quinta-feira, 22 de setembro de 2005

QUINTA


DIA SEM CARRO? ENTÃO TÁ.

Toda cidade que se preza, nas partes boas de viver do mundo, tem seu “Pedestrian Day”, o dia do pedestre. O dia de ir a pé, de usar transporte público. Um dia contra o automóvel. Florianópolis, que ainda é uma cidade boa de se viver, terá hoje seu “Dia Sem Carro”.

Será uma tentativa que tem tudo para não dar muito certo, porque Florianópolis, graças à falta de visão de seus sucessivos governantes, é inviável sem carro. Tá pior que Brasília, uma outra cidade onde quem não tem carro fica preso na sua vizinhança.

MEU TESOURO
Por décadas o desenvolvimento brasileiro colocou o automóvel além, adiante e acima de tudo o mais. Jogaram os bondes no lixo, sucatearam os trens e as ferrovias, viraram as costas para o transporte marítimo. E botaram na cabeça de todo mundo que carro é status.

Quem não tem carro próprio se sente meio cidadão de segunda classe. Florianópolis assumiu como poucas cidades esse mito: a média aqui é mais de um carro por pessoa. O resultado é fácil de ver.

UM OUTRO MUNDO
Nas cidades do mundo onde o direito universal de ir e vir é levado a sério, a mobilidade pública é muitas vezes maior que nas cidades brasileiras. E no Brasil Florianópolis é um dos piores casos.

Tem várias cidades onde o sujeito só precisa de carro se quiser. Para viajar, por exemplo. Para ir para o trabalho ou para circular pela cidade, não tem a menor necessidade. Todo mundo que já viajou um pouco conhece vários exemplos. Aqui e lá fora.

SONHO IMPOSSÍVEL
Metrô é uma coisa muito civilizada. Bonde é ótimo, silencioso e eficiente. Transporte marítimo é o que há, com as modernas embarcações, rápidas e seguras. Trem é uma delícia para médias e grandes distâncias. Ônibus é ótimo pra gente ir vendo a paisagem. E um sistema simples de usar que integre tudo isso é fundamental.

Pra nós, que estamos séculos atrasados, tudo parece sonho. Dá impressão que jamais poderemos desfrutar da nossa Ilha do jeito que merecemos. Sem estresse, sem engarrafamento.

SEM CARRO? EU?
Então hoje, durante o dia, a Av. Paulo Fontes (ali, perto do Mercado Público e do Terminal Central) estará fechada e a Prefeitura promoverá uma série de atividades.

Em outros locais, as escolas realização passeios de bicicleta e caminhadas. O pessoal da bicicleta vai mostrar que essa é uma boa alternativa para o automóvel.

E a turma da cadeira de rodas, que sofre mais do que quem está a pé, vai aproveitar o dia para fazer manifestações por uma cidade com melhores condições de vida para quem tem dificuldades motoras.

ÓLEOS E GORDURAS
Vocês estão pensando que agora tudo é magro, desnatado, esquelético e sequinho? Pois começa hoje em Florianópolis um Simpósito Internacional de Tendências e Inovações em Tecnologia de Óleos e Gorduras.

Durante dois dias pesquisadores, professores e estudantes vão discutir, debater e conhecer as novidades gordurosas, oleosas e naturalmente escorregadias. Vem gente de vários estados e países.

A organização é de uma entidade que nem imaginava existir: a Sociedade Brasileira de Óleos e Gorduras (que tem a sonora sigla SBOG). Imagino que nos intervalos das palestras serão servidas bolachinhas amanteigadas, salgadinhos fritos e todo tipo de alimento feito, temperado, conservado ou decorado em óleos e gorduras.

E, é claro, cafezinho com adoçante, que afinal o pessoal precisa cuidar do corpinho.

TAPETE ENROLADO

O jornalista Gonzalo Pereira (www.gonzalo.com.br) informa que entrou areia na “operação tapete preto” com que a prefeitura dos Berger pretendia começar a mostrar serviço.

Alguma boa alma distraída “esqueceu” de cumprir os prazos de entrega, ao Tribunal de Contas, dos editais de licitação para construção de viadutos e para pavimentação de ruas. Aí o Tribunal foi ler com atenção e encontrou mais algumas pedrinhas.
Os irmãos Berger têm dez dias pra se explicar.

ESCÂNDALO DO LACRE
Ontem o escândalo do lacre foi discutido na Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa. Estiveram lá, para se explicar, o secretário Ronaldo Benedet e o diretor do Detran.

Essa história de dar a uma entidade de classe o poder de fiscalizar seus associados é a mais evidente demonstração que tem gente que acha que ainda hoje se pode amarrar cachorro com lingüiça.

Como era de se esperar, falou um, falou outro, todo mundo muito preocupado, todo mundo querendo resolver, explica daqui, explica dali, providências serão tomadas, etc e tal. Não se avançou um milímetro, mesmo porque ali é só um espaço parlamentar.
E quem poderia chegar anunciando medidas concretas já tomadas, passou por ali avisando que estava se preparando para agir com rigor, “mas sem tornar inviável o emplacamento”.

Ora esse “código”, para bom entendedor, significa que será feito um ajuste, mas ninguém do atual esquema precisa se preocupar: as boquinhas estão asseguradas (“direito adquirido”, saca?).

E a gente aqui, pastando e pagando os impostos.

TADINHO DO SEVERINO...
Condenado, segundo suas palavras, por “empobrecimento ilícito”, o orgulhoso representante do baixo clero no poder despediu-se, pra variar, acusando a imprensa. Disse que tem gente que usa a liberdade de imprensa pra enxovalhar a honra alheia. Nada deve, nada fez de errado, provará sua inocência nos tribunais e seu curral eleitoral o reconduzirá novamente à Câmara Federal. Nenhuma novidade, portanto. Dráusio Varela, autor de “Carandiru”, disse que nunca encontrou, naquela enorme casa de detenção de São Paulo, um só apenado que não clamasse inocência.

BARULHEIRA
Já andastes a pé no centro de Florianópolis? Sentiu a barulheira? Toda loja se sente no dever de colocar uma caixa de som na porta, para gritar suas ofertas ou simplesmente tocar música que nunca é do gosto da gente.

E nos bairros passa motocicleta de som, kombi de som, caminhão de som e os tais vendedores de gás com suas músicas repetitivas e insuportáveis. Sem falar nas festas, que cada um acha que pode fazer com o volume a toda, em qualquer hora e lugar.

Pois agora a Fundação Municipal do Meio Ambiente, Floram, e Ministério Público do Estado de Santa Catarina, resolveram fazer o 1º Seminário de Controle de Poluição Sonora de Florianópolis. Será no dia 4 de outubro, das 14h às 18 horas, no auditório do Ministério Público, no edifício Casa do Barão, 611, na Avenida Otto Gama D’Eça.

Vão discutir o barulho urbano. E pedir silêncio. Porque tem muita autoridade estadual e municipal que não sabe que o silêncio é um direito que a lei protege. Alguns até acham bonito e “moderno” os carros andarem com sons de trocentos watts de potência, enchendo a nossa paciência com aqueles “bate-estacas” breguíssimos.

Querem divulgar o programa Silêncio Padrão, uma parceria entre o Ministério Público, Floram, Fatma, Inmetro e Secretaria de Segurança Pública para melhorar a fiscalização do que está previsto na Lei Municipal 003/1999 que dispõe sobre “ruídos urbanos e o bem estar do sossego público”.

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