quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Quinta

Novos radares infra-vermelhos, novos bafômetros, nada nos impedirá de levar esse genocídio estúpido às últimas conseqüências.

NOSSA GUERRA CIVIL
Vocês sabem quantas pessoas se estima que tenham morrido nas estradas, no País todo, neste feriado de Carnaval? Umas 800.

Dá pra comparar, por exemplo, com os soldados das forças de ocupação do Iraque (Estados Unidos e turma), que morreram no período de maio de 2003 a junho de 2004: foram 803. Uma semana nas nossas estradas mata a mesma coisa que um ano no Iraque.

De dezembro de 2005 até hoje, morreram 1.052 soldados no Iraque. Em Santa Catarina, em 2005, morreram nas estradas 1.920 pessoas. Sabem quantos mortos aparecem na estatística oficial do Denatran, no Brasil, em 2005 (não encontrei dados mais recentes)?

34.381 mortos em um ano!

Dá mais de 90 mortos por dia. Na única guerra de verdade onde nos metemos, a Segunda Grande Guerra, morreram cerca de 2 mil brasileiros (metade destes, militares). E para voltar à intervenção no Iraque, o número de civis iraquianos mortos desde que a guerra começou (em 2003) é estimado em cerca de 59 mil. Em um ano matamos, nas estradas brasileiras, a metade de pessoas que os americanos e seus amigos mataram em três anos ou mais.

A máquina de destruição massiva que montamos por aqui é mais eficiente, menos espalhafatosa. Conseguimos criar viúvas, órfãos e aleijados como se isto fosse um fato normal e natural da vida em sociedade.

Nas escolas, não se ensina trânsito, como se ninguém fosse andar na rua ou dirigir. As escolas de motoristas (os tais centros de formação de condutores) são, em sua maioria, umas piadas de mau gosto, caixas registradoras atreladas à vexaminosa rede de corrupção dos Detrans.

Deslizamos fagueiros sobre o sangue das milhares de vítimas que mancham nossas estradas e nossa reputação. Ninguém faz nada de muito concreto para mudar esse quadro. Educação para o trânsito, vigilância severa, punições, viram palhaçada nas nossas mãos. Não levamos a sério, só queremos que a lei funcione para os outros e sempre achamos que nada vai acontecer conosco.

MAUS MOTORISTAS
Não somos nada além de arremedos de Piquets, de Senas, de Fittipaldis, com nossas latas de cerveja, o som bem alto, nosso desprezo pela segurança e com nossa lendária imprudência assassina. Deixamos crianças soltas no banco de trás e elas são as primeiras a voar através do vidro para se espatifar em algum barranco. Queremos mostrar que sabemos correr em via pública e demonstramos ao mundo, com milhares de cadáveres empilhados, com um sem número de mutilados que vegetam ou vivem pela metade, que somos, isto sim, imbecis.

Povinho de merda, este que se mata sem motivo. Suicidas ignorantes metidos a sabichões. Descansem em paz.


O Kennedy Nunes acocorou pra que ninguém notasse que ele estava ali...

COMEÇA O SHOW
A Assembléia Legislativa aquece os tamborins para iniciar, na proxima terça, o espetáculo da votação da Reforma Administrativa do LHS. Será o primeiro teste da nova turma. O governo tem maioria folgada, o que não significa muita coisa, porque a Reforma ameaça interesses justamente de dentro da base aliada.

No caso da redução de cargos comissionados, pode ser que o governo precise da ajuda da oposição para manter sua meta de austeridade. Os governistas vão querer garantir suas fatias do bolo administrativo, que estão ameaçadas com essa história de reduzir as boquinhas. O espetáculo será transmitido pela TVAL. Divirtam-se.

FRATERNIDADE
Durante a ditadura militar a gente esperava pelo tema da Campanha da Fraternidade para poder ter uma palavra de ordem a mais contra a repressão. A Campanha, lançada na quaresma, portanto depois do Carnaval, também ajuda a acordar e a começar o ano. Este ano, chama a atenção para a amazônia (cartaz acima).

País mal-acabado, o Brasil corre riscos diários de perder para estrangeiros espertos, suas riquezas. Temos sempre que correr atrás do prejuízo, apagar incêndios, porque não fizemos, a tempo e há tempos, nosso dever de casa.

A disputa pelo açaí, fruta que há pouco tempo virou moda no Sudeste e Sul (na foto abaixo, uma tijela de açaí, como é servida em muitos lugares), seria cômica, se não fosse trágica. Uma empresa alemã registrou a palavra “açaí” na Europa, outra patenteou o açaí no Japão. Corremos o risco de sermos impedidos de exportar esses produtos para lá. E este não é o único caso de produto natural brasileiro registrado ou patenteado no exterior. Daqui a pouco, para produzir cupuaçu (outra fruta da enorme diversidade amazônica), poderemos ter que pagar royalties a alguma empresa japonesa.

Uma nutritiva tijela de açaí. Provem enquanto podem.

Ficamos doando US$ 20 milhões para a Bolívia, que em troca aumenta o preço do gás que nos vende, fazendo acordos sabe-se lá de que tipo com a Venezuela e desmantelamos a Embrapa e tantos outros órgãos de pesquisa que poderiam patentear processos e assegurar para seus legítimos donos o direito de exploração das riquezas deste país paradoxal, que mantém seus habitantes na pobreza enquanto faz a riqueza de uns poucos, aqui e lá fora.

Povinho de merda, este que se deixa explorar. Ignorantes e servis.

3 comentários:

Anônimo disse...

Esses políticos são mesmo uma PIADA!!! Olha só essa de agora. O Governador cumpriu o que prometeu e mandou pra Assembléia uma lei reduzindo os cargos comissionados. Os deputados não querem, querem aumentar! Pode??? Quero ver pela TV quem são os DEMAGOGOS que dizem defender o dinheiro do povo!!

Anônimo disse...

Cesar,

Retornando das ferias de carnaval, quero parabeniza-lo pela coluna de hoje. Como sempre, impecavel. Parabens!

Pedro de Souza

Anônimo disse...

Parabéns pela coluna.O Brasil ia tão bem nesses "feriadões"! Cresceu uma barbaridade. Agora os políticos(raras e honrosas exceções)voltaram... Lá vamos nós de ré...Um abraço
Alaércio