Liguei o rádio ontem e alguém estava falando que “tem que acabar com essa concentração, Brasília não consegue resolver todos os problemas do Brasil, nem na segurança nem em outras áreas”. Estranhei, porque embora o discurso fosse do LHS, a voz não era parecida. Ou será que ele estava resfriado e por isso a voz estranha?
Mas depois tudo ficou mais claro, ou mais confuso: quem estava falando era o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho. Isto mostra que aquela tecla gasta, na qual o LHS bate todos os dias desde que assumiu o governo, começa a ganhar adeptos. Seja pelo efeito evangelizador do bispo LHS (da Igreja Universal da Descentralização), seja porque a idéia é razoável o suficiente para que outros governadores a adotem voluntariamente.
CONFERÊNCIA
Ainda no rádio, ouvi uma frase, dita pelo locutor do noticiário, que de tanto falarem já está quase passando despercebida: “Ingressos para conferir o desfile das escolas de samba estão esgotados”. Alguém, em algum momento infeliz, achou que conferir poderia substituir assistir e outros alguéns, com a deficiência vocabular que caracteriza os novos iletrados que posam de pós-graduados, utilizou e reutilizou. Conferir o desfile é coisa para os fiscais, para os diretores das escolas, para quem tem alguma função que exige uma observação rigorosa, em busca de algum problema ou para ver se determinados requisitos foram atendidos. Talvez a própria comissão julgadora tenha que, além de assistir o desfile, de conferir como se portou a escola neste ou naquele quesito.
Mas os alegres foliões, que compram ingresso para arquibancadas ou camarotes, vão assistir, sambar, exibir-se, namorar, azarar, pegar chuva, enfim, poderão fazer um monte de coisas, entre as quais certamente não estará a conferência do desfile.
Em todo caso, a praga está tão alastrada que até anúncios comerciais convidam potenciais clientes a conferir as ofertas. Isto significa que o prezado leitor está sendo convidado a comparar, verificar, não aceitar de pronto nem acreditar no que dizem. Acho que o comerciante, em vez disso, gostaria de convidar para aproveitar as ofertas, conhecer os lançamentos, ver as novidades, comprar sem medo. Mas, cego e surdo, talvez embromado pelos iletrados crônicos que habitam as redondezas dos veículos de comunicação, o comerciante topou que usassem o conferir como se fosse sinônimo desses outros verbos convidativos.
Paro por aqui, porque dei-me conta que nem todos sabem o que significa sinônimo. Então vamos deixar pra lá e mudar rapidamente de assunto.
ESSE KNAESEL...
O deputado Gilmar Knaesel disse, a um amigo comum, que desconfiava que “o Cesar Valente não gosta de mim”. Ontem, passseando pela Assembléia Legislativa e tentando me acostumar com as caras novas que habitam aquela Casa de Leis, encontrei o Knaesel e tratamos de esclarecer a questão.
Um homem público, como um secretário de estado, por exemplo, depende muito dos profissionais que o cercam, os tais assessores. Por uma razão simples: é com eles que a gente tem contato mais freqüente. E no caso do Knaesel, durante sua gestão como Secretário, a coisa foi muito complicada.
Contei pro deputado aquele episódio, que os leitores da coluna conhecem, em que uma assessora de imprensa da secretaria dele anotou, embaixo de um texto que seria enviado para jornais e jornalistas, “não enviar para o DIARINHO nem para o Cesar Valente”. E, é claro, o texto acabou sendo enviado, inclusive para mim, com o recadinho anexado.
A coisa virou piada, gerou pedido de desculpas do diretor de imprensa do Centro Administrativo. A culpa da mancada não foi do Knaesel, mas ele nada fez a respeito, para exigir profissionalismo de sua assessoria.
O deputado, que é político experiente e homem vivido, sabe que o jornalismo feito aqui não se nutre de ódios ou amores. E que, em muitos casos, as denúncias até servem de alerta, para os titulares, de bobagens que estão sendo feitas e ditas em seu nome ou na área de sua responsabilidade.
A propósito: estamos, o deputado e eu, muito otimistas com a gestão da professora Elisabete Anderle, que assume até março a superintendência da FCC.
FESPORTE
Já que estamos falando no Knaesel, tem uma outra coisa na área dele que me incomoda: entre as propostas assustadoras da reforma administrativa do LHS, está a extinção da assessoria de imprensa das fundações. Não sei como a Fesporte, por exemplo, vai dar conta de todos os seus eventos. Ali, mais do que um assessor, é preciso uma equipe para trabalhar nas competições e fazer o acompanhamento das delegações catarinenses sob sua responsabilidade nos eventos nacionais.
Enxugar exige uma certa visão de conjunto. Não dá pra prejudicar a ação de governo a pretexto de economia.
AMADORISMO
A TV Record comprou os direitos de transmissão do campeonato catarinense por três anos, superando uma proposta da RBS, até então detentora desses direitos. Ótimo, maravilha.
O problema é que a Record não tem a mínima estrutura para absorver o evento. O narrador é um ex-global, Maurício Rodrigues e o comentarista idem, Raul Plasman. Moram no Rio e a cada jogo caem de paraquedas por aqui, sem nenhum conhecimento da nossa realidade esportiva. Domingo a transmissão de Atlético Herman Aichinger x Avaí, em Ibirama, foi um vexame. Mesmo quem não assistiu pode imaginar o festival de besteira e desinformação.
Perguntei ontem, a um deputado veterano, quais eram as novidades. E ele, malandro e brincalhão, apontou para a última fila de cadeiras do plenário, onde sentam dois dos mais jovens deputados, o Cesar Souza Júnior e o Jean Kuhlmann: “tá vendo aqueles dois meninos? passam o tempo todo brincando e agora até estão falando em trazer, para se distrair durante as sessões, um videogame. Parece que ainda não se acertaram sobre o tipo de videogame, mas dizem que até já pediram para o presidente da Casa providenciar a compra”.
3 comentários:
SOBRE O "CONFERIR". Infelizmente, em algumas situações, o verbo "conferir" substitui mesmo o "assistir". Torcedores da Gaviões da Fiel vão ao campo para conferir a atuação dos jogadores, tanto que depois, se ele atua mal, passam a ameaçá-lo e à família. Um zagueiro, ontem, pediu dispensa do time dos sofredores. Abração.
Prezado jornalista, penso que vc se enganou a respeito dos parlamentares jovens. Embora jovens, são responsáveis e não estão para brincadeira no plenário da Assembléia. Informo-lhe que o "brinquedo" em questão trata-se de um Palm Top, um computador de mão, que permite acesso à internet, e-mails e consulta de arquivos. Conhecendo bem os dois jovens parlamentares, afirmo que foi leviano o comentário do deputado veterano.
Caro anônimo: o seu comentário careta e ranzinza a respeito da inocente brincadeira feita com os calouros mostra que bom humor é um artigo que anda escasso. Qualquer especialista em Relações Públicas diria que a notinha, leve e simpática, foi positiva para a imagem que você tenta, sem graça, proteger. Relaxa, companheiro (ou companheira). Ainda é muito cedo para achar que a gente está batendo nos calouros. Só daqui a algum tempo é que teremos elementos para falar sério (fazendo ou não piadas e brincadeiras) a respeito de como eles estão se saindo.
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