sexta-feira, 25 de maio de 2007

Sexta

[Nunca é demais lembrar que, neste blog,
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O GOVERNO
Esse pessoal da foto acima, que parece orgulhoso e faceiro de estar ali, posando com um certificado, tem toda a razão de sentir-se assim. Combater a aftosa no rebanho bovino catarinense foi uma tarefa assumida por governos sucessivos, levada adiante por veterinários competentes, que não ficavam chorando sobre as dificuldades e iam adiante, porque tinham deveres a cumprir.

Um dos meus tios foi veterinário do governo estadual. No lombo de um jipe sacolejava horas nas estradas lamacentas e esburacadas deste estado e à noite, em casa, ainda tinha que preencher seus relatórios, completar o serviço. Era uma vida sacrificada, mas ele gostava dela e se orgulhava de fazer parte de uma turma que levava o trabalho a sério, que acreditava que estava fazendo sua parte para que o País em que vivemos hoje fosse melhor que aquele País em que eles viviam.

Esse certificado, conseguido com trabalho, esforço, resultado limpo de um planejamento de longo prazo, é o governo que queremos. Serviço público que apresenta resultados que podem ser medidos até internacionalmente.

E O DESGOVERNO
Quase que ao mesmo tempo, como se fosse coisa orquestrada, mais uma demonstração de imbecilidade dentro do Estado: a festa na cadeia. É o desgoverno, que se revela nesses eventos.

E, há poucos dias, a voz do presidente da Codesc foi difundida para todo o estado, orientando um contrabandista que, por coincidência, é diretor da mesma Codesc, sobre onde ele deve entregar o fruto do descaminho. E a TV não mostrou, mas as gravações continuam, com o Içuriti informando para quem serão os “presentes”.

Não vejo grande diferença entre o diretor do presídio onde aconteceu o convescote e o Içuriti. Sob suas barbas, e nas suas repartições, ocorreram festins irregulares, ilegais e manchados por nuvens de suspeitas.

Mas o diretor do presídio foi imediatamente substituído. O Içuriti, em que pesem as gravações, continua firme e forte. Tão forte que o próprio vereador Juarez Silveira disse a alguns colunistas que pretende deixar a política, mas vai continuar na Codesc. Sinal que ali é um porto seguro.

CORRUPÇÃO ENDÊMICA
Por que são tão raros os momentos de orgulho e satisfação e tão freqüentes as frustrações com as tais “autoridades”? Porque muitos dos que ocupam postos de responsabilidade perderam totalmente a noção da realidade.

Perguntem a qualquer empresário que vocês conheçam, que tenha feito negócios com o governo. Se ele não foi achacado, conhece alguém que foi e, se vocês prometerem guardar segredo, eles contarão histórias de arrepiar os cabelos.

Na década de 80 fui ao México e fiquei muito espantado por ver que os guardas de trânsito aceitavam propina para deixar a gente estacionar em fila dupla ou em local proibido. Algum tempo depois, relembrei essa história numa mesa de bar e uma amiga disse que fazia a mesma coisa aqui em Florianópolis. Levava sempre uma graninha pra dar pro guarda (era no tempo em que tinha guarda de trânsito).

Parece que todo ou quase todo nosso serviço público incorporou a idéia que é natural, normal, inevitável, alguém sempre levar “algum por fora”. E, maior o cargo, maior a mordida.

Há quem diga que o Collor começou a cair quando seus “operadores” (é assim que são chamados aqueles que põem a mão na massa) começaram a aumentar o percentual das comissões. O empresariado achava “normal” morrer com 10% e o PC Farias teria elevado o patamar para 25% ou 30%. Aí começou a grita.

Agora, em Santa Catarina, fala-se coisa semelhante (sempre por debaixo dos panos), porque alguns “operadores” estariam extrapolando todos os limites “aceitáveis” de corrupção.

O CÂNCER AVANÇA

Não importa se o diretor, ou gerente, ou presidente, ou secretário, pede 6% ou 60% ou 120% por fora. Qualquer quantia já configura uma chaga, um câncer, que vai corroer não só o dinheiro público, mas, principalmente, as nossas chances de vivermos melhor.

Uns poucos se beneficiam com a corrupção, mas todos nós perdemos, e perdemos muito. Ouvi ontem relatos estarrecedores das conversas havidas recentemente em algumas reuniões, num organismo do estado.

A sensação é que reina um sentimento sólido e impenetrável de impunidade. “Negociações” acontecidas depois da operação “Moeda Verde” mostram que a “pirotecnia” da Polícia Federal (e do Ministério Público e do Judiciário) não assustaram a ponto de fazê-los parar.

É claro que a posição ostensivamente pró-indiciados assumida pelo governador ajuda a tranqüilizar o andar de baixo. E ontem, o próprio presidente Lula mandou “vazar” a frase que usei na foto que abre esta coluna, lá no alto. Que é exatamente a mesma expressão usada antes pelo governador LHS. Nas entrelinhas é possível que esteja escrito “sejam discretos e nada lhes acontecerá”.

UM PLASIL, POR FAVOR
Deveria ter me ocupado, na coluna, de tantos assuntos que estão agitando e atrapalhando a capital. Greves, fechamento de pontes, trânsito infernal, bandidagem a mil... assunto não falta.

Mas ando com o estômago embrulhado e cada vez fico mais enjoado. Dá vontade de vomitar quando vejo, leio ou ouço a forma como o desgoverno, em todos os níveis, está superando o governo que deveríamos ter.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esse Içuriti deve saber de muita coisa. Não cai nem com reza braba.Nisso aí, a PF poderia dar uma ajudazinha né? Dizem que o aumento do patrimonio dele, após ele ser nomeado para "cuidar" dos bingos, não resiste nem aos olhos de um cego auditor da receita. Eta homem forte e intocável.

Anônimo disse...

CESAR.
REALMENTE DÁ NOJO ABRIR HOJE QUALQUER JORNAL, OU ASSISTI-LOS NA TELEVISÃO. A GENTE PERDE UM POUCO A ESPERANÇA DE DIAS MELHORES, POIS CADA DIA, CADA SEMANA, APARECE UM NOVO ESCÂNDALO E OS ANTIGOS VÃO SENDO ESQUECIDOS. CADÊ A PUNIÇÃO?
O PIOR É QUE NA PRÓXIMA ELEIÇÃO OS "JUAREZ, IÇURITIS E JANENES" DA VIDA VIRÃO COM DESCULPAS E PROMESSAS E AINDA ENGANARÃO MUITA GENTE.
"TIRA O TUBO" COMO DIZIA JÔ SOARES....
ARAÇOS
ANTONIO CARLOS