quinta-feira, 2 de fevereiro de 2006

QUINTA

“QUEM TÁ PENSANDO A CAPITAL?”
O deputado federal Édison Andrino (acima), como político experiente, ex-prefeito e manezinho da Lagoa é um observador atento do que acontece na cidade. Conversei ontem rapidamente com ele e compartilho com vocês os pontos principais do bate-papo.

“NUNCA VI COISA IGUAL”
Perguntei ao deputado como estava vendo a invasão de ambulantes ilegais e irregulares na Ilha.

“Nunca chegou a este ponto”, disse ele. Andrino acredita que a prefeitura tem que agir logo no início, quando começam a aparecer, porque depois fica cada vez mais difícil segurar. Um vai contando para o outro, que a ciadade é fácil de “trabalhar” e acabam tomando conta.

PROBLEMA PERMANENTE
“Na Lagoa, não tem mais calçada pra andar, nunca tinha chegado ao ponto em que chegou hoje”, afirma. Quando foi prefeito, em 1985, Andrino começou a organizar e definir um local para os ambulantes, no que depois viria a ser o “camelódromo”.

Segundo Andrino, existe uma questão social que não pode ser ignorada, mas os comerciantes estabelecidos e a população da cidade também precisam ser respeitados. Por isso é importante que a prefeitura atue, verificando quem são os camelôs e controlando sua localização e atuação.

“A impressão que dá é que a Prefeitura largou de mão e agora não dá mais conta”, diz ele.

COLETIVO ENCRENCADO
Florianópolis precisa, com urgência, começar a pensar numa solução eficiente para o transporte coletivo. “Hoje, metade do orçamento municipal vai para o sistema viário, para tentar acomodar o trânsito de automóveis particulares, que cresce de 8 a 10 mil carros por ano”, afirma Andrino.

Metrô de superfície, transporte marítimo, ônibus, precisam fazer parte do sistema de transporte da capital, “mas é preciso planejar a médio e longo prazo e nisso estamos mal, não tem ninguém pensando a cidade”.

Andrino lembra que o governo federal, antes do Collor, ajudava as cidades com o Geipot e a EBTU (organismos federais que cuidavam do transporte urbano e planejamento das cidades) e agora falta uma política nacional para o transporte coletivo.

O PEPINO É GRANDE
O ex-prefeito sabe que o transporte coletivo é difícil de organizar. “A Ângela (ex-prefeita), a meu ver, se precipitou em instalar o sistema de transportes da forma como fez e o Dário (o autal prefeito) se precipitou ao dizer que em 30 dias abriria a caixa preta do transporte e resolveria o problema: agora tá com a bucha na mão”, diz ele.

A tarifa única, em vez de solução, pode ser um problema adicional: “acredito que, a esta altura, não dá mais para remendar o sistema integrado, talvez fosse melhor volta à estaca zero e começar de novo”, afirma Andrino.

Em todo caso, transporte coletivo deveria, segundo ele, significar redução de automóveis nas ruas e isso só vai acontecer quando for oferecida uma opção à altura, em termos de eficiência, economia e conforto: “para isso precisa planejamento e ação conjunta dos municípios com o governo federal, vontade política e muito trabalho”.

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O PITACO DO MOSQUITO
O eterno e lendário agitador político-cultural Amilton Alexandre (o Mosquito) mandou-me sua opinião sobre a tarifa única e o transporte coletivo. Transcrevo os principais trechos:
“A tarifa única, antes de ser uma medida de alcance social que tenha como objetivo acabar com a crise no transporte, traveste-se em mais um aumento abusivo de tarifas.

“Mais de 70% pagam tarifas entre R$ 1,55 e R$ 1,60. Como grande parcela da população de baixa renda não tem condições de adquirir o cartão eletrônico e paga em dinheiro, a tarifa única significa um aumento para R$ 2,00.

“Hoje existe a necessidade de integração do transporte em toda a região metropolitana, que possui tarifas abusivas, na faixa de R$ 2,85 a R$ 3,00. Estes moradores, sim, fazem a integração com os bairros de Florianópolis e estão excluídos das medidas tomadas pela Prefeitura. Exige-se uma solução global entre prefeitura e governo do estado. Precisa-se urgente uma política para os transportes, com discussão com toda a sociedade”.


MERCADO REABERTO
A ala incendiada do Mercado foi restaurada e volta a ser ocupada oficialmente a partir de hoje. Mas os problemas do Mercado não acabam com essa reforma. Ao contrário, ainda estão no começo.

A questão principal é a ocupação, que virou meio que uma coisa hereditária, de pai pra filho. E aquele imóvel, muito cobiçado, é um bem público. Não pode virar propriedade particular perpétua, mas também não dá pra simplesmente despejar todo mundo.

SINUCA DE BICO
Tem gente endinheirada, daqui e de fora, de olho e fazendo pressão para que os antigos ocupantes sejam despejados. Defendem “licitação já”, sonhando em arranjar um espaço, achando que vão conseguir repetir o sucesso do Box 32. Comerciantes experientes do mercado dizem que há uma grande chance desses novatos irem à falência em pouco tempo.

Um problemão para a prefeitura, que terá que administrar o choque de interesses e direitos. Os proprietários de boxes estão se prevenindo: contrataram um advogado de renome, estão pagando uma banana por mês para o tal escritório e esperam ser defendidos à altura.

ALA NOVA E ALA VELHA
Com uma ala reformada, a outra ficou ainda mais defasada. Tanto que, ao religar as duas redes de eletricidade, semanas atrás, deu um estouro e uma faiscada, assustando muita gente na ala velha. Depois, foi um fio da iluminação externa que entrou em curto ou coisa parecida, fazendo que os bombeiros fossem chamados.

A reforma da ala velha, agora, é uma necessidade ainda maior. Só que os comerciantes, mortos de medo, querem que a reforma seja feita em etapas, para que a ala não fique totalmente desocupada e alguém invente de exigir licitação para que voltem a ocupá-la.

REJUVENESCIMENTO?!
Ao falar sobre a entrega da obra no prazo e a participação do governo do estado na reforma do Mercado, o secretário regional de Florianópolis, Valter Gallina, disse que as outras obras também serão entregues no prazo: reformas da Catedral e do CIC e a construção do teatro Pedro Ivo, no Centro Administrativo.

Não satisfeito com essas afirmações temerárias, Gallina ainda inovou, chamando o que está sendo feito nas rodovias estaduais da Ilha, de “rejuvenescimento”. Eu não sabia que meia-sola, recapeamento ou tapa-buraco era sinônimo de “rejuvenescimento”.

A INDÚSTRIA DA CARNE
Tens internet? comes carne? moras em Santa Catarina? então dá uma olhada no “The Meatrix” (o nome é uma mistura, em inglês, de “meat” – carne – com o filme Matrix). O endereço é este: www.themeatrix.com/portuguese e embora seja falado em inglês, tem legendas em português.

Trata-se de uma historinha em desenho animado contra as condições “desumanas” de criação em larga escala de porcos, aves e gado para o abate, por grandes corporações empresariais. Como a gente produz bastante alimento de origem animal, acaba sendo bem interessante ver o filminho.

5 comentários:

Anônimo disse...

Caro, Aleluia! Hosana! Por Zeus! Então já se deram conta de que começamos a ingressar na estrada para o inferno motorizado? Viva! A solução para transportes urbanos não existe. Só existe soluções, no plural. No caso de Fpolis: ferries no norte e no sul, bondes elétricos modernos e silenciosos para trajetos curtos, trens atravessando a ilha... e a volta dos ônibus normais, com diversos tipos de linhas. Por último, mas bem último, investimento em asfalto (que não é o melhor investimento público em transporte). Em suma, não é nada que já não se saiba. Por que não se faz? Ah... Forte abraço, Rafael Azize (http://www.cidadedeflorianopolis.blogspot.com)

Anônimo disse...

Esqueci-me duma coisa: por que não juntar gente que sabe que ingressamos na estrada para o inferno motorizado e que estejam dispostas a IMPEDIR que se comecem a construir viadutos? Ou alguém tem dúvidas de que uma tal idéia já não começou a $$$ser urdida nos cérebros e bolsos da prefeitura? Estrategicamente, parece-me que é esta a nossa luta mais urgente no que se refere ao tema. Porque, quanto mais se desafogarem os gargalos de automóveis privados hoje, mais automóveis privados se incentivará que saiam das garagens amanhã. Batata. Olhem para as demais cidades brasileiras que cresceram dos anos 60 para cá e concluam. Abraço, R.

Anônimo disse...

Olá Cesar, o meatrix mostra apenas a ponta do icebergue. O Instituto Nina Rosa produziu um documentário muito interessante sobre o consumo e produção de carne. Me desculpe pela propaganda, mas acho importante este tipo de conscientização. O documentário se chama A Carne é fraca:
Alguma vez você já pensou sobre a trajetória de um bife antes de chegar ao seu prato? Nós pesquisamos isso para você e contamos neste documentário aquilo que não é divulgado. Saiba dos impactos que esse ato - aparentemente banal - de consumir carne representa para a sua saúde, para os animais e para o Planeta.

Mais informações aqui:
http://www.institutoninarosa.org.br/produtos.html

Anônimo disse...

Cesão .. enquanto os estúpidos não pararmos de eleger prefeitos comprometidos com empresas de ônibus, esqueça investimentos em ciclovias e coisas do gênero ...

Só não vou para o Centro de bicicleta porque não tenho como andar, nem onde largar, a magrela. Carro deveria mesmo virar adjetivo pejorativo, sinônimo de coisa ruim.

Em Firenze a prefeitura proibiu o trânsito no centro da cidade e deu início a um projeto que permitirá, em 10 anos, atravessar a cidade de bicicleta ... e ai da empresa de autobus que reclamar! Mas lá é lá e nós, quadrúpedes, nascemos para levar chicotada na bunda!

Anônimo disse...

Pedro, www.worldcarfree.net é um Café Central mundial para os que pensamos que a opção pelos carros é irracional. A vitória dos lobbies da GM e da Ford nos anos 50, cujos resultados sentimos até hoje, está bem contada no sexto episódio de "New York: A Documentary". Dito isto, que tal a gente juntar as pessoas aqui em Desterro mesmo para começarmos a pensar em como reagir? Afinal, não somos quadrúpedes nem nascemos para levar chicotada, ou andar a fugir de carros. Abraço, Rafael Azize.