quinta-feira, 19 de abril de 2007

Quinta

Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco o Detran vai deixar que os guardadores de carro façam as vistorias e liberem as carteiras de motorista. Por uns trocados.

MULTA PARCELADA
Será que estou ficando ranzinza além da conta? Essa bobagem do Kennedy Nunes (PP), de querer parcelar multa parece igual àquela bobagem do Paulinho Bornhausen (DEM), que queria proibir que se fiscalizasse velocidade nas estradas.

E a defesa que o deputado faz do projeto é patética: “não se pretende premiar o infrator, já que se mantém o sistema de multas, mas apenas facilita-se o seu pagamento”.

É claro que facilitar o pagamento premia os infratores. Torna as multas mais fáceis de pagar, tira delas o poder coercitivo, o impacto no bolso, que é o órgão mais sensível do ser humano. Se passar (e é possível que passe, porque tem um monte de deputado com filhos e parentes cheios de multas), ninguém precisa mais aliviar o pé nem cuidar onde estaciona: se o guarda pegar, a gente depois paga em suaves prestações e pronto. Quá-quá-quá!

VANDALISMO SUPERIOR
Ainda sobre o caso da falta de segurança da UFSC, onde, entre outras coisas, orelhões foram depredados, o Carlos Andrade, leitor da coluna, faz um reparo ao meu comentário. Eu concentrei as suspeitas sobre as maldades em alunos da UFSC. Ele discorda e defende seus colegas:
“Na UFSC já fui roubado por um menino descalço, com um revolver, já fui atacado e levei muito chute e soco de uma gangue de muleques que não tinham mais de 14 anos. A UFSC precisa de segurança sim, mas não para prender quem vai pra lá estudar e sim pra quem vai, de fora, se esconder em um ambiente onde a lei não impera.”
MANGUE SOFRE...
Pra quem não entendeu direito a relação que fiz, entre o novo shopping e o mangue, transcrevo uns trechos de uma carta que o leitor Guilherme Pontes, que é estudante de Geografia mandou:
“Segundo a Ação Civil Pública impetrada no Ministério Público Federal, contra a empreendedora do Shopping Iguatemi, o aterro ali pode promover o confinamento de porções de manguezal, alterando a topografia e possivelmente dificultando a penetração das marés (o que proporciona um maior aporte de água doce no manguezal). Assim, será reduzida a salinidade do solo, podendo gerar uma situação insuportável para algumas espécies de animais nativos do manguezal”.
RIO SOFRE...
Ainda, do mesmo leitor:
“A cobertura vegetal nas margens dos cursos de água cumpre um papel fundamental no combate à sedimentação e ao assoreamento do leito do rio, porém, para construção de uma via de acesso lateral ao shopping, parte do leito foi completamente desmatado, comprometendo a normalidade do rio Sertão”.
Claro que a gente sabe que o mangue e os rios urbanos sofrem ataques de todos os lados (o maior deles, dos esgotos domésticos) e não há um responsável único pela degradação. Nem seria o caso de demonizar o shopping sozinho. Mas é bom aproveitar a oportunidade pra chamar a atenção do povo para o ambiente e sua fragilidade.

Entrevistinha com o Palhares
O Palhares, como todos sabem, é um canalha. Imortalizado pelo Nelson Rodrigues, que expôs com maestria toda a canalhice desse sujeito capaz de atacar a cunhada no elevador, o Palhares é um dos meus conselheiros preferidos. Sempre que tem um tema mais espinhoso, recorro a ele.

Ontem, na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, foi aprovado o pacote de segurança pública, nascido sob o impacto da morte daquele menino no Rio, arrastado por bandidos. Fui conversar com o Palhares, que não confia muito nas “autoridades”, para saber o que ele achou das decisões.

Tio Cesar – Palhares, o primeiro projeto permite a policiais e procuradores acesso a dados de criminosos, como endereço, telefone, estado civil e informações bancárias de acusados, sem a prévia autorização da Justiça. Isso é bom, não é?

Palhares – É ótimo... pra bandidagem. Todo dia a gente descobre que tem policial corrupto em todas as polícias. Pois então, imagina como esse pessoal vai ganhar dinheiro só levantando informações de todo tipo? A malandragem vai poder ir pros assaltos sabendo exatamente quanto o sujeito tem na conta.

TC – Mas não é só pra investigar bandido?

P – Tá, e meu nome é Papai Noel.

TC – Outra proposta destina recursos do Fundo Nacional de Segurança Pública para criar um sistema de rastreamento eletrônico de veículos de carga e de carros-fortes e para a instalação de bloqueadores de sinal de celulares em presídio.

P – Grande negócio pra quem tem empresa de rastreamento. Não é o Piquet que tem uma? E os bloqueadores de celular estão sendo usados pelos ladrões para evitar que as vítimas chamem a polícia. Na mão deles funciona, mas nas cadeias não tem jeito. Nunca funciona direito. Em todo caso, sempre que o governo resolve fazer grandes compras, a turma da propina bate palmas.

TC – Um terceiro projeto amplia a aplicação de penas alternativas. A legislação atual determina que o juiz pode substituir a pena de prisão por uma alternativa, desde que o réu tenha sido condenado a menos de seis meses de prisão. O projeto aprovado obriga (e não mais faculta) o juiz a substituir a prisão por pena alternativa para quem for condenado a menos de um ano de cadeia.

P – É, tá cada vez melhor. Daqui a pouco as duas pontas se encontram.

TC – Não entendi.

P – Presta atenção, mano: o final da pena está cada vez mais curto, com a tal “progressão”. Agora começaram a encurtar o começo da pena. Daqui a pouco as duas pontas se encontram.

TC – Um quarto projeto permite deduções do imposto de renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) para empresas que ofereçam trabalho para presidiários. O texto ainda precisa passar pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) antes de ser enviado para a Câmara.

P – Mais um grande negócio. É claro que as empresas não vão pagar um salário decente, mas vão vender os produtos pelo preço de mercado. Mão-de-obra barata, sem férias, que não entra na Justiça do Trabalho pra reclamar os direitos.

TC – A comissão votou também o projeto que aumenta de dez para 18 anos a pena prevista para crimes de lavagem de dinheiro. O texto ainda passará pelo plenário do Senado antes de ser remetido à Câmara.

P – Bobagem. A questão não é aumentar a pena. Pode ser dez, quinze ou 30 anos, dá na mesma. Malandro não fica mais de três ou quatro anos preso. Tem tanta brecha, tanto recurso, que essa história de mais tempo fica sendo só pra engambelar o eleitor.

4 comentários:

Anônimo disse...

Fui ao setor de vistoria do Detran da Capital na semana passada. Não pude deixar de reparar que quem controla a fila dos automóveis é um cidadão sem nenhuma ligação com o órgão, que vende extintores de incêndio em frente ao portão do galpão de vistorias. O sujeito e outro rapaz mais novo, atuam ali há uns 10 anos (pelo menos) provavelmente na informalidade. Não condeno o trabalho deles, que ganham a vida de maneira honesta. Mas daí a controlar o acesso dos automóveis ao pátio do Detran é demais. O órgão deveria destacar um funcionário para fazer isso, que não é lá muita coisa.

Não sei ao certo, mas parece que esta função é estratégica, aproximando o vendedor dos seus possíveis consumidores.

O interessante é que quanto estive lá, um deles distribuiu as senhas e até indicou a vaga que eu deveria ocupar na hora da vistoria.

Também não pude deixar de reparar na ação dos flanelinhas. Além do rapaz da foto, ainda tem um outro adolescente que também guarda carros no local.

Anônimo disse...

Sobre o Shopping:

O clicRBS noticiou na semana passada a mortandade de milhares de peixes em dois rios da região onde foi instalado o Shopping Iguatemi.

Eram filhotes, que provavelmente cresciam no rico ambiente do mangue.

O pessoal da Fatma ou Ibama, não lembro bem, coletou água para identificar as causas do desastre. A suspeita era exatamente o excesso de sal na água. Será que já é o primeiro impacto da construção do Iguatemi?

Anônimo disse...

E um pequeno comentário: que idéia é essa de usar dinheiro do Fundo Nacional de Segurança Pública para criar um sistema de rastreamento eletrônico de veículos de carga e de carros-fortes?

Vamos bancar o crescimento das empresas do setor e a segurança de todos os veículos de carga e carros-fortes de bancos privados do país?

O detalhe é que ainda sofro para pagar R$ 1 mil de seguro do meu carro. Agora, querem que eu pague rastreadores para carros que nem são meus. Tá bom...não faltava mais nada.

Anônimo disse...

Esse negócio de Shopping em mangue é conversa de quem não tem o que fazer. Ora, se os órgãos ambientais, o MP e a justiça liberaram o empreendimento, quem é o defecador de sentenças que vai questionar? Só a concorrencia mesmo. Então é só o Shopping que está em cima do mangue, ou o bairro Sta Mônica inteiro? Porque esses do contra, nada falam que a favela do siri está em cima de dunas? e tantas outras invasões. Da-lhe negada do contra, do atraso, do ranço, da preguiça, da hipocrisia. Vão trabalhar....