Não apareceu. Morastoni foi deixado literalmente na mão pela principal figura do PT catarinense.

SC NO DESVIO FEDERAL
Santa Catarina está sendo escanteada de todas as maneiras pelo governo federal (ou o que restou dele). A Petrobras, sabe-se lá por que, vai atender apelos cariocas e ignorar SC. A Infraero diz que está de mãos amarradas. A prefeitura de Florianópolis não consegue arrancar um tostão.

Há quem diga que não se trata apenas de paralisia por causa das denúncias, mas de clara discriminação política contra o estado.

E O AZEREDO, HEM?
O senador Leonel Pavan defende que o presidente de seu partido, Eduardo Azeredo, não seja julgado das acusações de uso do caixa 2 na campanha a governador de Minas Gerais, porque não teria sido usado dinheiro público, “não houve desvio”.

Pavan tem uma argumentação complicada para que não se mexa (por enquanto?) no presidente do PSDB: “O próprio presidente Lula admitiu que todos os partidos deixam de declarar recursos utilizados em campanha, portanto, Lula também tem que ser incluído nessa lista, se forem investigar todas as campanhas passadas”.

Ele lembra, para reforçar a tese do caixa 2 de Lula, que as despesas declaradas de Fernando Henrique Cardoso, na última eleição presidencial a que concorreu, foram de cerca de R$ 47 milhões e as de Lula apenas R$ 3 milhões. “Muito menos do que os R$ 10 milhões que o Azeredo declarou, numa campanha para governo do estado”, afirma.

Pois é, esse argumento, de que tem mais gente que errou e que portanto ou pega todo mundo ou não pega ninguém, é o que vem sendo utilizado, sob grandes críticas, pelo PT. Não pega bem.

SEM NEGOCIAÇÃO
O senador, contudo, diz que o PSDB recusou-se a negociar o caso Azeredo. O PT teria feito a proposta de deixar Azeredo de fora das investigações se o PSDB livrasse a cara de alguns petistas. Não houve, segundo ele, acordo.

E eu, cá com os meus botões, continuo sem entender direito como um partido que tem como presidente um sujeito flagrado usando caixa 2 (o tesoureiro da campanha confessou e tudo), não se sente enfraquecido ao participar do julgamento de outros parlamentares em situação semelhante.

A única diferença, pelo que entendi, é que o caixa 2 dos cassáveis foi montado com dinheiro público e o do Azeredo teria sido montado com dinheiro privado.

PARALISIA AMEÇA REFORMA POLÍTICA
Ontem não foi votado nada, nada, nada, na Câmara dos Deputados. Hoje, tem Roberto Jefferson, portanto nada será votado.

O projeto de reforma política, que está sendo discutido há cerca de 60 meses e já passou pelo Senado, está parado na Câmara. Se não for votado até semana que vem, não tem mais como ser adotado para as próximas eleições.

Ou seja: já tem gente afirmando, no Congresso, que as próximas eleições serão realizadas exatamente como as últimas. Sem mudar nadinha. Tudo o que foi constatado que é fonte de problemas, continuará em vigor. Porque a Câmara presidida pelo Severino, com seus 400 e tantos deputados, não consegue caminhar e respirar ao mesmo tempo.

Cassar e punir é importante, mas é mais importante dar ao País normas eleitorais que tornem mais difícil corromper e ser corrompido.

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