[Apesar das aparências, a foto acima não tem nada a ver
com os títulos e textos abaixo.] DESMORALIZAÇÃONeste nosso querido Brasil tem muitas coisas, pessoas e instituições desmoralizadas. Foram boas e úteis um dia, mas de tanto mau uso e abuso, acabaram perdendo a função e o respeito.
É o caso, por exemplo, das agências reguladoras. Tem coisa mais desmoralizada que a Anac? A agência que deveria colocar ordem na casa do transporte aéreo? Ou mesmo que a Anatel, que deveria manter as telefônicas na rédea curta e de quem as prestadoras de serviço deveriam morrer de medo?
Outra instituição desmoralizada é o direito de greve. Cruzar os braços, parar de trabalhar, deveria criar um fato grave e impactante. Deveria servir como um alerta gritado do alto da montanha e as autoridades e a comunidade reagiriam espantadas, como se estivesse para chegar a grande onda, o furacão, o terremoto.
A greve é uma ferramenta de uso complicado. Sempre se sabe como a greve começa e por que ela começa, mas em geral não se sabe como vai terminar nem por que terminará. Qualquer imbecil pode começar uma greve. Afinal, todo mundo gosta de tirar uns dias de folga. Mas, e depois?
SEM SENTIDODe tanto fazer greves sem sentido e tantas greves, a ferramenta se vulgarizou. Hoje o contribuinte não sente mais pena do professor estadual que suspende as aulas porque houve uma mudança no sistema de escolha de diretor. Só sente, na pele, os efeitos nocivos, não consegue enxergar os eventuais efeitos positivos, se é que existem.
Quem pena nas filas, quem volta pra casa sem a consulta, quem perde o horário, quem tem que se virar para acomodar os filhos que deveriam estar na escola, não consegue mais vibrar com a luta dos companheiros. Mesmo porque, em geral, o objeto da luta, não parece ser um beneficio coletivo. E às vezes não é mesmo.
É BOM PRA QUEM?A maior escola estadual do estado (que em algumas ocasiões dizem que é a maior da América Latina), o Instituto Estadual de Educação, em Florianópolis, está sem aulas (dizem que hoje tudo volta ao normal), porque a secretaria da Educação resolveu indicar um diretor e desconsiderar a escolha feita no ano passado. Uma luta política, por um princípio democrático de escolha.
Qual o benefício para alunos e pais de alunos? O senso comum informa que tanto faz: se continuar o diretor indicado pela secretaria, dificilmente a escola e o ensino melhorarão. Se for empossado o diretor escolhido pelo pleito do ano passado (sem amparo legal, mas aparentemente com o bleneplácito da gestão anterior da secretaria), também a escola e o ensino ficarão na mesma. Serão beneficiados, pelo menos com os louros da vitória, os grupos partidários do lado que ganhar. E o lado que perder se mobilizará para novas lutas, tentando dificultar a vida dos vencedores.
O aluno e o pai do aluno e a mãe do aluno, continuarão a fazer como a D. Mariza Lula: sonhar com o dia em que os filhos poderão ir viver em outro país, que lhes garanta o futuro. Porque aqui, neste gigante abobado, de tanto sol, praia e fartura natural, parece que ninguém está muito preocupado com o bem estar e a qualidade de vida do contribuinte. Dizem que estão, juram que só pensam nisso, mas na prática só têm olhos para seus próprios umbigos.
DE VOLTA AO BATENTEFiz uma greve, nos últimos dias, que não foi notada por ninguém. Afinal, não dirijo ônibus, não sou professor com ânimo para deixar alunos sem aula, não sou caixa de banco chateado com os lucros do patrão. Que eu trabalhe ou deixe de trabalhar, afeta pouquíssima gente. Talvez dê um pouco de trabalho para a diretora do jornal, que terá que chamar alguém para me substituir.
Dependendo de quem for chamado, os leitores nem notarão a diferença ou, pior pra mim, acharão que o jornal ficou melhor.
Ainda mais porque condicionei a minha greve ao atendimento de reivindicações que estão completamente fora de questão, hoje em dia. Cumprir a lei, punir administradores desleixados e administrar pensando no usuário dos serviços públicos é coisa tão distante da realidade que nem como piada serve.
Mesmo se eu tivesse feito greve de fome, com direito a reportagem no Fantástico e no Hélio Costa, se tivesse me amarrado nu a uma das colunas da ponte Hercílio Luz e fosse citado na CNN, nem assim alguém se mexeria para atender reivindicações tão fantasiosas. E essa fantasia, vejam só, é o desejo da maioria dos brasileiros.
DE PAPO PRO ARSaio da greve derrotado, sem ter ganho um centavo a mais no meu salário, sem ter conquistado uma secretaria municipal, muito menos estadual e nenhuma diretoria de estatal. Meu grupo político não conseguiu também ocupar o diretório de nenhum partido e certamente não elegeremos um único vereador no ano que vem, o que dirá um prefeito. Mas acho que consegui alcançar pelo menos um objetivo. Que infelizmente tem sido também o objetivo de tantos grevistas ultimamente: tirei uns dias de folga. E isto é o que interessa. O resto não tem pressa.
CHÓPIN NOVOOntem à noite fui à inauguração do Shopping do Mangue, digo, do Shopping Iguatemi da Madre Benvenuta, ou do Santa Mônica. Qualquer que seja o nome com que ele venha a ser conhecido, tem, como quase tudo, seu lado bom e seu lado ruim. O bom é a novidade, são os cinemas, novos ambientes e, principalmente, a concorrência ímpar (agora são três shoppings na ilha).
O ruim é o vício de origem, de ter sido construído sobre área tomada do mangue, sabe-se lá a que preço.
Quer dizer, os vereadores e empreendedores que nos idos do início da ocupação do lado de cá da Madre Benevenuta tiveram a idéia de avançar mangue adentro, talvez saibam.
ARTES E ELITESO Fábio Brüggemann perguntou, na sua coluna de sábado no Diário Catarinense, “Por que a elite não gosta de arte?” E para buscar uma resposta, analisou o comportamento da elite catarinense diante da arte local.
Diz ele que
“o desenvolvimento das artes, infelizmente, depende muito de uma elite que seja culta, porém desprendida de valores morais e burgueses. Se não há quem invista (e quem mais pode fazer isto se não a elite?), a arte se cobre de uma invisibilidade cruel aos artistas e a seus consumidores”. E entre os fatores que dificultam o relacionamento adequado daqueles que têm recursos (a elite) com a arte e os artistas, ele cita o exagerado apreço a tudo que é “de fora”. E aí transcreve um trecho daquele comentário que fiz aqui, criticando o governador LHS e seu entusiasmo com festivais italianos e escolas estrangeiras.
SEM FARRAAtravessei a temporada de farras do boi sem falar aqui sobre este assunto. No ano passado e em anos anteriores, aqui e em outros veículos de comunicação, sempre tocava, com maior ou menor entusiasmo, na farra.
Afastei-me do assunto porque me pareceu que a coisa ganhou novos componentes e um contorno diferente, mais adaptado aos tempos ilógicos e violentos em que vivemos.
A falta de razão e sensibilidade de um lado, ao que parece, contaminou o outro. E tudo agora não está muito longe de uma baderna sem sentido, onde como em toda baderna, quem sofre são os mais desvalidos.
Não vejo motivo para tratar o deprimente espetáculo montado por bêbados e imbecis, como se fosse uma tradição a preservar. Não há quase o que manter, cuidar e respeitar. A ignorância se encarrega de ir acabando com tudo.
3 comentários:
Tio Cézar, me explica uma coisa que até agora não entendi, e não vejo ninguém falar nada: durante a tal "reforma administrativa", rolou a conversa de que iriam cortar cargos em comissão. No final, de 500 que queriam cortar, cortaram uns 200 e pouco, me parece.
Mas enquanto a discussão era feita na ALESC, o Secretário de Educação criava muito mais "boquinhas", e, pasmem, não ouvi ninguém falar nada a respeito.
Será que não se deram conta que o Secretário de Educação criou quase 3 mil cargos de confiança?
Sim, pois se temos 1400 escolas do Estado, e em cada uma for nomeado um diretor e um vice-diretor, já teremos 2800 "boquinhas" novas.
Não sei direito como é essa estrutura, mas acho que são ainda mais os cargos a serem preenchidos "por critérios técnicos".
Com isso, eis que temos o Secretário de Educação com maior poder de caneta do que o próprio Luiz Henrique!!
É isso mesmo ou estou completamente enganado?
abraço!
Wladimir, até onde sei, os diretores eram sempre nomeados e seus cargos já constavam da lista de comissionados. Portanto, a novidade não seria a nomeação do diretor, e sim dar o cargo comissionado a alguém indicado pelo sindicato ou pelo grupo político que tenha conseguido vencer a eleição para o cargo. Em todo caso vou dar uma assuntada pra ver se é isso mesmo.
E sobre a mumunha que um anônimo (anônima?) levantou e cujo comentário apaguei (de novo): não tem novidade. Assim que tiver alguma coisa além de boato, eu publico.
Postar um comentário