Que grande partido de oposição o PSDB está nos saindo, hem? Pra ganhar uma vice-presidência da Câmara, abraçou-se com o PT e beijou na boca o sapo barbudo. Entrou na canoa que vai levar à anistia do Zé Dirceu e a outros tantos eventos políticos que a gente era capaz de jurar que o PSDB nunca jamais avalizaria. Depois eles se queixam que o eleitor não confia mais em político...
Florianópolis não é a cidade mais barulhenta do mundo. Mas não é, com certeza, a mais silenciosa. Alguém, sabe-se lá em que sala obscura das múltiplas repartições que compõem a Prefeitura, de tempos em tempos permite que mais um “carro de som”, “motocicleta de som”, “bicicleta de som” ou que nome tenha, espalhe seus decibéis pelas ruas da cidade. Certamente com o único propósito de manter os cidadãos num nível adequado de irritação.
Temos, circulando ou estacionados pela cidade, todos os tipos de poluidores sonoros. E todos, acredito, devidamente autorizados, tal a tranqüilidade com que exercem seu ofício de incomodar nossos ouvidos sensíveis. Nem falo dos caminhões, camionetes e motocicletas do gás, com suas musiquinhas repetitivas, embora devesse, porque são igualmente poluidores.
No centro não é difícil encontrar caixas de som estacionadas, à porta de lojas, nas janelas, fazendo barulho. Ou tocando música de flautas de bambu, a todo volume, no largo da catedral. Um andarilho fantasiado, com um megafone potente, circula há anos pela cidade em determinadas épocas, dizendo bobagens, irritando os passantes e anunciando comerciantes que parecem não ter noção do mal que fazem a seus próprios interesses comerciais.
Mas isso aí é pouco, perto da potência dos veículos motorizados que cobrem o município com o barulho travestido de propaganda comercial. Supermercados, produtos de limpeza “genéricos”, sindicatos, todo tipo de mensagem agride os ouvidos e perturba o sossego público. Uma evidente ofensa aos Direitos Humanos, porque não tem como desligar. E não fomos consultados se queríamos ter nosso ambiente de trabalho, estudo ou lazer, invadido por aqueles sons não solicitados.
E o que são aqueles inomináveis e inexplicáveis carros de “mensagens de amor”? Que agressão desmesurada essa que se pratica contra alguém, enviando-lhe milhares de decibéis acima do que recomenda a OMS, com mensagens cafonas, foguetes ainda mais barulhentos e perigosos e o supremo mico de anunciar a todo o bairro o nome da vítima, muitas vezes com o apelido. Esses artefatos, com certeza, são o ícone mais perfeito do ponto a que chegamos no desrespeito ao silêncio alheio. A demonstração acabada de que a convivência nas cidades talvez seja inviável.
Antes que pensem que sou algum velho rabugento sem mais o que fazer do que reclamar de gente honesta que tenta ganhar a vida como pode, devo dizer que não sou o único a reclamar. Resolvi escrever sobre este assunto só porque ouvi de muita gente como se sente mal com essas intromissões agressivas. De donos de hotel a profissionais liberais, de donas de casa a estudantes, os descontentes são muitos.
E a quem reclamar? Os policiais militares acabam sendo o alvo preferencial, pela facilidade do 190. Mas parece que pouco podem fazer, uma vez que o barulho municipal é de competência da Prefeitura e seus órgãos de “meio ambiente” (de ambiente inteiro ninguém quer saber, né?). Lá dentro encontra-se com facilidade quem autorize o barulho, mas ninguém parece estar de plantão para ouvir as reclamações e reduzir o ruído.
Quem sabe se a gente contratar um “carro de som” e estacionar diante da Prefeitura, berrando “chega de barulho! não vamos fazer de Florianópolis a cidade dos tímpanos estourados e das paciências esgotadas! pelo cancelamento das licenças de funcionamento dos carros de som!”, ou coisa parecida, a gente acabe encontrando e conhecendo os funcionários responsáveis por essas autorizações. Mas também pode acontecer que, acostumados com o barulho, nem prestem atenção ao estamos dizendo. E a gente, como acontece aos incomodados nas cidades pouco civilizadas, acabe sendo convidado a se retirar.
Hoje somos seres urbanos que vivem a poucos, pouquíssimos metros de pessoas de quem não sabemos o nome e com quem às vezes nem falamos ou cumprimentamos ao encontrar na rua. Tratamo-nos, de uma maneira geral, com o cuidado e a precaução que se deve ter diante de desconhecidos com algum nível de periculosidade.
Pois nessa chumichunga em que a vida das cidades se transformou, seria muito útil termos, pelo outro, a mesma consideração e deferência que tínhamos quando morávamos em algum sítio, na nossa vida pregressa rural.
Quem abria uma porteira e entrava sabia que devia, ao dono da casa e seus parentes, um respeitoso cumprimento e um claro pedido de licença para chegar, para se aproximar e para trocar dois dedos de prosa. Quem via um estranho se aproximando de sua casa sabia que devia ver se tinha água fresca na jarra, que era preciso acender o fogo e fazer um café. E em seguida responder com cortesia o pedido de licença e dizer, com estas ou outras palavras, que a casa é sua.
Um ritual como este, totalmente assentado nas melhores e mais valiosas normas da vida em sociedade, tornou-se impossível hoje. Justamente hoje, quando a cada três passos damos de cara com um cidadão ou cidadã que nunca vimos antes e com quem precisamos conviver. Justamente hoje, quando o espaço privado reduziu-se a dimensões minúsculas e estamos a todo momento expostos aos outros.
É muito chato escrever sobre esses grandes problemas da humanidade, porque vive dentro de cada cronista de terceira, como eu, um arrogante ditador de regras, que tudo sabe e para tudo tem conselhos e palpites. E nesses casos, a gente não consegue ver uma solução de possa ser resumida a duas linhas, um parágrafo, no encerramento de um papo qualquer. Não existem respostas simples para o que a gente precisa fazer, como a gente precisa agir, para tornar nossa vida menos pior.
Se eu abro a porta, o outro me rouba, se eu abro os braços o outro me esfaqueia, se eu sorrio o outro me dá um soco, se eu me escondo o outro me denuncia à polícia como traficante, se eu ignoro tudo isso, acabo só e sem assunto e se eu presto atenção a isso, acabo paranóico. Eu e o outro temos que ocupar praticamente o mesmo espaço físico, mas não conseguimos conviver. E sempre achamos que a melhor solução é eliminar o estorvo. E o estorvo, claro, é sempre o outro.
Chega, que isso não é conversa pra final de semana. Muito menos um assim, ensolarado e chuvoso, com os ares úmidos e quentes do verão... se pelo menos aquele vizinho desgraçado não estivesse enfumaçando, com a chaminé baixa da churrasqueira, as roupas no varal e me obrigando a manter as janelas fechadas...
4 comentários:
Bom ter trazido o assunto à tona. A coisa está ficando insuportável e a irritação aumentando. As lojas e seus auto falantes voltados PARA A RUA inviabilizam passeios aos sábados pela manhã no calçadão. Tem praias onde a coisa fica insuportável. Não se trata de rabugice. Trata-se de não ser obrigado a ouvir música quando e onde não se quer. Pior é quando vizinhos aderem a essa mania de obrigar outros a ouvir as musicas que eles ouvem. Quase sempre músicas de gosto duvidoso. É uma verdadeira perturbaçào do sossego público!
Tio Cesar
Esse seu problema com o vizinho é antigo não?
É uma convivência difícil mesmo!
Esse chato do megafone devia se mudar de estado, voltar pro nordeste, de onde ele nunca devia ter saído. Insuportável. O melhor que a população tem a fazer, é boicotar o comércio que contrata ele.
Tio César, a sorte dos florianopolitanos é que a região é de muito morro, o que dificulta a passagem dos carros de som em algumas regiões. Aqui em Goiás a coisa é muito pior!
Ah! E esqueceu de citar os aviões que usam o céu como veículo de divulgação de certos circos...
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