Em Florianópolis (como em tantas outras cidades mal administradas) as coisas são feitas pela metade. Quando algum gênio do urbanismo teve a idéia de construir um estacionamento subterrâneo no Largo Fagundes (aquele do lado das lojas Americanas), disseram que a cobertura seria uma bela praça, com chafariz, banquinhos, etc. Um bom local de convivência urbana proporcionado pelos lucros da empresa que explora o estacionamento. Que nada, papo furado. O chafariz tá seco há séculos, a quantidade de concreto e mau gosto está acima do aceitável e os moradores da redondeza só tem queixas da má conservação. Já o dono do estacionamento, a esta altura, deve estar quase podre... de rico.
Aproveito que a capital (e o litoral) está cheia de gente de fora, veranistas que lêem todo dia, curiosos com a linguagem peculiar do jornal, este nosso DIARINHO, pra falar um pouco sobre quem somos e onde vivemos. Para isso, fui buscar, no baú das coisas publicadas há alguns anos, um texto que resume bem a história toda.
A enorme propaganda positiva que Florianópolis tem recebido faz com que muita gente ache que vindo para cá – como se trata de um paraíso – encontrará um lugar seguro, tranqüilo, bonito, cheio de gente interessante, onde poderá viver com metade do que vive em São Paulo e certamente viver por muito mais tempo que lá. Isso é verdade só em parte.
SEGURANÇA – como gostam de dizer as autoridades policiais locais, para justificar seus insucessos, “tá vindo gente boa, mas também tem vindo muita gente que não presta”. Ou seja, temos todos os “produtos” que as grandes cidades têm. Aqui tem assalto a mão armada dentro de ônibus, seqüestro relâmpago, tiroteios em zona de traficantes, assassinatos por motivos banais, furtos, roubo de carros, roubo a bancos e caixas eletrônicos, a lista completa. Instalaram, em algumas esquinas do centro, aquelas câmeras de vigilância, para inibir a ação dos ladrões e ampliar um pouco mais a ação da polícia. Mas é preciso estar atento da mesma forma que nas demais cidades grandes.
BELEZA – a natureza foi muito generosa com Santa Catarina e por décadas os homens (e as mulheres) fizeram muito esforço para devolver o presente. Cada vez que alguém construía uma casa à beira mar, não tinha a menor dúvida: puxava uma canalização de esgoto direto até a praia. Era assim na ilha e no continente. A preocupação com a “balneabilidade” é coisa mais ou menos recente. Decerto depois que algum argentino reclamou de ficar nadando ao lado dos “marinheiros” (que era como conhecíamos os troços que ficavam boiando).
SUBSISTÊNCIA – morar em Florianópolis, de fato, não é pior que morar em Porto Alegre, Curitiba, Rio ou São Paulo. Mas trabalhar e ganhar a vida aqui é muito mais complicado. Primeiro porque é uma cidade cuja economia tradicionalmente girava em torno do funcionalismo público. Durante muitos anos, ser a sede do governo foi a única fonte significativa de renda da cidade. Isso tem mudado, para pior: os governos estão encolhendo, os salários de seus funcionários estão reduzindo (tecnicamente “não aumentando”) e as privatizações estão cumprindo sua parte nesse processo.
A região não tem um parque industrial forte. E o turismo, atividade que poderia dar algum suporte econômico e emprego, tem na realidade três ou quatro meses (dependendo das chuvas e de quando cai o Carnaval) de atividade a plena carga e o resto do ano quase pára.
Mesmo na temporada, a coisa não é fácil. Os navios de cruzeiro, que poderiam fazer escalas aqui, despejando cerca de mil turistas de cada vez, para dar uns passeios e comprar alguns recuerdos, têm dificuldades porque as autoridades locais não conseguem se acertar sobre a construção de um atracadouro, uma bendita poita, sem falar numa estação alfandegada de recepção, essas coisas.
Tem até uma piada, velha e sábia: sabe como fazer pra ter uma pequena fortuna em Florianópolis? É só vir de outra cidade com uma grande fortuna.
HOSPITALIDADE – conta a lenda que o povo é bom, gentil e hospitaleiro. É verdade, mas também em parte. Os pescadores e a gente mais simples, de fato, são muito generosos, no seu jeitão açoriano de ser. Falam rápido, não é fácil entender o dialeto local, e são desconfiados no princípio, como a maior parte da gente simples de todos os lugares do País onde existe gente simples. Muitos deles ascenderam economicamente e continuam do mesmo jeito. Boas praças, bons amigos, bons caráteres. Mas tem uma “raça” de classe média que é extremamente invejosa e raivosa. Morei em São Paulo por seis anos e quando me mudei pra cá meu carro continuou com a placa de lá. Pois não é que já fui xingado na rua por ser “paulista”? Parece que há um sentimento de frustração cuja manifestação externa mais comum é hostilizar quem, tendo nascido fora daqui, “ousa” dar-se bem ou apenas viver “na nossa cidade”.
Todas essas reflexões podem até parecer que eu esteja dizendo “parem de vir pra cá!” Mas eu, que vivo indo pra lá (já morei e trabalhei em Porto Alegre, São Paulo e Brasília), não gostaria de desanimar ninguém que queira vir. Talvez, quem sabe, apenas aconselhar a que pense bem. Muito bem.
9 comentários:
Bom Dia, muito bom, muito bem escrito, parabéns
Boa tarde César!
Só passei por aqui para te avisar que a "Teruska de Minas" está voltando e me deparei com esse post! Uma pérola! Acho que foi ontem também que vi Floripa "under the spotlight" quando um "camareman" de uma afiliada do SBT foi agredido por um PM quando estava cobrindo um atropelamento no terminal rodoviário...
NOTÍCIA
RBS tira Portal do AN do ar??? Desde o dia 9 não tem novidades.
Antes disto o portal já vinha definhando, com poucas coisas novas no portal.
Lamentável.
O portal de A Notícia não saiu do ar, só mudou, mais uma vez, de endereço. Experimenta www.an.com.br pra ver se não chegas lá. Eu tinha o portal nos preferidos, com o endereço via UOL e ali congelou. Outra coisa: só funciona com o internet explorer (deve ser algum acordo da RBS com Bill Gates) no Firefox fica esquisito, desconfigurado.
Há no mínimo dez anos governos estaduais e municipais tem feito propaganda para atrair gente pra cá. Não para atrair turistas mas sim atrair moradores. Nenhuma cidade resiste impunemente a um crescimento populacional acelerado e forçado como o que se viu em Florianópolis . Sua população mudou, novos políticos oriundos da populaçào atraida se destacarão e administrarão a cidade. Será outra cidade mais parecida com a nova maioria populacional e os manezinhos serão considerados como uma espécie de gente exótica.
Cesar, muito bom o post.
Me contaram que soh de Sao Paulo estao vindo 10.000 por ano.
Os voos de segunda pela manha estao lotados de paulistas que moram aqui e que ainda trabalham em Sao Paulo.
O pior que essa gente que vem de fora elegem o Dario Vigilante com seus irmaos metralhas a administrar Floripa.
Ja havia feito um monte de caca em Sao Jose e agora estao fazendo por aqui.
Abs.
Pedro Souza.
Se repararem bem verão que Florianópolis já está ficando meio parecida com São José.
Não sei o porque dos Florianopolitanos (novos e antigos) se acharem melhores do que os josefenses. São de São José o primeiro teatro do Estado e também o primeiro shopping center. Ao invés de uma ilha de desterrados que se acham agora chiques, São José sempre foi uma cidade equilibrada. Quando estourou a fiação na ponte 2 anos atrás, os florianopolitanos vieram tomar banho em São José, porque aí nem tem água.
anoymous 6
Acho que não houve nenhuma ofensa a S. José. Não deve ser entendido assim, pelo menos. O que existe é a preocupação de que Florianópolis continue sendo uma cidade com suas cacteristicas, que a tornaram uma boa cidade. Porém sabemos que é uma luta perdida já no começo. Outra coisa, a favor de S. José: Afinal S. José tem cinema de verdade (acho que ainda tem, no centro da cidade) e Florianópolis não tem mais (salas de projeção em shoppings, verdadeiras catacumbas iluminadas, não podem ser considerados como tal).
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